Saturday, December 18, 2010

A experiência de um aprendiz leste-timorense de português L2


É com grande prazer que venho neste post divulgar a dissertação de mestrado do Sr. Domingos dos Santos, que foi defendida recentemente na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (FE - UnB).

Domingos dos Santos é um cidadão leste-timorense nascido em Balibar, distrito de Aileu, que possui como L1 a língua Manbae, e em situações de multilinguismo e aprendizagem formal possui conhecimento de várias outras línguas, como: Tetun Prasa, bahasa indonesia, inglês e português.

Sua pesquisa se destaca por possuir uma abordagem pouco comum do fenômeno do bilinguismo/multilinguismo. O autor faz uma análise do processo de aprendizagem do português L2 (ou seria L3?) em ambiente de imersão, em Brasília, Brasil, seguindo a metodologia da pesquisa etnográfica de cunho autobiográfico, ou seja, o autor foi registrando em diários reflexivos suas impressões (etnografia) e o passo-a-passo do seu processo de aprendizagem da língua portuguesa no Brasil (biografia). Esse trabalho apresent cotribuições notáveis em diversas áreas do conhecimento: compreende-se muito sobre o processo de aprendizado de língua portuguesa pelo falante leste-timorense; há diversas reflexões que se pode extrair de tal pesquisa a respeito das atuais teorias sobre aquisição e aprendizagem, assim como o bilinguismo e multilinguismo.  

Sua dissertação intitulada A experiência de um aprendiz de português como segunda língua em ambiente de imersão está disponível para download no seguinte link: http://biblioteca.fe.unb.br/pdfs/2010-11-241403Domingos.pdf.

Segue o resumo para aqueles que tiverem interesse: 

A adoção da língua portuguesa como língua oficial por países falantes de outros idiomas tem se tornado, em muitos casos, um entrave para a competência comunicativa dos pretensos usuários da mesma. E, em se tratando do uso do português no contexto escolar por estudantes e professores desses países, a situação pode complicar-se ainda mais. Assim, este estudo tem o objetivo de analisar e descrever o processo de desenvolvimento da competência comunicativa de um aprendiz, em língua portuguesa como Segunda Língua (L2) em ambiente de imersão. Para tanto, trabalhou-se com um estudante estrangeiro beneficiado pelo Programa de Cooperação entre o Brasil e o Timor-Leste (CBTL), estudante esse que vem a ser o próprio pesquisador. Assim, o estudo ancorou-se nos pressupostos do paradigma da pesquisa qualitativa, mas especificamente, nos pressupostos da pesquisa etnográfica de cunho auto-biográfico. As informações foram construídas a partir de instrumentos como a observação/monitoração, de protocolos de leitura, de glossários, da produção textual e do diário reflexivo. Desse modo, pesquisas como esta podem contribuir para um redirecionamento do trabalho didático-pedagógico concernente a alunos, participantes desse tipo de programa, que frequentemente são encaminhados às Instituições de Ensino Superior, para participarem dos diversos programas de Graduação e de Pós-Graduação que são oferecidos pelo Brasil. A pesquisa evidenciou que o registro da reflexão por meio de diários reflexivos se mostrou um recurso extremamente válido para o aprendizado e a ampliação da competência comunicativa do pesquisado, pois lhe permitiu tomar consciência dos processos cognitivos envolvidos na ampliação de sua competência comunicativa. Além disso, ficou claro que a reflexão sistemática e pontual sobre os episódios interacionais, a partir da imersão, contribui para a ampliação da competência comunicativa, ampliação esta particularmente facilitada pela descrição desse processo, o que foi determinante para que o pesquisador/pesquisado lograsse êxito como aprendiz do português brasileiro. Verificou-se, ainda, que o conceito abstrato de imersão se materializa em um conjunto de circunstâncias de interação que são favorecedoras do processo de aquisição. Ou seja, a imersão deve ser vista, não como uma condição abstrata, mas como uma condição que se torna concreta em situações reais nas quais o aprendiz participa.

Deixo aqui, então, registrado a divulgação e minhas congratulações pelo belíssimo trabalho a esse grande pesquisador e amigo que é o Sr Domingos dos Santos.

Friday, December 17, 2010

Professores de Português em Timor Leste


É com imensa satisfação que venho neste post divulgar o blog Professores de Português em Timor Leste http://profesdeptemtl.blogspot.com/. O blog consiste em um espaço para todos professores de língua portuguesa que atuam, ou atuaram, em terras leste-timorenses para compartilhar experiências, artigos e outros materiais publicados, divulgar trabalhos, atividades e eventos, e muitas outras coisas que envolvem a difícil tarefa do professor de português em Timor Leste.

Recentemente, nosso blog East Timor Linguistics: State of the Art foi divulgado lá, a ligação é http://profesdeptemtl.blogspot.com/2010/12/o-ensino-de-lingua-portuguesa-em-timor.html, juntamente com o artigo O Ensino de Língua Portuguesa em Timor-Leste: Variedades e Dificuldades que está disponível para descarregar nessa mesma ligação. 

O conselho de edição do blog Professores de Português em Timor Leste, que aceita contribuições dos profissionais da área, é composto por Carlos Ferreira, Carlos Severino, Leonel Lopes, Miguel Lopes e Nuno Almeida. Segue a mensagem deste conselho de edição:

"Convidamos todos a contribuirem com qualquer tipo de textos, materiais didácticos, trabalhos de alunos ou outros (a enviar para profesdeptemtl@gmail.com). Tentaremos publicar o que recebermos tendo em mente a pertinência para o ensino da LP em TL, considerando que o propósito deste espaço é fomentar o debate construtivo e sério, bem como o enriquecimento do trabalho de cada um. Nesse sentido sensibilizamos os colaboradores para a necessidade de se identificarem".

Fica aqui registrado nossa divulgação e nossos agradecimentos pela iniciativa e pelo belo trabalho que está sendo desenvolvido por esses professores, deixo aqui também um agradecimento especial ao Nuno Almeida. 


 

Thursday, December 09, 2010

O ensino de língua portuguesa em Timor Leste: variedades e dificuldades


Um novo artigo de minha autoria, intitulado O ensino de língua portuguesa em Timor Leste: variedades e dificuldades, foi publicado recentemente na Revista Interdisciplinar da UFS, segue o link para o download do arquivo: https://www.academia.edu/1750301/O_ensino_de_Lingua_Portuguesa_em_Timor_Leste_variedades_e_dificuldades.

Este artigo é a continuação de minha pesquisa sobre o ensino de português em Timor Leste que se iniciou neste ano de 2010 e os resultados preliminares foram apresentados no IX CONSIPLE, conforme comentei em post anterior: http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/10/o-conflito-entre-o-ensino-e-as.html.

O artigo baseia-se na experiência de ensino na UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosa'e) que tive durante os anos de 2008 e 2009. Além da discussão sobre a sala de aula e o ensino de língua portuguesa, abordo temas problemáticos sobre a repercussão política e os impactos socioculturais da atuação das diversas instituições de auxílio internacional em Timor Leste. Ainda, analiso algumas questões sobre as variedades da língua portuguesa faladas pelo mundo, enfatizando a variedade do Português de Timor Leste (PTL).

Wednesday, November 17, 2010

Outros recursos on-line!

Novos recursos on-line estão disponíveis sobre as línguas de Timor Leste. O primeiro deles é um trabalho de Avram intitulado An Overview of Reduplication and Compounding in Tetun Dili disponível no seguinte endereço: http://www.lingv.ro/resources/scm_images/RRL-04-2008-Avram.pdf. Como o próprio título informa, o artigo analisa os processos da morfologia derivacional do Tetun Dili, são eles: composição e reduplicação.

O segundo na realidade é uma série de links que estão disponíveis no Language Documentation Training Center da University of Hawai'i, Manoa. Lá há alguns recursos, como lista de palavras e algumas informações gramaticais, sobre várias línguas de Timor Leste, entre elas: Tetun, Manbae, Waima'a, Kemak (Ema) e Makasae. Segue o link geral com o índice de todas as línguas estudadas pelos membros desse centro: http://www.ling.hawaii.edu/~uhdoc/languages.html.

Portanto, para aqueles que estiverem interessados há mais recursos disponíveis na internet, além daqueles já listados por mim na lateral deste blog, assim como no decorrer dos posts anteriores.
    

Wednesday, November 10, 2010

Seminários de Pesquisa

O Seminário de Pesquisa do PPGL (Programa de Pós-Graduação em Linguística) da UnB (Universidade de Brasília), que se realiza toda sexta-feira, contemplará nesta semana, dia 12/11/2010, dois seminários sobre as línguas de Timor Leste, a saber: Aspectos linguísticos do Tetun Prasa: língua oficial de Timor Leste, Davi Borges de Albuquerque, e Aspectos preliminares da fonética e fonologia do Makasae, de Jessé Silveira Fogaça.   

O seminário intitulado Aspectos linguísticos do Tetun Prasa: língua oficial de Timor Leste, de minha autoria, apresentará a situação sociolinguística atual do Tetun Prasa e algumas questões de natureza variacionista também. Posteriormente, serão contemplados os níveis de análise linguística dessa variedade: será feita uma descrição do léxico tetumófono; a variação presente na realização dos fonemas, assim como o status fonológico de alguns sons; em relação à morfologia, procurarei enfocar nos processos de morfologia derivacional e reduplicação, explicando os processos que levaram à obliteração do sistema de morfologia flexional; e a sintaxe concentrarei minha exposição para descrever a estrutura dos principais sintagmas do Tetun Prasa.

Já o seminário Aspectos preliminares da fonética e fonologia do Makasae, de Jessé Silveira Fogaça, analisará, conforme o próprio título resume, os conceitos básicos da fonética e da fonologia da língua Makasae. O autor descreverá a fonologia segmental do Makasae, expondo quais sons possuem o status de fonemas, e quais são aqueles que possuem o status de fones, estando em algum tipo de variação. Após expor sobre a fonologia segmental, apontando os fonemas consonantais e vocálicos do Makasae, o autor analisará a estrutura silábica do Makasae, que possui uma alta frequência do padrão universal CV, sendo raro a ocorrência dos demais padrões. Destes demais padrões, há ocorrência somente de V e CVC.
Dessa forma, fica aqui registrada a divulgação dos seminários, assim como a divulgação também dos resultados preliminares das pesquisas que vem sendo desenvolvidas sobre as línguas de Timor Leste. Qualquer comentário ou sugestões dos leitores que possam contribuir  para o melhor conhecimento linguístico é muito bem-vindo...

   

  

Sunday, October 24, 2010

As variedades da língua Tetun


No I Congresso Internacional de Dialetologia e Sociolinguística, que aconteceu de 17 a 21 de outubro de 2010, em São Luís, apresentei um trabalho apresentando evidências sociolinguísticas para a classificação das variedades da língua Tetun.

A comunicação intitulada A língua Tétum de Timor Leste e suas variedades é um trabalho introdutório que procura analisar a língua Tetun seguindo a teoria da Sociolinuística Variacionista. No nível fonológico, verifiquei a ocorrência da oclusiva glotal, do glide /w/, e a variação na realização da oclusiva velar /k/, da fricativa labiodental /f/ e das consoantes palatais de origem lusófona nas diferentes variedades da língua. No nível lexical, verifiquei a ocorrência dos empréstimos lusófonos na produção oral e escrita do falante leste-timorense.

Ainda, no nível sociolinguístico as influências encontradas foram o grau de escolaridade, a língua materna, a idade e o sexo do falante. Como conclusão, apresenta uma proposta de dividir a língua Tetun somente em duas variedades: o Tétum-Térik e o Tétum-Praça, enquanto as demais subdivisões estariam em um nível hierárquico inferior ao nível das variedades, que chamei de subvariedades, como o Tétum-Dili, Tétum-Belo, Tétum-Fehan, entre outros.

Em breve este trabalho será publicado, e assim eu escreverei outro post ao leitor avisando sobre a publicação.

    

Monday, October 11, 2010

Alguns Agradecimentos!


Neste post apenas registro alguns agradecimentos a certas pessoas que nos ajudaram durante a vida profissional, acadêmica e pessoal, assim como alguma contribuição ao nosso blog.

Primeiramente, agradeço as contribuições recentes de João Paulo Esperança, que além de possuir publicações importantes sobre linguística de Timor Leste, forneceu para o nosso blog importantes comentários aos posts. Uma linguista que contribui de maneira significativa também com seus estudos linguísticos e em comunicações pessoais comigos via e-mail é Catharina Williams-van Klinken.

Os vários colegas e alunos leste-timorenses, que me ensinaram pacientemente suas línguas, fornecendo traduções, tirando dúvidas etc. Entre eles, posso citar Domingos dos Santos e sua esposa Judite, Eugênia Neves, Manuel Ferreira, Nuno Gomes, e os vários alunos da UNTL, como: Santiago, Mário, Domingos, Natalino, Teresa, Terezinha.

Aos professores (qua atuaram em Timor Leste) e amigos João Cleto e Jessé Fogaça, que fornceram a mim várias ideias e bibliografias fundamentais de difícil acesso.

Finalmente, a família é deixada por último, mas é a mais especial. Fica aqui registrado o mais profundo agradecimento a minha mãe, Profa. Elizabete, e a minha noiva, Profa. Aurelie.

Um muito obrigado a todos esses mencionados aqui, que de alguma forma contribuíram para a contrução do conhecimento!

   

Saturday, October 09, 2010

O conflito entre o ensino e as variedades da língua portuguesa em um país em reconstrução: o caso de Timor Leste


Recentemente, discuti as dificuldades enfrentadas pelo professor de língua portuguesa em Timor Leste, assim como os métodos e o material didático utilizados em sala de aula. Ainda, mencionei também os conflitos entre as variedades do português existentes no ensino da língua.

Essa discussão foi apresentada em forma de comunicação no IX Congresso da Sociedade Internacional Português Língua Estrangeira (IX CONSIPLE) realizado de 6 a 8 de outubro na Universidade de Brasília (UnB).

A comunicação intitula-se O conflito entre o ensino e as variedades da língua portuguesa em um país emreconstrução: o caso de Timor Leste e o resumo está disponível no caderno de resumos no seguinte endereço: http://www.siple.org.br/images/2010/ix_congresso/Cadernoderesumosrevisado1.pdf

Por motivos de praticidade reproduzo também o resumo abaixo:

Resumo: "A língua portuguesa é a língua oficial de Timor Leste, juntamente com a língua Tétum, em sua variedade Tétum-Praça, desde a constituição de 2002. As dificuldades de ensino, porém, permanecem até hoje por diversos fatores, entre os principais podem ser citados: uma política linguística por parte da coroa portuguesa que limitava o ensino de língua portuguesa somente aos régulos tribais leste-timorenses e seus descendentes, que se estendeu desde o século XVI ao século XIX; uma invasão indonésia recente, de 1975 a 1999, que proibiu o uso da língua portuguesa; a presença portuguesa efetiva no território sempre ter sido irrisória, reduzida a apenas alguns cidadãos portugueses".

"Nesta comunicação serão analisados pontos distintos que envolvem o ensino de língua portuguesa em Timor Leste. Primeiramente será discutido o contexto histórico da língua portuguesa em Timor Leste. Em seguida, será analisada a situação linguística atual do ensino de português, procurando identificar algumas dificuldades do ensino e os fatores que as causam. Ainda, algumas considerações sobre o planejamento linguístico dos últimos anos do governo leste-timorense serão feitas, pois esse planejamento linguístico possibilitou o conflito existente sobre as variedades da língua portuguesa ensinadas, já que há professores de diversas nacionalidades ensinando português, entre essas nacionalidades destacam-se a atuação dos professores portugueses, brasileiros, lestetimorenses, e até de países não lusófonos, como Cuba".

Friday, October 08, 2010

Elementos para o estudo da ecolinguística de Timor Leste

Na mais nova edição da revista Domínios de Lingu@agem, v. 7, 2010, está publicado um artigo de minha autoria intitulado Elementos para o estudo da ecolinguística de Timor Leste. Este artigo é apenas o resultado preliminar e inicial das pesquisas ecolinguísticas que comecei a realizar sobre Timor Leste.

Ele faz uma introdução sobre o conceito de ecolinguística que me baseio, assim como os princípios de análise que utilizo dessa aboradagem. Em seguida, o artigo discorre sobre a população (P), o território (T) e as línguas (L) de Timor Leste. Esses elementos população (P), o território (T) e a língua (L) são considerados por Couto (2007) como a Ecologia Fundamental da Língua. Depois, analiso brevemente o que já foi publicado sobre ecologia das línguas de Timor Leste. A conlusão do artigo deixa em aberto o espaço necessário para estudos específicos vindouros que esgotem as subáreas distintas da ecolinguística e também as pesquisas futuras que serão feitas.


Referência:

Couto, H. Ecolingüística: estudo das relações entre língua e meio ambiente. Brasília: Thesaurus, 2007.


Friday, September 24, 2010

Evidências de contato linguístico em Galolen


Em um post anterior, intitulado Palavras inicias sobre o status do Galolen no século XIX
(http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/04/palavras-iniciais-sobre-o-status-do.html),
comentei a respeito da língua Galolen, língua materna de origem Austronésica com seus falantes localizados principalmente no Distrito de Manatuto,  e uma mudança em seu status sociolinguístico que ocorreu durante o século XIX. A modificação desse status deu-se por vários fatores, entre eles: os portugueses serem expulsos da capital Lifau (atual Oecussi) em 1769, os freis dominicanos terem se estabelecidos em Manatuto e elaborarem vários estudos e traduções em língua Galolen. Para uma lista completa dessa documentação, ver Sá (1961).

Esses acontecimentos históricos foram notáveis, pois além da língua Tetun somente o Galolen sofreu algum tipo de ascensão sociolinguística no cenário colonial. Tal processo interessa aos estudos linguísticos por vários motivos.Um deles consiste nos estudos dos contatos linguísticos sofridos pelo povo falante de Galolen e as repercussões que esses contatos tiveram na língua.

Dalgado já no início do século XX (Dalgado 1936) já havia identificado na língua Galolen mais de 400 palavras de origem portuguesa, consultando a documentação do Pe. Manuel Maria Alves da Silva, elaboradas entre os anos de 1888 e 1905. Hull (2002) observara também que o povo do Distrito de Manatuto possui uma cultura voltada para o mar, fazendo com que esse povo sofresse contatos desde tempos anteriores a chegada dos portugueses. Tais evidências encontram-se presentes na maior parte do léxico da língua, que possui uma série de campos semânticos especializados em relação à pesca, navegação, comércio, alimentação etc. O mesmo foi constatado por mim em meu artigo introdutório sobre as línguas de Timor Leste (Albuquerque 2010), intitulado As línguas de Timor Leste: Perspectivas e Prospectivas, comentado no post anterior (http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/09/as-linguas-de-timor-leste-perspectivas.html).     

Continuando minhas investigações sobre esses contatos, verifiquei evidências na documentação citada acima de Sá (1961) de que havia uma certa quantidade de indivíduos de origem indo-portuguesa, consequentemente falantes de alguma variedade do Crioulo Indo-Português, trabalhando em certas propriedades em Timor Leste cujos donos eram portugueses. Ainda, em Castro (1943) o autor elenca no decorrer de seu livro uma série exemplares da flora, da alimentação e de outros itens da cultura material trazidos de Goa para Timor Leste e esses conceitos foram incorporados ora pela língua Galolen, ora pela língua Tetun. Entre esses itens há: flores de sapato 'tipo de planta que se usa para extrair uma tinta preta', cabaia 'tipo de vestimenta longa usada pelos homens', enrotar (e suas variantes) 'consertar cadeiras e sofás; tipo de palmeira', bidos (em Goa guidos) 'dança dos cristãos', sarasa 'traje específico das mulheres', ghi 'manteiga da Índia'.

Dessa forma, pode-se concluir que houve um contato maior entre os falantes de Crioulo Indo-Português com o povo Galolen. As evidências lexicais apontadas acima ainda são iniciais e provisórias para se afirmar mais a respeito da natureza desse contato analisado brevemente aqui. Porém esses são passos iniciais que já estão sendo dados em direção a um melhor conhecimento da situação de contato de línguas em Timor Leste.  

P.S. Fiz uma correção no texto, conforme João Paulo Esperança sugeriu-nos. Tais sugestões encontram-se também nos comentários. Agradeço muito ao colega João Paulo pela contribuição!

Referências:

Albuquerque, D. B. 2010. As línguas de Timor Leste: Perspectivas e Prospectivas. Língua e Literatura 27: 313-335.

Castro, A. O. 1943. A ilha verde e vermelha de Timor. Lisboa: Agência Geral das Colônias.

Dalgado, S. 1936. Influence of Portuguese Vocables in Asiatic Languages. Barado: Baptiste Mission Press.

Hull, G. 2002. The Languages of East Timor. Some basic facts. Disponível em:

Thursday, September 23, 2010

As línguas de Timor Leste: Perspectivas e Prospectivas


Recentemente, publiquei um artigo na revista Língua e Literatura da USP. O artigo intitulado As línguas de Timor Leste: Perspectivas e Prospectivas oferece ao leitor um panorama atualizado das línguas de Timor Leste, elaborado com base em diversas visitas pelos distritos leste-timorenses durante o período de  agosto de 2008 até maio de 2009. O único artigo que tenho conhecimento que oferece um breve panorama sobre as línguas de Timor Leste é de autoria de Hull (2002).

O artigo oferece também oferece, além das informações linguísticas sobre algumas línguas, números de falantes e considerações sobre a ecologia das línguas, alertando a respeito das línguas em riscos de extinção e da necessidade da formação da linguística leste-timorense.  

Segue o Abstract:

The present paper intends to present to the Brazilian reader an introduction to East Timor linguistics studies. In that case, it will be briefly discussed East Timor spoken languages with its genetic classification (sec. 2), followed by some historical information (sec.3). Finally, I argue that only a few researches on East Timor languages have been elaborate, and there are a lot of studies that should be conducted on different linguistics areas.


O artigo pode ser lido e baixado (em uma versão pré-final) pelo meu perfil no Academia.eduhttps://www.academia.edu/2121388/As_linguas_de_Timor_Leste_perspectivas_e_prospectivas.

Referência:

Albuquerque, D. B. 2010. As línguas de Timor Leste: Perspectivas e Prospectivas. Língua e Literatura 27: 313-335.

Hull, G. 2002. The Languages of East Timor. Some basic facts. Disponível em:


Tuesday, August 10, 2010

Peculiaridades prosódicas do Português falado em Timor Leste

As línguas nativas faladas em Timor Leste não são as únicas espécies que ainda estão a ser estudadas, o português falado pelo cidadão leste-timorense vem revelando, segundo minha análise, diversas informações importantes para o estudo de contato, aquisição e variação da língua portuguesa pelo mundo.

No primeiro artigo que produzi sobre a variedade da língua portuguesa falada em Timor Leste, que chamo apenas de Português de Timor Leste, ou PTL, intitulado Peculiaridades prosódicas do Português falado em Timor Leste, discorro sobre algumas propriedades fonético-fonológicas únicas do PTL, o que já é evidência sufuciente para classificar as realizações linguísticas do falante leste-timorense como uma variedade própria e não erros ou problemas de aprendizagem, como vem a ser feito pela grande maioria de professores e/ou linguistas residentes no país.

Seguem abaixo o link para o download do artigo que foi publicado na ReVEL e o resumo do artigo:

Resumoo presente artigo tem o objetivo de apresentar evidências prosódicas para comprovar a existência de uma variedade da língua portuguesa falada em Timor Leste. Para tanto, o artigo apresentará também informações sócio-históricas do contato lingüístico sofrido pelo português na Ásia no decorrer do período da colonização. As chamadas “peculiaridades” são vistas aqui como traços particulares da gramática desta variedade do português.



Sunday, July 11, 2010

Sobre as consoantes palatais em Tetun Prasa


As consoantes palatais não fazem parte do inventário fonológico das línguas de origem austronésicas. Nas línguas de Timor Leste, elas são de origem lusófona e entraram somente através dos empréstimos lexicais para o Tetun Prasa, e, por sua vez, do Tetun Prasa para as demais línguas.

Em uma análise fonológica recente que fiz do Tetun, seguindo uma abordagem ecolinguística (Albuquerque, em preparação), verifiquei que essas consoantes palatais, a saber: ʃ, ʒ, nhlh (não consegui formatar as duas últimas fontes do IPA para o blog, por isto represento pela grafia), não são produtivas na língua, não aparecendo em nenhuma palavra nativa, assim como não são realizadas pelo falante leste-timorense.

Os fones palatais, como classifico-os, ʃ, ʒ, nh e lh são realizados /s/, /z/, /n/ e /l/ respectivamente. Dessa forma, limitam-se ao léxico lusófono emprestado e relativo a conceitos culturais e modernos exteriores à cultura tetumófona, como em vocábulos:

xá, xapeu, xave;
janela, justisa, jornál;
bañu, señór, viziñu;
evanjellu, jullu, relijiaun.

Logo, não há evidências linguísticas suficientes para classificá-los como fonemas que fazem parte do inventário fonológico da língua Tetun, em sua variedade Tetun Prasa, ou Tetun Dili, como vem sendo feito na recente tradição gramatical do Tetun Prasa: Hull (2002), Hull e Eccles (2001) e Williams-van Klinken, Hajek e Nordlinger (2002).

Referências: 
 
ALBUQUERQUE, D. B. (em preparação). Ecofonologia da língua Tetun: um caso de contato e adaptação.   
 
HULL, G. 2002. Dili Tetum. Sydney/Dili: Sebastião Aparício da Silva Project/Instituto Nacional de Linguística/Universidade Nacional de Timor Lorosa’e.
 
HULL, G.; ECCLES, L. 2001. Tetum Reference Grammar. Sydney/Dili: Sebastião Aparício da Silva Project/Instituto Nacional de Linguística/Universidade Nacional de Timor Lorosa’e, 2001. (Tradução para o português: Gramática da Língua Tétum. Lisboa: LIDEL, 2004).
 
WILLIAMS-VAN KLINKEN, C., HAJEK, J. e NORDLINGER, R. Tetun Dili: A grammar of an East Timorese language. Canberra: Pacific Linguistics, 2002.
 

Saturday, June 26, 2010

Terminologia linguística e gafes!!!

Como afirmei no post anterior http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/06/hau-koalia-tetun-eu-falo-portugues.html, discorrerei brevemente sobre alguma terminologia linguística a respeito de nomenclaturas como: dialeto, variedade, "língua primitiva", entre outras que são importantes para o estudo ou para o simples conhecimento das questões relativas à língua em Timor Leste.

A definição de língua na linguística é um tanto controversa, já que depende muito da abordagem, metodologia e corrente teórica que o linguista segue, assim como que aspectos das línguas ele pretende investigar. Daí surgem diferentes conceitos de língua, dependendo de quais perguntas (qual investigação) são feitas! Mas, posso afirmar, grosso modo, que a língua é um sistema convencional de certos símbolos portadores de significados com o objetivo de proporcionar a comunicação entre indivíduos inseridos dentro de um espaço geográfico específico e que compartilhem certos aspectos culturais.

Dialeto e variedade são conceitos muito próximos, muitas vezes intercambiáveis. Dialeto trata-se simplesmente de uma variedade regional de uma língua específica, que acaba por se diferenciar ligeiramente na fonologia e no léxico principalmente, como exemplo há a própria língua portuguesa que pode ser considerada a existência de um dialeto brasileiro, um dialeto ibérico etc., o inglês com o dialeto britânico, o dialeto norte-americano, o dialeto australiano, e assim sucessivamente. Ainda, o termo dialeto pode ser aplicado também para um tipo de falar específico a alguma classe social, ou comunidade.   

Dessa forma, não existe nenhuma relação da palavra dialeto como ela é empregada no senso comum com o sentido de "língua primitiva", "língua menor", "forma de falar diferente" etc. Estes na realidade são pré-conceitos de pessoas desinformadas que não conhecem a ciência das línguas, tão pouco se informam antes de falar ou emitir opiniões errôneas, que muitos acabam por seguir e repetir. A linguística ao investigar as línguas indígenas pelo mundo - línguas nativas da América, África, Ásia e Oceania - comprovou que essas supostas "línguas primitivas", "dialetos", entre outros, como costumam a ser chamados, são muito mais complexas que as línguas indo-européias da atualidade, como o português, inglês, alemão, francês e várias outras. Thurston (1979) forjou os termos línguas esotéricas e línguas exotéricas que esclarece essa questão de maneria exemplar. As línguas esotéricas são línguas de alta complexidade estrutura, pois são usadas somente pelos indivíduos da mesma comunidade para se comunicarem entre si, como é o caso das línguas indígenas pelo mundo, já as línguas exotéricas são línguas menos complexas utilizadas para comunicação entre povos de mesma cultura e de diferentes culturas também, como é o caso de nossa língua e outras similares indo-européias. 

Vale lembrar, ainda, que língua franca é uma língua utilizada para comunicação entre diversos povos em siutação estável (sem nenhum com status superior a outro) que possuem línguas diferentes que impossibilitam o processo de comunicação, o caso de Timor Leste esta língua é a variedade Tétum-Praça.

Finalmente, o termo língua oficial consiste em língua, ou línguas, reconhecida(s) pelo Estado a ser utilizada pela comunidade para desempenhar todas as funções jurídico-administrativas e exercer a cidadania em geral, como ter acesso a educação, saúde, emprego, segurança etc. Em Timor Leste há duas línguas oficias: a língua portuguesa e o Tétum (a variedade Tétum-Praça). Língua de trabalho são línguas, ou língua, também reconhecida(s) pelo estado a ser utilizada somente em tarefas burocráticas principais (por isso chamada de "trabalho") como uma opção em comunidades multilíngues onde o falante pode não ter acesso, ou não conhecer, a(s) língua(s) oficial(is) do Estado. Em Timor Leste as línguas de trabalho são inglês e o bahasa indonesia.  

Fica aqui registrado minha indignação em relação a qualquer estudioso que por desconhecimento, falta de informação ou preconceito empregue os termos aqui citados de forma imprópria, pois isto somente tem o objetivo de prejudicar tanto a linguística per se, quanto denegrir os povos autóctones espalhados pelo mundo. Ainda, aqueles que não conheceme desejam ficar sem conhecer e ficam falando "coisas impróprias" por aí (ou seja, falando besteiras!) procurem evitar tantas gafes também, pois isso ficará feio (para não falar, ou escrever, outras palavras!) para quem as fala! Disso pode ter certeza!!! Já para aqueles que desejam se informar, recomendo a leitura de obras introdutórias à linguística e a consulta a dicionários como Crystal (1980) e Dubois (1995).

Referências:

Crystal, D. 1980. Dicionário de lingüística e fonética. Rio deJaneiro: Zahar.
Dubois, J. et al. 1995. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix.
Thurston, W. 1979. Processes of change in North-Western New Britain. Canberra: Australia National University. 


Friday, June 18, 2010

Ha'u Ko'alia Tetun! Eu Falo Português!


O livro intitulado Ha'u Ko'alia Tetun! Eu Falo Português! de autoria do Prof. João Cleto do Nascimento é um livro didático para ensinar o Tétum-Praça para falantes lusófonos (a capa da obra encontra-se ao lado) com um prefácio de minha autoria.

Esta obra merece destaque por vários motivos, entre eles: é o primeiro material sobre Tétum (ou qualquer outra língua de Timor) lançado em português do Brasil; nos últimos foi a única obra didática lançada em língua portuguesa; foi fruto de um projeto do autor de ensino de língua Tétum para estrangieros, ainda em andamento nos dias atuais.

No Brasil, as únicas obras publicadas sobre Timor Leste concentram-se em sua maioria nos estudos políticos que defendem certos interesses ideológicos que não valem a pena ser mencionados, assim como não é o objetivo deste post!

Já se falarmos sobre livros didáticos sobre a língua Tétum, em sua variedade Tétum-Praça, o livro mais recente é de Hull (1996), que ensina Tétum-Praça como língua estrangeira para falantes anglófonos. A única fonte anterior para o ensino de Tétum para falantes lusófonos é de Fernandes (1937). Desta maneira, podemos perceber que somente após mais de 70 anos é que surgiu uma fonte atualizada de referência para o ensino de Tétum-Praça para falantes lusófonos.

Vale mencionar também que o Prof. João Cleto do Nascimento reside em Timor Leste desde 2008 e está engajado em um projeto de ensino e elaboração de materiais didáticos sobre o Tétum-Praça. Ainda, como muitas atividades culturais e científicas de valor no Brasil, este projeto é particular do autor que somente recebe apoio institucional de vez em quando!

Recomendo a todos interessados em Timor Leste, em estudos linguísticos e em ensino de línguas a leitura do livro Ha'u Ko'alia Tetun! Eu Falo Português!

No próximo post eu darei uma breve explicação que parece muito pertinente para as questões linguísticas de Timor Leste sobre a terminologia relacionada à língua, dialeto, 'língua primitiva' (seja lá o que isso for...), língua franca, língua nacional, língua oficial e língua de trabalho.

P.S. Acrescento aqui a referência de Hull (2001), conforme João Paulo Esperança gentilmente sugeriu ao nosso blog, no comentário desse post. 
     
Referências:

Fernandes, A. J. (1937) Método prático para aprender o Tétum. Macao: Escola Tipográfica do Orfanato de Macau.

Hull, G. (1996) Mai kolia Tetun: a beginner's course in Tetum-Praça: the lingua franca of East Timor. North Sydney: Australian Catholic Relief and the Australian Catholic Social Justice Council.

_____. (2001) Manual de Língua Tétum para Timor Leste. Wollongong: University of Wollongong. 134p.

Thursday, May 27, 2010

Dili Institute of Technology website



A good website with available publications for download, a lot of usefull information on Tetun, and Tetun language courses for foreigners, in Dili. The link http://www.tetundit.tl/ will be available also at the left section of this blog Important Papers and Related Resources.  

Dili Institute of Technology is headed up by Catharina Willians-van Klinken, who has a list of several linguistic papers on Tetun-Praça and Tetun-Fehan varieties, several of them are available, as mentioned above, at the website section called Publications. There can be found didactic books as vocabularies, language manuals and course book, and linguistics articles related to Tetun registers, among others.

So, I invited everyone to check it out this website and see the good things for yourselves!!! 

P.S. Latelly, my posts are a little slow and I won't updated too much things! But I promise everyone that soon I will come back with more posts and with good stuffs as well!!!

    

Thursday, April 29, 2010

Reestruturação gramatical e as línguas de Timor Leste


As línguas de Timor Leste, além de mal descritas, também apresentam problemas em relação a suas origens e os processos de mudança linguística que sofreram. Muitas vezes são referidas como crioulos (Ethnologue 2009) e até pidgins (Hagège 2002 apud Hajek 2007), e os processos de mudança linguística como 'processo de crioulização' (Hull 2001). Em um trabalho recente, que apresenta um resultado preliminar de minhas pesquisas sobre o contato de línguas em território leste-timorense (Albuquerque 2010), há evidências suficientes para não usar tais termos citados acima, assim como se argumentar a favor da reestruturação parcial de algumas línguas de Timor Leste.

Dois modelos teóricos que são aplicáveis, em um primeiro momento, às línguas de Timor Leste são o de 'aquisição não-nativa' de McWhorter (2007) e o já mencionado 'reestruturação parcial' de Holm (2004). Mas, no entanto, exsitem poucos dados sobre a sócio-história dessas línguas, assim como poucas são as descrições linguísticas disponíveis.

Atualmente, debruço-me sobre este problema, procurando informações sobre a sócio-história das línguas de Timor Leste e também dados linguísticos para verificar nos contatos possíveis adstratos, superestratos e substratos e suas respectivas influências uns nos outros.  

Referências:

Albuquerque, D. B. Contatos lingüísticos em Timor Leste: mudanças e reestruturação gramatical. Comunicação apresentada ao VI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares, Salvador, 2010.

Hagège, C. 2002. Morte E Rinascita Delle Lingue. Milão: Feltrinelli.

Hajek, J. 2007. Language Contact and Convergence in East Timor: The Case of Tetun Dili”. In A. Aikhenvald & R. Dixon (eds.). Grammars in Contact: A Cross-Linguistic Typology, p. 163-178. Nova York: Oxford University Press.

Holm, J. 2004. Languages in Contact. The Partial Restructuring of Vernaculars. Cambridge: CUP.

Hull, G. 2001. A Morphological Overview of the Timoric Sprachbund. Studies in Language and Culture of East Timor 4: 98-205, 2001.

Lewis, P. (ed.). Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas: SIL International, 2009. Versão online: http://www.ethnologue.com/

Mcwhorter, J. 2007. Language Interrupted: Signs of Non-Native Acquisition in Standard Language Grammars. Nova York: Oxford University Press.

Tuesday, April 20, 2010

Um blog de Linguística Cognitiva


Neste post, tenho objetivo de divulgar um novo blog de interesse da comunidade acadêmica, especialmente aos linguistas que acompanham este nosso blog de Linguística de Timor Leste.

O blog chama-se Cognitiva na Veia e é gerenciado pelo linguista Paulo Jefferson Pilar, doutorando da Universidade de São Paulo - USP, e o link é o que segue:
http://www.cognitivanaveia.blogspot.com/.

Fico muito feliz por essa iniciativa que, em minha opinião, deveria ser mais comum em nosso país, assim como nas diferentes sub-áreas da pesquisa em linguística. A minha postura em relação ao conhecimento é que este deveria ser divulgado e de fácil acesso para um grande número de pessoas. Isto, porém, não vem acontecendo, já que é cada vez mais comum a prática de concentração de conhecimento nas mãos de poucos e também outra prática nociva é a retenção de material e informação.

Então, ficam aqui meus agradecimentos ao linguista Paulo, juntamente com minhas congratulações e disponibilidade a esta bela iniciativa!
  

Monday, April 19, 2010

Equívocos e hipocrisias em abordagens de outras culturas!!!


Em um post recente sobre o programa Globo Ecologia ter Timor Leste como seu tema mencionei uma entrevista do repórter e comentei também sobre o despreparo e o desconhecimento que ronda a televisão e outros meios midiáticos.
(http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/04/programa-globo-ecologia-em-timor-leste.html)   

Em um comentário a esse post, uma visitante de nosso blog tocou em uma questão interessante: como se aborda uma outra cultura. Ela fez o seguinte comentário (que reproduzo com sua autorização, caso não seja possível e queira retirar tal comentário, por favor, me avise):
   
São cada vez mais comuns, expressões como: “É uma história muito bonita, uma lenda, muito interessante, que revela uma cultura muito forte. ” ou “É um país pequeno, mas muito rico culturalmente”. Questiona-se, em princípio, se um território que se autoidentifica como Nação, seja ela qual for, tem culturas mais fortes e mais ricas. Se há intenção de elevar a Nação em paridade com outras, isto não ocorre, visto que dá margem à interpretação que possam existir culturas fracas e pobres.  

Além de ter sido mencionado o problema de se elevar uma cultura a um status superior, o que leva ao equívoco de se pensar que há culturas que sejam inferiores,  há outros problemas que considero sérios em relação a tal tipo de comentário e-ou abordagem de uma outra cultura. Entre eles menciono a hipocrisia que procura mascarar as misérias do mundo, no caso de Timor Leste a "cultura rica" está definhando por causa de disputas internas e pela desastrosa atuação internacional que é considerada como a salvadora de Timor Leste. É claro que a ajuda internacional de algumas entidades propiciou o desenvolvimento do país, mas atualmente ocorre o que eu chamo de elogio à pobreza: diversos estrangeiros que ganham salários milionários são elevados à imagem de verdadeiros heróis de Timor Leste simplesmente pelo fato de sua posição privilegiada social e financeiramente. Sem mencionar que muitos funcionários estrangeiros com esses salários milionários estimulam a economia do país (eu mesmo no período de 2008 e 2009 que morei em Timor Leste vi muito!!!) investindo nas pricinpais áreas do desenvolvimento econômico: boates, bebidas e prostituição!!!! Então, se a população leste-timorense é educada com o estrangeiro simplesmente o faz pelo fato de querer sair da pobreza que o país se encontra, mas isto é mascarado através de discursos hipócritas.

Ainda, tenho algumas palavras sobre a "cultura rica" de Timor Leste, que nada mais é do que um conjunto de traços da cultura material e imaterial de origem Austronésia que se encontra presente nas ilhas vizinhas, principalmente às pertencentes a Indonésia, como Larantuka, Molucas etc., e que possui ligeiras modificações devido ao fato de algumas ilhas terem sido povoados em períodos distintos, assim como umas apresentam ainda uma presença de origem papuásica e outras não. Como mencionei acima, tal cultura vem se perdendo por um conjunto de fatores (não culpo apenas a política internacional, já que a própria população nativa também é culpado). Termino este post citando o livro da antropóloga E. Traube (1986) que viveu entre os Mambae e analisou os rituais desse povo leste-timorense no início da década de 80 do século XX; naquela época ela chamou atenção, no prefácio de seu livro, para o fato de alguns povos já terem perdido seus traços culturais, pois queriam se tornar "civilizados" ou "urbanizados", como é o caso de Manatuto.

Para todo este problema não tenho uma solução, pois acho que não há e não depende somente de mim. O que venho deixar aqui registrado são alguns equívocos e a hipocrisia mencionados e me posicionar contra eles, fornecendo como uma solução parcial para isso que as pessoas sigam somente o bom senso! O que já é pedir demais...

Referência:

Traube, E. 1986. Cosmology and Social Life. Ritual Exchange among the Mambai of East Timor. Chicago: University of Chicago Press.  


Sunday, April 18, 2010

Palavras iniciais sobre o status do Galolen no século XIX


A língua Tétum sempre teve destaque na historiografia portuguesa a respeito de Timor Leste, tanto através de referências diretas, quanto de referências indiretas. Muitas dessas referências à língua, aos reis tetumófonos - como o rei de WeHali e o rei de Luca - , e aos reinos de Servião e Belos podem ser achados na coletânea de Artur Basílio de Sá, chamada Documetação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente (1991-1996), em 12 volumes.  

Quando os portugueses foram expulsos de Lifau estabeleceram-se em Dili, mas também houve o estabelecimento de colégios católicos no atual distrito de Manatuto cuja língua Galolen é a língua materna predominate. Sá (1961) lista uma série de publicações do Pe. Manuel Maria Alves da Silva, datadas entre os anos de 1888 e 1905, que visavam ensinar a língua Galolen para os falantes de outras línguas, assim como ensinar a língua portuguesa para os falantes de Galolen.

Esse fato histórico é fundamental para se compreender melhor a natureza dos contatos linguísticos em Timor Leste, já que um dos argumentos sócio-históricos utilizados para uma suposta crioulização, ou pidgnização, da língua Tétum foi sua eleição pela administração portuguesa e pela igreja católica como língua franca. Esse argumento, então, prova-se falho, já que tal processo ocorreu também com a língua Galolen e não gerou nenhuma variedade de lingua franca, nem variedade crioula. Deve-se, desta maneira, recorrer a outros fatores sócio-históricos e anteriores ao comentado, como já fez Thomaz (2002), que em minha opinião até a atualidade apresentou os argumentos mais sólidos para a ascensão da língua Tétum como língua franca, entre eles a documentação historiográfica portuguesa, algumas evidências linguísticas e estudos toponímicos.

Ainda, recentemente apresentei argumentos de natureza linguística, em Albuquerque (2010), sobre a natureza das mudanças linguísticas em Timor Leste. Devido ao contato intenso entre algumas línguas leste-timorense, há entre estas um grupo que sofreu uma reestruturação gramatical, como o Mambae, Tokodede e o Tétum-Praça.

Com o que comentei brevemente, podemos chegar a uma conclusão: há muito a ser estudado sobre as questões a respeito do contato de línguas em Timor Leste.

Referências:

Albuquerque, D. B. Contatos lingüísticos em Timor Leste: mudanças e reestruturação gramatical. Comunicação apresentada ao VI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares, Salvador, 2010.

Sa, A. B. 1961. Textos em teto da literatura oral timorense. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar.
_____. 1991-1996. Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente. Fundação Oriente/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, vol. 1-12.

Thomaz, L. F. 2002. Babel Loro Sa’e: O Problema Lingüístico de Timor Leste. Lisboa: Instituto Camões.

Saturday, April 17, 2010

Programa Globo Ecologia em Timor Leste

O programa da rede globo, chamado Globo Ecologia, que vai ao ar todo sábado às 06:50h teve neste sábado, 17 de Abril, o tema Timor Leste. 

O repórter do programa, Pablo de Moura, foi entrevistado pelo sítio Zine Cultural e o link da entrevista é o seguinte: http://www.zinecultural.com/zine/noticias/noticias.php?noticia=7696. Na entrevista, o repórter falou informações básicas sobre a cultura leste-timorense, como o mito de origem da ilha, que tem como base o crocodilo, chamado às vezes de lafaek ai-knanoik 'lenda do crocodilo'. Ainda, o repórter falou sobre a biodiversidade, a importância da igreja católica e mantém a 'crença popular' de achar que Timor Leste é repleto de diferentes dialetos, cerca de 30 deles, quando na realidade o número encontra-se entre 16 e 18 línguas, como já foi comentado em um dos posts iniciais deste blog:

A iniciativa do programa e do repórter são louváveis, pois ajuda a divulgar Timor Leste para o mundo, tanto de forma acadêmica - já que o repórter chama atenção para questões relativas à biodiversidade, à história, à cultura e religião leste-timorense - como de forma popular, pelo fato das belezas do país e da recepção dos timorenses aos estrangeiros serem amigáveis e convidativas ao turismo (na minha opinião uma área que deveria ter mais investimento do governo, pois é a que promete arrecadar mais receita para os cofres públicos e também gerar empregos e maior renda para a população local).

Lamentável, porém, é este tipo de iniciativa ser única e pouco produtiva. O repórter que passou aproximadamente 30 dias em Timor Leste não possui um conhecimento acadêmico exaustivo a respeito de Timor Leste, conforme foi comentado acima, além do que uma série de pesquisadores que necessitam de auxílios para pesquisa em Timor Leste não o recebem dos órgãos federais, nem da iniciativa privada, e quando recebem, mal conseguem cobrir os gastos da pesquisa com a verba recebida. 

Fica aqui registrado, então, meu elogio e, ao mesmo tempo, minha crítica em relação à postura de certas empresas, que se realmente desejassem ajudar algum país o faria de forma diferente, auxiliando pesquisadores que pudessem contribuir de forma efetiva aos diversos setores interessados: o mundo acadêmico, seus investidores, seu objeto de estudo e o conhecimento em si (que nenhum dinheiro pode comprar).  

Friday, April 09, 2010

We have achieved more than 1000 visits!!!

I thank you all visitors that colaborate reading the posts writen in this blog!

We had more than 1000 visits from 47 different countries. I hope that I can count on you all to continue your constant visits!!! And remember that this is your space too, due to the fact that I accept suggestions, all of you can find me on my e-mail: albuquerque00@hotmail.com and you can post your commets as well.

If you have any problem with Portuguese language you can check ConveyThis Translator at the middle left of this blog.

Thank you all again and stay put for my future posts!!!
      

Mais de 1000 visitas!!!

Este post é para agradecer a todos aqueles que já visitaram o blog e especialmente para os professores e pesquisadores que o acessam constantemente.

Nosso blog alcançou o número de mais de 1000 visitas de 47 países diferentes e eu somente tenho a agradecer a todos vocês!!!

Espero que possa contar com a visita de todos vocês, assim como na divulgação deste blog, que é um espaço para discussão e divulgação dos estudos leste-timorenses.

Continuem visitando que futuramente escreverei mais posts interessantes e com mais informações sobre as línguas de Timor Leste!
 

Wednesday, March 03, 2010

Pré-história, história e contatos lingüísticos em Timor Leste


Outro artigo de minha autoria, denominado Pré-história, história e contatos lingüísticos em Timor Leste, já está disponível on-line no seguinte endereço: https://www.academia.edu/1750300/Pre-historia_historia_e_contatos_linguisticos_em_Timor_Leste.

Este artigo foi publicado no número atual (número 6) da Revista Domínios de Lingu@guem dedicado à lingüística histórica. A revista completa está disponível no endereço:
Neste artigo analiso possíveis aplicações do método histórico-comparativo no estudo das línguas de Timor Leste e suas possíveis contribuições e limitações. Discorro brevemente sobre outros ramos do saber que podem contribuir para um melhor conhecimento do passado dos povos leste-timorenses, como a história e a arqueologia.

Abaixo está o resumo deste artigo:

"Este artigo tem vários objetivos, entre eles: discutir algumas questões teóricas sobre o método histórico-comparativo e sua aplicação nos estudos das línguas de Timor Leste. Para tanto, após uma breve apresentação das línguas leste- timorenses e algumas considerações teóricas sobre a lingüística histórica (2), discutir-se-á sobre a pré-história (3) e o período histórico (4), assim como os diversos contatos lingüísticos ocorridos na ilha durante os períodos citados."


Monday, March 01, 2010

Contato de Línguas em Timor Leste


Já está disponível on-line no sítio da ABECS (Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares) no seguinte endereço http://abecs.fflch.usp.br/sites/abecs.fflch.usp.br/files/upload/paginas/ResumosVIAbecs.pdf#overlay-context=quem o resumo da comunicação Os contatos linguísticos em Timor Leste: mudanças e reestruturação gramatical de minha autoria.

Nesta comunicação, que será efetuada no VI Encontro da ABECS nos dias 24, 25 e 26 de março, falarei sobre os diferentes tipos de mudança que as línguas de Timor Leste sofreram com o contato.

Segue abaixo o resumo do trabalho:

"A presente comunicação intenta analisar os contatos linguísticos que ocorreram em Timor Leste, assim como as mudanças - e possível reestruturação gramatical em alguns casos - que as línguas nativas sofreram com esses diferentes contatos. Ainda, as línguas austronésicas e papuásicas leste-timorenses sofreram modificações em graus distintos devido ao contato: mudanças pesadas e possível reestruturação gramtical, como o Tétum, Mambae e Tokodede, ou mudanças leves, como o Baikenu, Makasae e Fataluku."


Tuesday, February 16, 2010

Para brasileiros e outros viajantes lusófonos... Um novo blog sobre Timor Leste!


Hoje, excepcionalmente, não continuarei o post anterior sobre a documentação das Línguas de Timor Leste (http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/02/east-timor-languages-documented-part-i.html) para falar de um blog interessante que contém informações úteis (e fúteis!) sobre o Timor Leste e regiões adjacentes!

O blog intitulado Timor Lorosae Ceara (http://timorlorosaeceara.blogspot.com/) é de autoria do Prof. Cesar Cavalcante - professor brasileiro que trabalha em Timor Leste desde 2008 e é docente na UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosa'e) - e concetra-se em apresentar notícias do dia-a-dia timorense e alguns aspectos básicos da cultura deste país.

De maneira bem elaborada, o Prof. Cesar descreve certos aspectos triviais para um brasileiro, ou qualquer outro cidadão lusófono, que desconhece Timor Leste, ou é um 'marinheiro de primeira viagem' nestas terras longínquas, como o retorno da celebração do carnaval, o banheiro oriental (ou casa de banho, se preferirem assim os portugueses) bem diferente do nosso aqui, lugares bonitos e dignos de visita (como o Matebian, Ramelau, a Ilha de Ataúro), certas promoções no comércio timorense (o que é raro!), entre outras coisas.

Os arredores de Timor Leste também nos propiciam boas viagens das quais podemos desfrutar paisagens belíssimas (e outras coisas também!). Desta maneira, em Timor Lorosae Ceara o leitor encontrará informações úteis para a realização destas viagens, como mapas, fotos e guias. Os posts atuais já possuem informações sobre diversos lugares da Indonésia e Tailândia.

Então... espero que meus leitores e outras pessoas interessadas em Timor Leste, ou apenas viajantes destemidos, possam aproveitar de alguma maneira a experiência do Prof. Cesar que ele comportilha em seu blog. 

Espero que todos leiem o próximo post que continua a Documentação das Línguas de Timor Leste que será a Parte II.   

   

Monday, February 15, 2010

East Timor Languages Documented – Part I


Previously (http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/01/east-timor-languages-in-verge-of.html), I have written about East Timor languages. Several of them are seriously endangered and the worst thing is most of these languages are underdescribed, or even underdocumented.

Following I have elaborated a list of grammars and grammatical sketches that exists on East Timor languages. Another worth mentioned fact is that some of these publications are very hard to obtain, especially Timorese communities.

Language-Dialect           Grammar            Grammatical Sketch

Tetum Praça                            2                                         2

Tetum Terik                             x                                         1

Mambae                                    x                                         2

Galolen                                      1                                         1

Waima’a                                    x                                         1

Baikenu                                     x                                         1

Makuva                                     x                                         2

Bekais                                         x                                         1

Makasae                                     1                                         1

Fataluku                                     1                                         1

As we could see about 9 East Timor languages are documented, but some of these documentation are not well done, and some are barely available to an ordinary reader, or person interested. Furthermore, not all dialect varieties are contemplated as well. It was focused on one specific variety only.

On next post, I will try to review the above mentioned works, give a full reference of them, and discuss a little longer some of the above mentioned issues.

Saturday, January 23, 2010

East Timor languages on the verge of extinction

East Timor census usually varies a lot in numbers from one publication to another. One of them elaborated by UN (2006) and the most quoted one East Timor Suco Survey (2001) have showed some dreadful information about languages.
The population of the country it is about 900.000, and only three languages have more than 100.000 speakers: Tetum, Mambae, and Makasae. A large numbers of languages have speakers among 8% and 3% such as: Kemak, Bunak, Galolen, Tokodede, Fataluku and Baikenu. This fact is alarming because there are about 6 languages with less than 60.000 speakers.

But the most shocking information is that there are even more languages (and its varieties) with less than 20.000 speakers, such as: Makalero, some Atauran, Idalaka, and Kawaimina dialects, Isni, Lolein, Bekais and Makuva, in percentage these languages have less than 2% speakers of East Timor population.

Another disturbing problem related with this is that most of those languages were not even documented, and some of these that were documented are 'underdescribed' until nowadays (my next post will talk about the exactly numbers of grammars and grammatical sketches available on East Timor langauges).

A language to be considered ‘healthy’ and stable usually has to be more than 100.000 speakers. With less than 100.000 a language can be considered endangered (what is the case of at least 6 languages of East Timor), and with a number inferior than 10.000 speakers a language is in a very dangerous situation, in this case is about at least 8 languages.

So, we are about to lose East Timor languages together with all its contributions to linguistics theory together with all its cultural elements unknown to us that a native community can possibly have.


References

The Asian Development Bank, the World Bank and The United Nations development Programme. East Timor Suco Survey, October 2001.

National Board of Statistics, Timor-Leste Census of Population and Housing 2004. Priority Tables, ed. National Board of Statistics and the United Nation Fund for Population, April 2006.

Saturday, January 16, 2010

More resources available on web

The French Scientific journals portal http://www.persee.fr/ give free access to a long list of papers, and several others publications available to download. Two French publications that have papers on East Timor ethnic groups are Archipel and L’Homme. Amongst them can be mentioned the followings:

Berthes’s papers on Bunak: one paper is an ethnographic analyze of ceremonial weddings in Bunak society (Berthe, 1961), another one is some remarks on Bunak’s pronominal system and affixes (Berthe, 1963). Furthermore, there are two reviews of Berthe’s work Bei Gua, Itinéraire des ancêtres. Mythes des Bunaq de Timor (1972) by Hicks (1973) and Lombard (1974).

There is a paper on Ema people – Kemak language speakers – by Clamagirand (1972) about cotton fabication by this people, the paper is called Le travail du coton chez les Ema de Timor portugais.

Another paper, this one by Fracillon (1989), analyzes Tetum – the society of Tetum-Terik speakers that is called in this paper Tetun du Sud – weddings and kinship structure that according to this author is matrilineal and uxorilocal.

So, this website above mentioned, and these papers are worth to be read by scholars and anyone who have interest in East Timor issues.

References

Berthe, Louis. 1961. Le mariage par achat et la captation des gendres dans une société semi-féodale: les Buna' de Timor central. L'Homme, Vol. 1, N. 3. p. 5 – 31
________. 1963. Morpho-syntaxe du Buna' (Timor central). L'Homme, Vol. 3, N. 1. p. 106 - 116
________. 1972. Bei Gua, itinéraire des ancêtres: mythes des Bunaq de Timor. Paris : Ed. CNRS.

Clamagirand, Brigitte.1972. Le travail du coton chez les Ema de Timor portugais. Archipel, Vol. 3, N.1. p. 55 - 80

Francillon, Gérard. 1989. Un Profitable échange de frères chez les Tetun du Sud, Timor central. L'Homme,Vol. 29, N. 109. p. 26 - 43

Hicks, David. 1973. L. Berthe, Bei Gua, itinéraire des ancêtres: mythes des Bunaq de Timor. 'Homme, Vol. 13, N. 4. p. 166 - 167

Lombard, Denys. 1974. Louis Berthe, Bei Gua, Itinéraire des ancêtres. Mythes des Bunaq de Timor. Archipel, Vol. 7, N. 1. p. 202 - 204

Sunday, January 10, 2010

Standard Orthography of East Timor Languages

East Timor languages do not have untill nowadays a fixed Standard Ortography. This affirmation is shared for some linguists, but not all.

Tetum-Praça as oficcial language of East Timor has a Standard Orthography proposed by INL (Instituto Nacional de Lingüística) in Hakerek Tetun tuir Banati (INL, 2006) and it has been aproved by a Government Decree (April, 2004 - retrievable at:

The parameters fixed on this book are very reasonable, due to the following facts:

  • it solves typing problems, such as Portuguese nh  is in Tetum-Praça ñ: 'rascunho' > TP 'raskuñu', PT 'senhor' > 'señór';


  • it has a linguistic accuracy: most of the itens has a match phonolgy=writing ( c, qu > k PT 'escola' > TP 'eskola', PT 'que' > TP 'ke'), this not exists in Portuguese ortography that has a historical ortography based mostly on an ancient literary tradition and on Latin language;


  • it has a good linguistic proposal to deal with linguistics facts of TP, such as: stress and long vowels.

The major problem of Standard Ortography of TP is that it is not accepted, nor used, for a great part of timorese population. Government, media, and catholic registers, the three major institutions that produce writing documents in Tetum do not use it.

All the Government Institutions have a variability in its registers, do not using any fixed orthography. Examples, on the same documents can be found even four different registers of the same lexical item: English 'this' TP ne'e~nee~ne~né.

About media and catholic registers Williams-van Klinken (2002) has an analysis based on several writing documents. Basically, we can say that catholic registers has an influence of Tetun-Terik, Portuguese loans basically refers to religious lexical itens, and some semantic changes on TP, such as: EN 'to help' TP tulun ~ ajuda (PT 'ajudar'), but 'tulun' nowadays has a sacred meanig, and 'ajuda' comprises the others uses. Press registers it is exactly contrary to catholic register: it has a great number of Portuguese loans, and even some grammatical features of Portuguese language, such as gender and number agreement of the loan words.

At Fataluku Language Project website  (http://www.fataluku.com/)  there are proposals of Standard Orthography to Fataluku, Makasae, Makalero and Makuva. But the others languages - Mambae, Tokodede, Kemak, Bunak, Kawaimina, Idalaka, Habun, Galolen - remains without any modern proposals, existing only ancient documents dating the beginning of XX century.

So, a lot of things are yet to be done on East Timor languages, and we hope that the current ongoing researches continue with their contributions to timorese population and to linguistics.
References

INL. 2006, Hakerek Tetun tuir Banati. Dili, INL/UNTL.

Williams-van Klinken, Catharina. 2002, High registers of Tetun Dili: Portuguese press and purist priests. Proceedings of the 2001 Conference of the Australian Linguistics Society. Retrievable at: http://www.als.asn.au/proceedings/als2001/williams-vanklinken.pdf