Saturday, May 12, 2012

Sobre o bairro Tuana Laran - Dili

Fiquei de compartilhar este último post do blogue Direto de Timor-Leste que traz diversas informações sobre o bairro Tuana Laran, que fica na capital de Timor-Leste, Dili, onde residem vários professores brasileiros. Abaixo reproduzo a postagem intitulada Tuana Laran, que pode ser conferida no original no seguinte link:http://timorlorosaeceara.blogspot.com.br/2010/11/tuana-laran.html, como mais uma fonte de informação aos leitores deste blogue, assim como para não esquecer também do período que residi junto com demais professores, e também fazer uma homenagem ao colega, Prof. Cesar:

Tuana Laran


Há 2 anos resido no Bairro de Tuana Laran em Dili, Timor-Leste. Aproximando-se a chegada de minha partida deste país, resolvi escrever a cerca da origem do nome do lugar.

A primeira visão que se tem de Díli, quando se chega ao Aeroporto Internacional Nicolau Lobato, é de uma densa floresta de palmeiras que cercam toda a pista de pouso e decolagem do Aeroporto.

Em todo o Timor-Leste podemos encontrar dois tipos de palmeiras, a Tali metan (Corypha utan) e a Tuaqueira (Arenga pinnata). Tratam-se de árvores que podem chegar a 20 metros de altura e que possuem folhas de 5 a 7 metros de envergadura.

As fibras destas palmeiras são utilizadas na cobertura das casas tradicionais timorenses e sendo bastante resistente à água do mar também eram utilizadas pelos navegadores portugueses na fabricação de cordas usadas nos barcos.

Ainda é aproveitado da tali metan a seiva, que é conhecida como tuaca. Os timorenses dão um golpe na copa da palmeira, o que faz sair a seiva. Trata-se de um líquido esbranquiçado, doce e com um leve teor alcoólico, que pode chegar a 5%, mesmo sem processo de fermentação.

Depois que a copa das palmeiras é "golpeada", constrói-se um "sistema de canalização" utilizando canas de bambu, por onde a seiva corre para dentro de garrafas plásticas de 1,5 litro ou para garrafões de 5 litros.  Durante todo um dia, a seiva escorre para os recipientes.


Extração da tuaca utilizando-se bambus, no distrito de Dare.
(Fonte: Augusto Lança)
Depois que a tuaca é recolhida, esta deve ser bebida até ao dia seguinte por causa da fermentação que lhe dá o teor alcoólico, e faz com ela estrague muito rapidamente.  A tuaca também é conhecida como tua mutin (vinho branco) e é considerado a bebida nacional de Timor-Leste.

Destilando-se a tuaca, obtém-se ainda o tua sabu, uma espécie de aguardente. Por acidificação acética a tuaca transforma-se em tua sin, uma espécie de vinagre. À partir da tuaca ainda se obtém o açúcar de palma, muito consumido em todo o sudeste asiático.


Sabu significa em língua mambai, bruxa ou bruxaria. A designação da bebida foi dada pelos antigos timorenses, que acreditavam que o corpo de uma pessoa que consumia uma grande quantidade de tua sabu, era apoderado por uma espécie de bruxaria e por isso saía a fazer atos sem dominar completamente os sentidos.


Tuaca em garrafas plásticas

Atualmente em vários distritos timorenses, centenas de famílias sobrevivem exclusivamente da produção do tua mutin e do tua sabu. Algumas destilarias timorenses ainda produzem álcool etílico, à partir da tali metan.
Voltando à origem do nome do bairro Tuana Laran, tuana, vem de tua, que em língua tétum significa vinho ou bebida alcoólica. Já laran, significa em tétum, "interior".  O nome do lugar, deve-se então a grande presença das palmeiras tali metan e tuaqueira em todo o bairro.

Wednesday, May 09, 2012

Lord of the Lands, Lord of the Seas

O livro intitulado Lord of the Lands, Lord of the Seas, de autoria de Hans Hägerdal, acabou de ser lançado pela KITLV Press e está disponível para download no link: http://www.kitlv.nl/book/show/1313. Este post foi uma dica do blogue Raiketak (http://raiketak.wordpress.com/2012/04/14/lords-of-the-land-lords-of-the-sea/), que apresenta alguns comentários sobre o livro.

Segue o resumo do livro (em inglês):


"European traders and soldiers established a foothold on Timor in the course of the seventeenth century, motivated by the quest for the commercially vital sandalwood and the intense competition between the Dutch and the Portuguese. Lords of the land, lords of the sea focuses on two centuries of contacts between the indigenous polities on Timor and the early colonials, and covers the period 1600-1800. In contrast with most previous studies, the book treats Timor as a historical region in its own right, using a wide array of Dutch, Portuguese and other original sources, which are compared with the comprehensive corpus of oral tradition recorded on the island. From this rich material, a lively picture emerges of life and death in early Timorese society, the forms of trade, slavery, warfare, alliances, social life, and so forth. The investigation demonstrates that the European groups, although having a role as ordering political forces, were only part of the political landscape of Timor. They relied on alliances where the distinction between ally and vassal was moot, and led to frequent conflicts and uprisings. During a slow and complicated process, the often turbulent political conditions involving Europeans, Eurasians, and Timorese polities, paved the way for the later division of Timor into two spheres of roughly equal size."

Esta obra procura analisar fontes históricas documentais, juntamente com fontes da história oral nativa para alcançar conclusões mais acuradas sobre os sistemas político-sociais que estavam implantados na ilha de Timor antes da colonização europeia, assim como o impacto da colonização Portuguesa e Holandesa, e as modificações que os sistemas nativos sofreram. 

Ainda, estou fazendo a leitura do livro (estou no segundo capítulo) e em breve farei uma resenha completa deste livro, assim como sua pertinência para os estudos linguísticos.

  

Monday, May 07, 2012

A vida em Timor-Leste e o 'toké'

Trago outro post do blogue do Prof. Cesar Direto de Timor-Leste, o post é intitulado Adivinha quem veio para o almoço (que está disponível originalmente no link: http://timorlorosaeceara.blogspot.com.br/2010/07/advinha-quem-veio-para-o-almoco.html, aqui simplesmente reproduzo as informações contidas no original citado). Neste, o autor fala da realidade vivida por estrangeiros residentes em Timor-Leste: a fauna local que constantemente entra em contato conosco em locais residencias, em outras palavras, ''toké'' dentro da nossa casa! Aqui Prof. Cesar encara este fato com bom humor:  


Após um longo período sem postar, devido exclusivamente  a falta de tempo,  hoje (04/07/2010) estou reativando meu blog e nada melhor do que falar de um dos animais símbolos do país o Tokê (Gecko verticillatus).

Tokê
Foto: (Tokay Gecko Morphs 2008)

Segundo o dicionário de Luís Costa, Maio 2000, citado por "sitiodosolnascente.blogspot.com",o Tokê, Tokay Gecko ou ainda Toko é “um lagarto cuja voz emita esta palavra”. A espécie consegue emitir esse som característico, devido a uma modificação em seu aparelho nasal (carece de referência). 

Segundo os habitantes mais antigos da Ilha de Timor Leste, o Tokê repete o som "To Kê" até um número de vezes que indica que horas são. Certo é que eu contei e esse número não passou de 8 vezes.

O animal pode chegar a 30 cm de comprimento, tem hábitos noturnos e é insetívoro. Habita toda a Ilha de Timor Leste (carece de referência), e ainda é encontrado no nordeste da Índia e Bangladesh, Birmânia, Tailândia, sul da China, Malásia, arquipélago da Malásia, Indonésia, Filipinas, arquipélago de Sulu e Austrália (Seufer Hermann 1995). Esta espécie foi também introduzida a Florida, Hawaii, Martinica e Belize e é considerada uma espécie invasora. 

Na Tailândia são considerados precursores de sorte, fortuna e fertilidade e e lá e em várias partes do mundo, esses animais são criados como animais de estimaçãoÉ ainda utilizado na medicina chinesa como remédio. O corpo após a evisceração é esticado e preso e colocado para secar, então todo o corpo do animal é utilizado na tradicional medicina chinesa, mas a cauda é utilizada particularmente no tratamento da tuberculose (Zhao & Adler, 1993).

Uso do Tokê na tradicional medicina chinesa
Foto: (Museu de Biodiversidade Raffles)



A Timor Telecom (TT), única empresa de telefonia em Timor-Leste, em homenagem ao lagarto, resolveu denominar seus cartões de recarga de celulares pré-pagos de TOKE, numa alusão ao animal símbolo de Timor Leste.

Tokê Granito Azul e Laranja
Foto: (Ingo Kober)

Acontece que hoje na hora do almoço, um desses animais resolveu visitar minha cozinha. O exemplar tinha por volta de 25cm e era muito agressivo.



Este veio para o Almoço

Ao tentar expulsá-lo com uma vassoura, ele atacou e emitiu o seu som característico. Após várias tentativas e muitos outros ataques, finalmente consegui colocá-lo em uma caixa de papelão e transportá-lo para fora de casa.

Desceu da parede e ainda fez pose para a foto!

Passada minha primeira aventura do dia, foi a hora de preparar o almoço, e hoje foi especial, preparei Strogonoff, não de Tokê, mas de Frango! 

Um abraço a todos e até a próxima.

Referências:
sitiodosolnascente.blogspot.com
www.gekkonids.info
http://snakesnadders.tripod.com/id15.html

Wednesday, May 02, 2012

O Português de Timor-Leste - projeto de doutorado

Meu pré-projeto de doutorado (ou doutoramento) intitulado O português de Timor-Leste: uma abordagem ecolinguística foi aprovado, neste ano de 2012, no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da Universidade de Brasília (UnB).

Este projeto está programado para ser desenvolvido durante o período de 2012-2015 cujo produto final será a tese homônima, que apresentará uma análise ecolinguística da língua portuguesa em Timor-Leste. Esta análise já vem sido desenvolvida por mim desde o ano passado, conforme os leitores do blogue podem ler nos posts anteriores. A análise presente na tese, que já está na fase de elaboração dos capítulos iniciais, procurará ser exaustiva, descrevendo tanto a variedade da língua portuguesa falada em Timor-Leste, que chamo de Português de Timor-Leste (PTL), quanto a situação social, política e educacional da língua portuguesa em Timor-Leste. 

Ainda, no decorrer destes anos programados para a elaboração da pesquisa, publicarei em formato de artigos, capítulos de livro e comunicações os resultados preliminares das investigações feitas por mim. Segue, abaixo, o resumo provisório da tese (qualquer comentário, sugestões ou dúvidas dos interessados é só me contatar via e-mail): 

"A língua portuguesa é a língua oficial da República Democrática de Timor-Leste, juntamente com a língua Tétum, desde sua constituição de 2002. Porém, a influência lusófona na ilha de Timor data do ano de 1515, período em que os colonizadores portugueses chegaram pela primeira vez na ilha. Atualmente, sendo falada por cerca de 5% da população, aproximadamente 55.000 pessoas, a língua portuguesa é ensinada em todos os níveis da educação formal leste-timorense, mas se encontra ameaçada por questões de natureza política, econômica e ideológica. A presente tese pretende realizar um estudo da variedade do português falado em Timor-Leste (doravante PTL) para poder preservá-la, valorizá-la e descrever seus aspectos linguísticos mais notórios. Para tanto, será feito uso da teoria ecolinguística e seus diferentes métodos de análise, que contemplam diversas subáreas linguísticas e extralinguísticas, para que seja possível descrever o fenômeno da presença da língua portuguesa em Timor de maneira mais acurada. Assim, após a introdução, que se encontra no capítulo 1, serão discutidos aspectos da metodologia ecolinguística, no capítulo 2. No capítulo 3, será feita uma revisão bibliográfica crítica dos temas abordados nesta tese, a língua portuguesa em Timor-Leste e a ecolinguística, enfatizando a escassez de bibliografia sobre o PTL e as divergências teóricas na ecolinguística. No capítulo 4 será descrita a comunidade de fala leste-timorense antes e depois do impacto da colonização europeia, seguido pela análise de quais impactos foram esses, no capítulo 5, principalmente nas questões linguísticas. O PTL será descrito no capítulo 6, diferenciando-se as estruturas que surgiram pelo contato com as línguas nativas e do contato com crioulos portugueses asiáticos, assim como estruturas lusófonas que sofreram mudanças pelo isolamento em Timor-Leste. Finalmente, o capítulo 7 apresentará uma análise e proposta de tipos ecolinguísticos que buscarão delimitar as situações em que o PTL é usado, como é usado e por quais falantes leste-timorenses, sendo este capítulo seguido pelas conclusões desta tese, no capítulo 8."