Monday, September 08, 2014

Abordagem ecolinguística do português falado em TL

Defendi minha tese de doutorado neste ano, em 2014, no Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL) da Universidade de Brasília (UnB), e ela foi devidamente aprovada e recomendada para ser publicada em formato de livro, o que já está em andamento.

A tese se chama A língua portuguesa em Timor-Leste: uma abordagem ecolinguística e analisou, conforme o próprio título, o português falado em Timor-Leste de acordo com a teoria ecolinguística. Na tese, são abordados temas da história da língua, da sociolinguística, etnografia da comunicação, descrição do português falado em Timor-Leste, aquisição de língua, bi- e multilinguismo e contato de línguas em Timor-Leste.

Seguem o resumo e as palavras-chave:

A língua portuguesa é a língua oficial da República Democrática de Timor-Leste, juntamente com a língua Tetun, desde sua constituição de 2002. Porém, a influência lusófona na ilha de Timor data do ano de 1515, período em que os colonizadores portugueses chegaram pela primeira vez na ilha. Atualmente, sendo falada por cerca de 5% da população, aproximadamente 50.000 pessoas, a língua portuguesa é ensinada em todos os níveis da educação formal leste-timorense, mas se encontra ameaçada por questões de natureza política, econômica e ideológica. A presente tese pretende realizar um estudo da variedade do português falado em Timor-Leste (doravante PTL) para poder preservá-la, valorizá-la e descrever seus aspectos linguísticos mais notórios. Para tanto, será feito uso da teoria ecolinguística e seus diferentes métodos de análise, que contemplam diversas subáreas linguísticas e extralinguísticas, para que seja possível descrever o fenômeno da presença da língua portuguesa em Timor de maneira mais acurada, contemplando diferentes aspectos do objeto pesquisado. Lembrando que o fato de preservar a variedade da língua portuguesa falada em Timor-Leste trata-se também de uma postura ecológica, visando a manutenção da diversidade linguística do português no mundo. Assim, após a introdução, será feita uma revisão bibliográfica crítica da ecolinguística, no capítulo 1. Os estudos sobre a língua portuguesa em Timor-Leste serão discutidos no capítulo 2. No capítulo 3, serão discutidos aspectos da metodologia ecolinguística. No capítulo 4, será descrito o ecossistema linguístico local de Timor-Leste antes e depois do impacto da colonização europeia, seguido pela análise de quais impactos foram esses. Após este capítulo, será feita a descrição do PTL, no capítulo 5. No capítulo seguinte, o capítulo 6, será analisada a ecologia da aquisição linguística e sua relação com o contexto em que ocorre a aquisição do português em Timor-Leste. O contato de línguas é um fator importante para se entender a situação linguística atual de Timor-Leste, assim no capítulo 7 será estudada a ecologia do contato de línguas no país. Após este capítulo serão feitas as considerações finais da presente tese, enfatizando os resultados encontrados, principalmente o fato da existência de uma variedade da língua portuguesa falada em Timor-Leste, chamada de PTL, e da ecologia da língua portuguesa no ecossistema desse país.

Palavras-chave: Língua portuguesa; ecolinguística; Timor-Leste.

Revista Signótica - Influências das L1 nativas de TL no PT

Em uma postagem anterior, que pode ser acessada aqui, já tinha comentado sobre a comunicação Influências das L1 Nativas no Português de Timor-Leste: Um Estudo dos Marcadores Verbais.Agora, ela acabou de sair em formato de artigo na edição especial da revista Signótica, que pode ser lida aqui: 

O artigo pode ser acessado e lido aqui: http://www.revistas.ufg.br/index.php/sig/article/view/31407.

Este número especial é intitulado Volta ao mundo em língua portuguesa: ensino, promoção e cultura e reúne alguns trabalhos que foram apresentados no IV SIMELP (Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa), que ocorreu em 2013, em Goiânia, na UFG (Universidade Federal de Goiás). Os artigos selecionados para esta edição, que corresponde ao volume 26 deste ano de 2014 (v. 26, 2014), versam sobre o português em Portugal, no Brasil, na África, em Macau, em Timor-Leste e nos Estados Unidos. 

Segue o índice  

Políticas públicas para o ensino de português, em Portugal: a voz de quem implementa e de quem pesquisa               
Madalena Teixeira,  Mônica Nunes  19-59

Políticas linguísticas e língua portuguesa em Macau, China: à guisa de introdução    
Roberval Teixeira-e-Silva, Maria Célia Lima-Hernandes     61-76

Escolas oficiais de Macau (China)          
Ana Rute Santos              77-88

África toma a palavra    
Josiley Francisco de Souza         89-110

Influências das L1 nativas no português de Timor-Leste: um estudo dos marcadores verbais  
Davi Borges de Albuquerque    111-121

Sobre a construção de representações culturais e identitárias em interações online em português entre estudantes franceses, franco-portugueses e brasileiros    
Liliane Santos   123-143

Uma proposta para a promoção do português brasileiro em contexto europeu não lusófono: aspectos didáticos, políticos, econômicos, sociais e linguísticos         
Vânia Cristina Casseb-Galvão   145-160

Estudos da literatura e da cultura no âmbito da língua portuguesa e diplomacia da cultura: carências e possibilidades                
Elias Torres Feijó            161-182

A presença (expansão atual) do português brasileiro nos EUA 
João Marcelo Freitas de Luna       183-196

Timor-Leste quer alfabetizar em português

Recentemente, saiu uma notícia na revista Exame sobre a temática do ensino e da presença da língua portuguesa em Timor-Leste. A matéria é intitulada Timor-Leste quer alfabetizar em português para popularizá-lo e o autor deste blogue chegou a ser entrevistado para fornecer algumas informações sobre a situação atual do ensino de português em Timor-Leste.

O texto pode ser acessado no site da revista Exame em:
Vale lembrar que esta matéria é uma tradução da original escrita em espanhol e publicada no jornal Lavanguardia pelo correspondente espanhol em Jakarta, Indonésia, o jornalista Eduardo Mariz Cortiñas. A matéria, intitulada Timor quiere extender el uso del portugés mediante la alfabetización, pode ser lida aqui:

O texto é muito válido para divulgar a situação atual dos problemas da educação formal e das questões políticas relacionadas ao ensino do português, servindo também como uma breve introdução ao tema.

Vale mesmo a leitura!

Saturday, May 10, 2014

O ecossistema linguístico local de Timor-Leste

Ocorreu nesta última sexta-feira (09/05/2014), o Seminário de Pesquisa do PPGL (Programa de Pós-Graduação em Linguística) da UnB (Universidade de Brasília) que está em extinção, pois está seus últimos eventos neste semestre, por isso divulgo somente minha participação com um tema sobre Timor-Leste. Há uma apresentação minha anterior neste seminário, que pode ser lida aqui.

O seminário foi intitulado O ecossistema linguístico local de Timor-Leste e baseou-se no capítulo 4 homônimo de minha tese de doutorado, A língua portuguesa em Timor-Leste: uma abordagem ecolinguística (para maiores informações, leia aqui), que está terminada, aguardando somente a marcação da data de defesa.

O arquivo da apresentação do seminário pode ser encontrado aqui, assim como aos interessados em saber um pouco mais de ecolinguística recomendo a leitura do blogue Meio Ambiente e Linguagem, que pode ser acessado aqui, e também de verificar as postagens anteriores deste blogue com a marcação/tag Ecolinguística


Os arredores de montanhosos da capital, Dili. Foto: Rui Correia.


Segue abaixo um resumo da apresentação:


A proposta ecolinguística utilizada aqui é de Couto (2007), que tem como base a Ecologia Fundamental da Língua (EFL), ou Ecossistema Fundamental da Língua. O Ecossistema Fundamental da Língua (EFL) equivale ao conceito da comunidade falante da língua e é onde ocorrem as interações comunicativas. A EFL é formada pela Linguagem (L), pelo Povo (P) falante da L e o território (T) onde o P reside e fala a L. A tríade P-L-T é análoga ao signo semiótico de Peirce e é melhor representada graficamente de maneira triangular. 

P
/     \
L ----- T

Pode-se observar também que na posição do ápice do triângulo está localizado o P, indicando que a relação entre L e T é mediada por ele. Digno de nota é que representações semelhantes já se encontravam em trabalhos anteriores, como Trampe (1990) e Door e Bang (2001), conforme afirma Couto (2007, p.91). O EFL possui três ecossistemas dentro dele, dependendo de como são encarados os elementos P, L e T. Segundo Couto (2013b, p. 299), esses ecossistemas são: o ecossistema natural da língua (1), o ecossistema mental da língua (2) e o ecossistema social da língua (3), que são representados da mesma maneira triangular acima.
O ecossistema natural da língua (1) consiste em um povo (P1), que habita em seu território (T1) e se comunica por meio da língua (L1) da comunidade. Porém, no ecossistema natural da língua P1 é visto como seres físicos e T1 é encarado fisicamente, assim a Lé uma realidade concreta que se relaciona com os demais elementos do ecossistema. Esta é uma visão mais biológica da língua e do ecossistema. Em (2), há o ecossistema mental da língua em que a língua é vista como um fenômeno mental (L2), sendo P2 a parte da mente do indivíduo que processa a língua e (T2) é o cérebro, sendo encarado como entidade concreta. O ecossistema social da língua, representado em (3), trata-se da língua (L3), sendo encarada como fenômeno social e P3 é a comunidade que fala a L3, enquanto o T3 é a sociedade (COUTO 2013b, p. 299).  
Desta maneira, o ecossistema linguístico engloba os três ecossistemas mencionados anteriormente e, de acordo com Couto (2013b, p. 294), pode ser dividido em ecossistema linguístico geral e local. O primeiro, o ecossistema linguístico geral, equivale à comunidade de língua e ao domínio do sistema. O segundo, o ecossistema linguístico local, consiste na comunidade de fala, ou de interação, sendo, assim, o ecossistema onde ocorrem os atos de interação comunicativa (AIC), que serão explicados posteriormente. Neste capítulo, será analisado o ecossistema linguístico local de Timor-Leste, onde ocorrem os AICs em língua portuguesa.
Assim, na seção 1, serão expostas algumas informações básicas sobre os ecossistemas natural, mental e social da língua em Timor-Leste. Na seção 2, será oferecido um panorama histórico de Timor para em seguida, na seção 3, discorrer a respeito da língua portuguesa na ilha. Na seção 4, serão analisados os impactos da língua portuguesa e da presença do colonizador português, assim como na seção 5 as influências da inserção da tecnologia da escrita nas sociedades ágrafas leste-timorenses. Finalmente, na seção 6, serão oferecidas algumas palavras sobre o futuro do ecossistema linguístico local de Timor-Leste.  

Referências

BANG, Jørgen C.; DØØR, Jørgen. Language, Ecology and Society. A Dialectical Approach. Editado por Sune Vork Steffensen e Joshua Nash. Londres: Continuum, 2007.
COUTO, Hildo H. Ecolinguística. Estudo das relações entre língua e meio ambiente. Brasília: Thesaurus, 2007.
_____. O que vem a ser ecolinguística, afinal? Cadernos de Linguagem & Sociedade, v. 14, n. 1, p. 275-313, 2013.
TRAMPE, Wilhelm. Ökologische Linguistik. Grundlagen einer ökologischen Wissenschafts- und Sprachtheorie. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1990.

Wednesday, April 23, 2014

Manuscritos do século XVIII sobre o português em Timor

Acabou de sair o mais novo artigo de minha autoria, intitulado Manuscritos do século XVIII sobre o português em Timor. O artigo foi publicado na Revista de Filologia e Linguística Portuguesa, da Universidade de São Paulo (USP), no volume 15, número 2, do ano de 2013. 

Esta publicação dá continuidade a minha pesquisa sobre a língua portuguesa em Timor-Leste. Neste artigo, procuro traçar as possíveis origens da variedade da língua portuguesa falada em Timor, investigando documentos, datados do século XVIII, escritos em português pelos timorenses. Assim, este trabalho acaba por relacionar diferentes áreas, abordando temas da história, da filologia, do contato de línguas, da crioulística e da dialetologia.      

O artigo pode ser baixado aqui e aqui, e o resumo pode ser lido abaixo:

O presente artigo tem como objetivo analisar traços históricos e linguísticos em documentos de origem holandesa, que datam do início do século XVIII, existentes sobre a língua portuguesa na ilha de Timor. Estes documentos estão localizados no Arsip Nasional (ANRI) ‘Arquivo Nacional’ em Jakarta, Indonésia, e no Koninklijk Instituut voor Taal-, Land- en Volkenkunde (KITLV) ‘Instituto Real Holandês de Estudos do Sudeste Asiático e Caribe’ em Leiden, Holanda. Os documentos holandeses não foram escolhidos de maneira aleatória, a justificativa para a escolha está baseada na escassez de análises existentes sobre essas fontes históricas, quando comparadas à documentação portuguesa, que vem sendo extensamente estudada desde o século XIX por historiadores portugueses e, em menor extensão, por filólogos também de origem portuguesa. Os documentos localizados no arquivo indonésio, que serão o objeto da análise, datam da primeira metade do século XVIII, período no qual ocorreu grande migração lusófona para a ilha de Timor. Já os documentos localizados na Holanda datam do início do século XVIII e serão usados somente para reiterar a análise efetuada, como evidências adicionais. Assim, em (2), serão apontadas as principais características descritas para a variedade da língua portuguesa falada atualmente em Timor-Leste, conhecida como Português de Timor-Leste (PTL), e, em (3), o corpus textual já mencionado será analisado, buscando informações históricas e evidências linguísticas que possam contribuir para um melhor entendimento da origem, formação e desenvolvimento do que hoje veio a ser tornar a variedade da língua portuguesa falada em Timor-Leste. Finalmente, em (4), estão as considerações finais a respeito da análise efetuada.


Sunday, April 20, 2014

Moedas de Timor - Parte 2 - Escudo Timorense

Nesta postagem, dou continuidade a anterior, que pode ser lida aqui, ao comentar as moedas de Timor. O Escudo Timorense foi equivalente ao Escudo Português e circulou em Timor Português entre os anos de 1958 e 1976. No ano de 1958 veio a substituir a Pataca e durou até 1976, quando veio a sofrer a invasão indonésia, no anterior, em 1975, sendo substituído pela Rupia Indonésia.

A taxa de conversão da Pataca para o Escudo era de 1 Pataca valendo 5,6 Escudos. As moedas emitidas de Escudo Timorense foram de 10, 20, 30, 50 e 60 centavos, assim como 1, 2.50, 3, 5, 6 e 10 Escudos. Os valores de 3 e 6 (e também de 30 e 60), são considerados incomuns para emissão de moedas, ou de cédulas, mas foram feitos para se adequar exatamente ao valor de conversão de 1 = 5,6 mencionado anteriormente.

A seguir comentarei cada uma das moedas emitidas para circulação.

A moeda de 10 centavos começou a circular em 1958, é feita de cobre, apresentando em uma de suas faces o valor (mais a inscrição 'república portuguesa') e na outra o brasão de armas de Timor Português, junto com ano.

10 Centavos 10 Centavos

A moeda de 20 centavos apresenta a mesmo estrutura facial que a descrita acima, de 10 centavos, se diferenciando apenas pelo ano de emissão, que foi em 1970, e pelo metal, que era bronze. Até mesmo o diâmetro era aproximado, já que possui cerca de 17,5 mm, enquanto a de 10 centavos era de 17,8 mm.
    
20 Centavos20 Centavos

A moeda de 30 centavos foi emitida em 1958 e era de cobre, porém se destacava pelo diâmetro claramente maior, de 22 mm.

30 Centavos 30 Centavos

A moeda de 50 centavos foi emitida em 1970, era de cobre e possui um diâmetro um pouco maior do que as de 10 e 20 centavos, pois era de 19, 8 mm.

50 Centavos50 Centavos

A moeda de 60 centavos, foi emitida em 1958, e possui um diferencial ao apresentar junto com o valor facial o brasão de armas de Timor Português. Na outra face, onde nas moedas anteriores estava o brasão de Timor Português, passou a estar o brasão da coroa portuguesa. Foi cunhada com uma liga de cobre, níquel e zinco.
  
60 Centavos 60 Centavos

A moeda de 1 escudo timorense teve duas emissões, uma de 1958, que segue a mesma cunhagem da anterior, de 60 centavos, e outra de 1970, que segue a forma de cunhagem dos escudos de 1970, tanto em seu desenho facial como no metal, bronze.

1 Escudo1 Escudo     1 Escudo1 Escudo

A moeda de 2 escudos e 50 centavos foi cunhada em 1970, com uma liga de cobre e zinco, e possui junto com o valor facial o brasão de armas de Timor Português e na outra face o brasão da coroa portuguesa, junto com a data.

2.50 Escudos2.50 Escudos

A moda de 3 escudos timorenses foi emitida no mesmo formato e ano que as moedas de 1 escudo e também da de 60 centavos. Porém, o metal era prata. Vale lembrar que em relação ao tamanho, as moedas até os 2,50 escudos timorenses (a moeda acima) apresentam diâmetros variados, que não servem para diferenciá-las. Somente a partir da moeda de 3 escudos timorenses é que os diâmetros vão aumentado progressivamente de acordo com o valor facial.

3 Escudos3 Escudos

A moeda de 5 escudos timorenses foi cunhada em cuproníquel, no ano de 1970, e possui o mesmo desenho facial que a anterior.

5 Escudos 5 Escudos

A moeda de 6 escudos timorenses foi cunhada em prata, no ano de 1958, com o mesmo design já citado.

6 Escudos6 Escudos

A moeda de 10 escudos timorenses foi cunhada em 1964, em prata, e em 1970, em cuproníquel. Segue o mesmo design das moedas anteriores. 

10 Escudos10 Escudos       10 Escudos 10 Escudos

Segue uma foto das moedas da última cunhagem, em 1970, organizadas. 

Timorescudo2.jpg

Aqui está mais outra parte das postagens sobre as moedas de Timor. Tentarei futuramente fazer uma terceira, e última, parte sobre as moedas de Patacas e os Avos.

Espero que tenham apreciado a leitura, qualquer informação ou comentários serão bem- vindos.

Friday, April 18, 2014

Moedas de Timor - Parte 1 - As moedas atuais - Centavos de 2003

Como sou um colecionador de cédulas e moedas, não posso deixar de escrever mais uma postagem sobre o assunto (escrevi uma postagem anterior sobre as cédulas de Timor que pode ser lida aqui), desta vez escreverei em duas partes, sendo esta primeira em que discorrerei sobre as moedas atuais, e na segunda escreverei um pouco sobre os escudos timorenses.

A unidade monetária de Timor-Leste é o Dólar Americano, cujas cédulas circulam até a atualidade, porém moedas próprias do país começaram a circular em 2003, com a escrita em língua portuguesa, marcando os centavos, e apresentando elementos culturais leste-timorenses, sendo as moedas de 1, 5, 10, 25, 50 e a mais nova de 100 centavos. Por isso, chamo-as de Centavos de 2003, enfatizando o ano em que começaram a ser cunhadas e também para não confundir com os centavos do Escudo Português, unidade monetária de Timor em vigor na década de 1970, que comentarei na próxima postagem. Ainda, de acordo com a INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda de Portugal, responsável pela cunhagem das moedas leste-timorenses, houve cunhagem ininterrupta de 2003 até 2013. Não tenho informações sobre o ano de 2014, mas provavelmente elas devem continuar a serem cunhadas neste ano também.

Neste blogue sobre economia de Timor-Leste (http://economianacaotimorlestebcr.blogspot.com.br/2009/02/moedas-de-timor-leste.html), há informações interessantes sobre as repercussões da cunhagem destas moedas e seu uso na economia do país, além de breves descrições de cada uma, da mesma maneira que será feito aqui.

Antes de começar a falar de cada uma separadamente, chamo atenção ao leitor de que todas as moedas de centavos de Timor-Leste apresentam o kaibauk abaixo do valor facial e um ornamento em volta também do valor facial, que representa o belak. Ambons são símbolos de poder presentes nas vestimentas tradicionais de nobres leste-timorenses, com o kaibauk sendo um ornamento usado na cabeça e semelhante a chifres, enquanto o belak é um escudo metálico, geralmente de prata, usado na maioria das vezes pendurado no peito. Os dois ornamentos podem ser vistos na foto abaixo:


Antes de falar os detalhes de cada uma das moedas, segue um esquema delas (exceto a de 100 centavos):

 



A moeda de 1 centavo é de aço revestido de níquel e apresenta um molusco em seu anverso, chamando atenção à fauna e a natureza em geral do país.


A moeda de 5 centavos também de aço revestido de níquel e apresenta em seu anverso o milho, que é uma das bases da alimentação leste-timorense, junto com o arroz. Representa também a necessidade da da agricultura e da alimentação do povo de Timor-Leste, que de certa forma passa por uma crise.


A moeda de 10 centavos é a terceira e última de aço revestido de níquel. Possui o galo em uma de suas faces que é um dos símbolos nacionais, tanto pela importância da luta de galos, assim como do entretenimento que tais lutas fornecem, como também do tratamento especial oferecido a esses animais pelos cidadãos do país.


A moeda de 25 centavos foi feita de uma liga de níquel e bronze entre os anos de 2003 até 2012, e a partir de 2013 a liga passou a ser de bronze e alumínio. Em seu anverso possui uma embarcação tradicional do país usada pelos pescadores, lembrando que a atividade pesqueira é de extrema importância também.


Da mesma maneira que a moeda de 25 centavos, a moeda de 50 centavos era feita com uma liga de níquel e bronze até o ano de 2012, sendo que a partir de 2013 a liga passou a ser de bronze e alumínio. Em uma de suas faces está representado o café, que é uma exportação de Timor-Leste, assim como esta espécie de café do país é mundialmente conhecida desde o período colonial, com diversos estudos dedicados a ele, incluindo até comentários do reconhecido Ruy Cinatti.


A moeda de 100 centavos começou a ser produzida somente a partir do ano de 2012 e é prateada e dourada, constituída de cuproníquel (prateado) e por uma liga de bronze e alumínio (dourada). Em sua face está Dom Boaventura que é o herói nacional e que se revoltou contra o domínio na Revolta de Manufahi . 

Foram comentadas acima todas as moedas em circulação de Timor-Leste, não comentei medalhas, nem as moedas comemorativas de prata e de ouro, que não são para circulação, apenas para a compra por colecionadores. Ainda, falando em colecionadores, no Banco Central de Timor-Leste (BCTL) e na INCM, há disponíveis para compra estojos e caixas de moedas de prova (em inglês proof) dos conjuntos de moedas de Timor-Leste, além do folder da moeda de 100 centavos. Vejam a foto abaixo desses belíssimos itens:   


Encerro aqui esta postagem sobre os Centavos de 2003 de Timor-Leste para, na próxima, falar dos Escudos Timorenses (esta próxima postagem já pode ser lida aqui). Até lá!

Saturday, March 29, 2014

Alguns comentários ao Léxico Fataluco-Português de Alfonso Nácher


Pe. Alfonso Nácher com alunos de Fatumaca, Baucau, Timor-Leste.
Foto do Arquivo Salesiano de Comoro (Nácher 2012, p. 74)

De acordo com o que foi exposto na postagem anterior, dou continuidade agora, realizando alguns comentários ao Léxico Fataluco-Português (Para ler a postagem anterior sobre a obra clique aqui). Primeiramente, falarei dos artigos que estão na nova edição de 2012 e que antecedem o manuscrito de Nácher. Posteriormente, escreverei sobre a biografia do padre e as referências para maiores informações. Finalmente, farei alguns comentários sobre a temática linguística e lexicográfica.

Esta edição do Léxico Fataluco-Português dos Salesianos de Dom Bosco Timor-Leste, de 2012, apresenta três artigos importantes que valem os comentários, são eles: Uruvatju e Tjiapu: Genealogias Invisíveis da Etnografia Missionária em Timor-Leste, de autoria de Frederico Delgado Rosa; Oleu Pitine de Efrén Legaspi Bouza; e A Religião em Timor-Leste a partir de uma Perspectiva Histórico-Antropológica, de Alberto Fidalgo Castro.

O artigo de Delgado Rosa, Uruvatju e Tjiapu: Genealogias Invisíveis da Etnografia Missionária em Timor-Leste, analisa principalmente a produção bibliográfica e científica da atividade missionária em Timor-Leste. Basicamente, os missionários no país produziram muito material em duas áreas do saber, são elas: antropologia e linguística. Na parte inicial do artigo, o autor enfatiza a existência de muitos manuscritos perdidos e não publicados que possuíam estudos das línguas nativas leste-timorenses (p. 14). Na outra parte de seu artigo, Rosa chama atenção para a questão da cristianização/catequização em Timor-Leste que às vezes era feita por imposição à força na população nativa, ocorrendo um choque cultural em que prevalecia a cultura ocidental e a cultura local era estigmatizada ou até destruída. O mesmo ocorre na questão linguística em que eram impostos empréstimos de itens culturais da religião cristã, com lexemas como Diabo, Deus, igreja, catecismo etc. que não existiam nas línguas nativas (p. 18). O autor discute isso no caso dos dicionários da língua Tetun: Dicionário Portuguez-Tétum de Sebastião Aparício da Silva, de 1889, e Dicionário Teto-Português de Rafael da Dores, de 1907, em que a tradução de certos conceitos era usada como ferramenta para destruição da cultural local ou para instaurar o temor aos nativos (p. 22). Para saber um pouco mais desses dicionários, acesse aqui.
    
O artigo Oleu Pitine de Efrén Legaspi Bouza é uma biografia detalhada do padre Alfonso Nácher, que é um resultado de extensa pesquisa biográfica com base em documentos consultados e analisados, assim como entrevistas realizadas pelo autor (p. 42). Ainda, o autor se baseou em sua pesquisa inicial na pequena biografia escrita por Geoffrey Hull como introdução à publicação do manuscrito (p. 41), em 2003 (maiores informações são encontradas na postagem anterior já citada). Não falarei mais da biografia, pois a seguir apontarei as principais informações sobre a vida do padre Nácher.

O terceiro artigo, de autoria de  Alberto Fidalgo Castro, intitulado A Religião em Timor-Leste a partir de uma Perspectiva Histórico-Antropológica, trata-se de uma extensa análise antropológica da religião em Timor-Leste. O autor divide seu escrito em três partes (p. 82), oferecendo primeiramente um panorama dos estudos antropológicos em Timor-Leste, para depois analisar a presença da religião católica no país e, na terceira parte, contrastar o choque entre a religião católica e as práticas animistas dos diferentes povos leste-timorenses, principalmente por meio do estudo dos mitos e outros gêneros da literatura oral leste-timorense (p. 99). O que é muito válido aqui para os estudos linguísticos é o fato de que não é possível desassociar o estudo da língua dos aspectos culturais do povo falante da língua (p. 95). Isto fica bem explícito nesses artigos introdutórios comentados nesta postagem. Nos estudos antropológicos sobre aspectos da cultura do povo Fataluku, assim como no próprio manuscrito elaborado pelo Pe. Nácher, quando se estuda a cultura dos Fataluku se aborda certas questões linguísticas, e quando se estuda a língua Fataluku, um conhecimento da cultura deste povo é importante para elucidar certas questões que possam surgir durante a investigação.

Sobre a biografia de Alfonso Nácher, o artigo Oleu Pitine, de Efrén Legaspi Bouza, fornece informações detalhadas aos interessados nos estudos biográficos, ou em saber aspectos específicos da vida do padre. Na introdução de Hull feita ao Léxico Fataluco-Português é possível encontrar uma nota biográfica a respeito de Nácher (p. 123). Ainda, há um artigo interessante de Susana de Matos Viegas, intitulado Três etnografias dos anos 1970: Os Fataluku, em que a autora analisa três importantes estudos sobre os Fataluku, sendo o de Nácher um deles (o texto pode ser acessado aqui). Para não repetir a biografia presente no livro, citarei aqui as informações biográficas oferecidas pela autora, apenas complementada pela nota de Hull:      

[...] o Padre Alfonso Maria Nacher y Lluesa [...] nasceu em Valência (Espanha), tendo recebido em 1932 a ordenação sacerdotal. Em 1941-1942 fez o curso de ciências naturais e em 1952 foi director do colégio de Santo António no Estoril (cf. Hull, 2003: 135). Em 1955, o Padre Alfonso Nacher foi para Timor-Leste como voluntário da Missão Salesiana de Fuiloro onde permaneceu até 1968. 

(Viegas 2011, p. 2)

O afamado colégio salesiano e escola de ofícios de Fatumaca, uma aldeia situada nas montanhas a sul de Baucau, esteve sob a direcção do Padre Alfonso Nácher desde 1973 até 1979, o período traumatizante em que se assistiu ao fracasso do processo de descolonização no Timor Português, à violenta guerra civil e à sangrenta invasão indonésia. Entre os anos 1979 e 1982, quando as autoridades indonésias obrigaram a população animista da ‘província vigésima-sétima’ a adoptar uma religião oficialmente reconhecida pelo Estado, o Padre Alfonso e os seus confrades da missão de Lospalos tiveram que preparar para o baptismo cristão milhares de Fatalucos que tinham escolhido o catolicismo (naquela época os gentios constituiam 64% de uma população regional de 32.021). 
Em 1983, ainda vivaz e activo apesar dos seus 78 anos, o Padre Alfonso voltou a Fatumaca como mestre de noviços, sucedendo ao Pe. Carlos Filipe Ximenes Belo, que o Papa João Paulo II acabara de nomear administrador apostólico da diocese de Díli. Terminada essa função dois anos depois, pôde então dedicar-se ao ensino, sobretudo da matemática e do inglês. 
Aos 87 anos de idade, no dia 24 de Maio de 1992, o Padre Nácher festejou o jubileu de diamante da sua ordenação. Nos sete anos que se seguiram e até falecer, o idoso missionário, embora afectado por senilidade progressiva, nada perdeu da sua vivacidade e bondade. Onde quer que fosse era imediatamente reconhecido pelo seu físico ainda atlético, paradoxalmente combinado com uma longa e branca barba.

(Hull, p. 124. In: Nácher 2012)

Durante o período de treze anos em que foi director da missão (1955-1968), o Padre Alfonso Nacher construiu um dicionário da língua Fataluku. O contributo do texto para o conhecimento dos Fataluku é hoje reconhecido por Geoffrey Hull, nomeadamente pela sua contextualização etnográfica, resultante do facto do padre dar grande importância “aos aspectos antropológicos da pesquisa linguística” (Hull, 2003: 138). A relação e o compromisso do Padre Alfonso Nacher para com os Fataluku teve ainda outras componentes. Uma das que importa ressaltar é o seu envolvimento na oficialização da religião católica dos habitantes da região do leste de Timor, durante a sua permanência na missão de Lospalos entre 1979 e 1982. Um outro contributo mais indirecto de Alfonso Nacher para a vida timorense foi o facto, sublinhado por José Mattoso (2005), de ele ter influenciado a formação intelectual de Konis Santana (o importante líder da resistência timorense) que “lia livros e revistas emprestados pelo padre Alfonso Nacher” (Mattoso, 2005: 41).
A qualidade etnográfica deste dicionário pode ser exemplificada pela maneira como os significados de cada palavra se referem a práticas socioculturais. Assim, por exemplo, o dicionário indica que a palavra ira-foole significa: “bruxedo que faz um homem todo mascarado de negro, deitando sal numa nascente e empurrando o sal com uma vassoura para dentro. Depois disto foge por caminhos tortos para não ser apanhado pelo Diabo” (Nacher cit. in Hull, 2003: 162). O dicionário vai ainda oferecendo ricas informações sobre diferentes significados de uma mesma palavra, consoante não apenas contextos semânticos diversificados, mas também contextos de acção de significação diversa. Assim acontece na descrição do significado de ha’ulu, indicando que num primeiro sentido pode significar “terramoto”, como na frase ha’ulu mu’a hoke: “no terramoto a terra treme” ou ha'ulu mu’a hoke akam: “o terramoto não durou”; enquanto que, num segundo sentido, a mesma palavra Ha’ ulu (aqui grafada pelo autor com letra maiúscula) significa “O espírito que guarda as quatro colunas da terra, sustentando-as. Consideram-no [a Ha’ulu] o pai primeiro de todos os homens” (Nacher cit. in Hull, 2003: 165).
O legado deste dicionário de Alfredo Nacher está, em suma, no desenvolvimento de um estudo da língua Fataluku entendido na sua contextualização etnográfica. Para que significados como o de Ha’ulu remetessem para um entendimento antropológico mais vasto sobre a origem do mundo, da natureza e de vivências históricas dos Fataluku, teriam sido necessárias descrições etnográficas mais densas. Tal não foi e nem podia ter sido feito pelo padre Alfonso Nacher, pois implicaria uma contextualização do conhecimento que estaria longe dos seus interesses e motivações primordialmente religiosos e missionários.

(Viegas 2011, p. 3)

Indiscutivelmente, o linguista Geoffrey Hull deu um tratamento exemplar ao manuscrito original de Nácher, organizando-o para edição e publicação, oferecendo as notas introdutórias, corrigindo os erros tipográficos do original e adaptando as entradas do léxico à ortografia padronizada do INL (Instituto Nacional de Linguística) para maiores informações, acesse aqui. Porém, como trabalho científico, apresenta também certos pontos que necessitam de reparos para a pesquisa. Chamo atenção nesta postagem para dois principais: as omissões feitas por Hull do manuscritos original e maiores informações sobre a língua Fataluku.

Em relação às omissões, o autor afirma que "Infelizmente, limitações de espaço obrigaram-nos a omitir a maior parte das traduções tétum dos verbetes e expressões em fataluco." (p. 125). Atualmente, considero isso uma falha, já que, de certa forma, o manuscrito original é inacessível ao público e sua publicação está bem adaptado em relação ao conteúdo que Nácher escreveu, assim como os verbetes em Tetun e as expressões em Fataluku são dados linguísticos importantíssimos que deveriam ser publicados, principalmete por causa da escassez de material para pesquisa e para o ensino. Ainda, o autor justifica que tais omissões foram feitas, mas que "estes elementos da obra não serão desperdiçados, pois vão ajudar o Instituto Nacional de Linguística na elaboração de um vocabulário de tétum e fataluco." (p .125). Porém, não foi isso que aconteceu, pois há anos o INL está parado com entraves burocráticos, ausência de pessoal, falta de verba etc. Mesmo que alguns interessados argumentem que não, o fato é que desde aproximadamente 2005 o INL não produz/publica material ou pesquisa de impacto algum.  

Finalmente, as breves características da língua Fataluku oferecidas por Hull ao leitor são inexatas, já que, além de extremamente superficiais, deixam a desejar na área de fonologia e morfologia da língua. Para não me alongar mais do que já fiz nesta postagem, para maiores informações sobre a língua Fataluku, publicações e estudos linguísticos. peço ao leitor que consulte o seguinte link:
http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2009/11/on-fataluku-language.html e para um estudo linguísticos valioso sobre a morfossintaxe do Fataluku, e com informações introdutórias atuais sobre a língua, consultar o artigo do linguista Aone van Engelenhoven, intitulado On derivational processes in Fataluku, a non- Austronesian language in East Timor:
http://www.academia.edu/3711452/On_derivational_processes_in_Fataluku_a_non-Austronesian_language_in_East_Timor.



Referências:

Nácher, Alfonso. Léxico Fataluco-Português. Dili: Salesianos de Dom Bosco Timor-Leste, 2012.

Viegas, S M. Três etnografias nos anos 1970: os Fataluku. In: Actas do Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial. AHU, 24-25 de Maio de 2011. 

Friday, March 28, 2014

Léxico Fataluco-Português de Alfonso Nácher


Lançada em 2012, a obra Léxico Fataluco-Português é um verdadeiro avanço nos estudos linguísticos de Timor-Leste, tanto pela acessibilidade da publicação, quanto pela qualidade do material.Eu já estava com planos de escrever algo a respeito há algum tempo, desde o lançamento da obra em 2012, porém por possuir outros afazeres acabei deixando para depois. Mas agora escreverei uma postagem digna de tal publicação. 

Léxico Fataluco-Português é um manuscrito, datado de 1984, de autoria do padre salesiano Alfonso María Nácher Lluesa, foi digitado primeiramente por Justino Valentim, em 1992, e editado, recebendo todo um tratamento linguístico e filológico, por Geoffrey S. Hull, em 2003 e 2004, no periódico Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste, em seus volumes 5 e 6, datados de 2002/2003 e 2004, respectivamente. Ver as referências abaixo (Nacher 2002/2003, 2004). 

A edição de 2012 do Léxico Fataluco-Português foi coordenada por Alberto Fidalgo Castro e Efrén Legaspi Bouza e trata-se da publicação completa do mesmo manuscrito na versão que o linguista australiano, Geoffrey Hull, preparou para ser publicado em duas partes em Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste, conforme foi citado anteriormente. 

O resumo da obra pode ser lido abaixo e também pode ser encontrado na postagem do blogue Professores de português em Timor-Leste (http://profesdeptemtl.blogspot.com.br/2012/12/lexico-fataluco-portugues.html), assim como o link para download, que também pode ser acessado aqui, diretamente do repositório da Universidade Da Coruña.

Segue o resumo: 

Apresentamos nas páginas seguintes uma edição crítica do Léxico Fataluku-Português do padre salesiano Alfonso María Nácher Lluesa, a partir de uma perspectiva antropológica, histórica e linguística. Esta edição é uma iniciativa pensada a partir do Projeto de Desenvolvimento Rural de Liquiçá II (RPDLII), que tem como financiador a Agência Espanhola de Cooperação para o Desenvolvimento (AECID) e como sócio local a Fundação Companhia de Jesus de Timor-Leste.
O livro coloca a reimpressão do trabalho que —sob a dactilografia do manuscrito do padre Nácher— foi efectuado pelo linguista Prof. Geoffrey Hull e que foi publicado na revista Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste, —hoje desaparecida e de difícil aceso— dividido em duas partes, nos anos de 2003 e 2004. Nesse sentido, o objectivo principal da obra é colocar à disposição dum público amplo e dum público académico a obra do padre Nácher, para que sirva de referência para futuras investigações. Assim, o presente livro também é uma homenagem à pessoa do padre Nácher e aos frutos do seu trabalho como missionário em Timor-Leste. 
O manuscrito original do padre Nácher recolhe definições em português de léxico e expressões em língua Fataluku, assim como a tradução correspondente nas línguas Tétum e Makasae. O léxico recolhido contém uma quantidade significativa de conceitos e expressões referentes ao património cultural, tanto tangível como intangível (rituais, gastronomia, tarefas agrícolas, tradição oral) dos falantes da língua Fataluku. 
A presente edição do livro está dividida em duas partes, constituindo a segunda parte a reimpressão do trabalho que o Prof. Hull efectuou sobre o texto do padre Nácher. Além disto, o dicionário é precedido duma primeira parte composta por três artigos inéditos que, a partir da Antropologia Social e Cultural, proporcionam um conhecimento académico que permite a contextualização e a valorização do trabalho realizado na devida altura pelo padre Nácher. Esta primeira parte é composta por um artigo de Frederico Delgado Rosa em que analisa a génese das etnografias feitas por missionários e religiosos em Timor-Leste, em que se inclui a do léxico do padre Nácher. Em segundo lugar, apresenta-se uma história de vida do padre Nácher realizada pelo antropólogo e jornalista Efrén Legaspi Bouza e, finalmente, um texto sobre as relações entre o catolicismo e a religião tradicional a partir de uma perspectiva histórico-antropológica, escrito por Alberto Fidalgo Castro. 

Para não tornar esta postagem demasiada longa encerro aqui, porém, logo a seguir, continuo na próxima postagem, intitulada Alguns comentários ao Léxico Fataluco-Português de Alfonso Nácher (acesso aqui), com maiores informações. Na próxima postagem, apresentarei uma breve biografia do Pe. Alfonso Nácher, informações a respeito da língua Fataluku e seus estudos linguísticos e também comentarei o tratamento dado ao manuscrito original, por Geoffrey Hull, assim como o conteúdo da obra. 

Até lá... 


Referências:

Nacher, Alfonso Maria, (2002/2003). Léxico Fataluco-Português (primeira parte). Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste 5: 135-196.

Nacher, Alfonso Maria, (2004). Léxico Fataluco-Português (segunda parte). Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste 6: 119-177.


Tuesday, March 25, 2014

Gramática Tétum de Luís Costa

Luís Costa é um conhecido linguista timorense que vem se dedicado à investigação do Tetun e já publicou obras importantes a respeito desta língua oficial de Timor-Leste, como Guia de Conversação Português-Tétum (foto à direita), de 2002, e foi também autor do Dicionário Tétum-Português (à esquerda), que apesar de ser criticado por alguns linguistas especialistas na realidade de Timor-Leste, como João Paulo Esperança em seu escrito Ensinar português em Timor, que pode ser lido em: http://timor2006.blogspot.com.br/2007/06/ensinar-portugus-em-timor.html e posteriormente foi transformado em um livro (que pode ser adquirido aqui: http://www.blurb.com/b/1264519-ensinar-portugues-em-timor?ce=blurb_ew&utm_source=widget), assim como maiores informações no blogue Hanoin oin-oin do autor: http://jpesperanca.blogspot.com.br/2010/08/livros-vontade-do-fregues.html, este dicionário até a atualidade se destaca por seu rigor lexicográfico e por seu um dos únicos disponíveis no mercado. 

Recentemente, saiu uma notícia em vários portais que abordam os acontecimentos de Timor-Leste, como o Sapo.tl ou Página Global, intitulada Edição da gramática de tétum que pode ser lida aqui: http://estudante.sapo.tl/artigos/artigo/edicao-da-gramatica-de-tetum-365632.html ou http://paginaglobal.blogspot.com.br/2014/03/timor-leste-gramatica-de-tetum-espera.html.

Luís Costa afirma que possui uma gramática Tetun há mais de um ano, mas que não encontra nenhum tipo de financiamento e/ou editora interessada na publicação. O autor fala também a respeito da ausência de materiais sobre o Tetun, dizendo que "não existe nada" somente "alguns apontamentos feitos por padres e por militares" e cita a gramática elaborada por Hull e Eccles (Tetum Reference Grammar), de 2001, que possui suas limitações, principalmente por ter sido elaborada por linguistas anglófonos. Devo ressaltar que há diversos outros problemas na obra, como a constante comparação entre as variedades da língua Tetun (Tetun Prasa e Tetun Terik), informações diacrônicas em meio à descrição gramatical e redução da importância da fonologia e da influência da língua indonésia.

Ainda, ele fala que a revisão de seu dicionário, citado acima, está em andamento devido a uma bolsa da Fundação Oriente. Provavelmente, serão reparados certos problemas existentes na obra, como o excesso de purismos em Tetun e o reduzido número dos empréstimos lusófonos.

Ao falar da importância de sua gramática, Luís Costa cita a função que ela teria para o ensino tanto de português, quanto de Tetun, e como seria uma ferramenta útil no processo de ensino e aprendizagem (para professores e alunos) das duas línguas nas escolas de Timor-Leste, já que a obra, além de ser elaborada por um cidadão leste-timorense, foi feita por um autor lusófono pensando em um público-alvo específico.

Outro ponto que devo acrescentar aqui que a gramática de Luís Costa não é a única, pois elaborei também uma gramática do Tetun Prasa em meu mestrado, em 2011, sendo minha dissertação intitulada Esboço gramatical do Tetun Prasa: língua oficial de Timor-Leste, e que maiores informações podem ser lidas no seguinte link: http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2012/04/recentemente-alguns-colegas-linguistas.html. Desde o ano de 2011 também venho tentando publicá-la, procurando financiamento e editoras brasileiras e portuguesas, porém não consegui nenhuma resposta positiva até o momento. 

Quem sabe no futuro consigamos, Luís Costa e eu, obter algum sucesso. Enquanto isso ambos continuamos nossos respectivos trabalhos de investigação...

Monday, March 17, 2014

Textos em Teto da literatura oral timorense


Autor do livro Textos em Teto da literatura oral timorense (imagem acima), o padre Artur Basílio de Sá esteve em missão no oriente, especificamente na década de 1940 no outrora chamado Timor Português. De acordo com um texto de Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, intitulado O Septuagésimo aniversário da diocese de Dili, presente no Forum Haksesuk, no link
a Diocese de Dili foi fundada em 1941, tendo entre outros, a presença do Pe. Artur Basílio de Sá, na função de 'ecónomo'. Informações adicionais sobre a biografia deste padre são escassas e, atualmente, estou a pesquisar fontes que possam esclarecer mais sobre a vida do autor.

Além da obra comentada nesta postagem, Sá escreveu também um importante estudo sobre a língua Tetun Notas sobre linguística timorense: Sistema de representação fonética publicado em Estudos Coloniais (Lisboa, v.3 n.1-2, p. 39-60) no ano de 1952. Ainda, Pe. Basílio de Sá compilou uma documentação referente às missões no oriente, na obra clássica Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente. Insulindia em 5 volumes publicados entre os anos de 1954 e 1958 pela Agéncia Geral do Ultramar, que estão disponíveis para consulta em Memória de África da Fundação Portugal-África no link:

Vicente Paulino escreveu um breve artigo que apresenta a vida e a obra de Basílio de Sá que pode ser acessado em: http://www.historyanthropologytimor.org/wp-content/uploads/2014/01/PAULINO_BiografiaArturSa.pdf e faz parte do projeto History and Anthropology of Portuguese Timor Online Dictionary of Biographies.

O livro Textos em Teto da literatura oral timorense consiste na transcrição de vários mitos tetunófonos de tradição oral, que versam desde a origem da ilha de Timor até narrativas de guerras e de heróis. Os textos também possuem suas respectivas traduções em português e uma série de notas explicativas. Estas 'notas' possuem um caráter mais de comentários, apresentando análises linguísticas dos textos em Tetun, informações culturais notáveis sobre os povos leste-timorenses e vários outros comentários de natureza enciclopédica.

Esta obra não se encontra disponível para fazer download em nenhum site e a única maneira de o leitor ter acesso a ela é por meio da compra do livro ou da consulta em bibliotecas. Mas fica aqui registrada a importância desta obra para o estudo da literatura oral leste-timorense, mas também para um melhor conhecimento de aspectos culturais, sociais, históricos e linguísticos que Basílio de Sá fornece em suas notas explicativas como um verdadeiro conhecedor e estudioso da realidade do povo de Timor-Leste.


Sunday, March 02, 2014

A nascente literatura de língua portuguesa em Timor-Leste

Continuando a falar um pouco mais da literatura leste-timorense, conforme pode ser lido nas postagens anteriores aqui (a respeito da tese de Damares Barbosa Roteiro da literatura em Timor-Leste em língua portuguesa, defendida na USP, em 2013) e aqui (sobre a dissertação de mestrado de Nuno da Silva Gomes A literatura popular de tradição oral, em Timor-Leste: caracterização, recolha e modos de escolarização, defendida na Universidade do Minho, em 2007) apresento aqui a comunicação apresentada ao IV SIMELP de autoria de Edson Luiz de Oliveira, também da Universidade de São Paulo (USP), intitulada A nascente literatura de língua portuguesa em Timor-Leste.

O resumo reproduzido abaixo pode ser lido na página do evento (http://www.simelp.letras.ufg.br/simposios/simposios_01_20.pdf) com os demais resumos das outras comunicações apresentadas aos diferentes simpósios que ocorreram.

ResumoOs navegantes portugueses chegaram à ilha de Timor no início do século XVI, interessados no sândalo, árvore que se encontrava em abundância nos bosques daquela ilha da Insulíndia. Conforme ficou registrado em versos de Os Lusíadas, onde Camões se refere ao “sândalo, salutífero e cheiroso”. Enquanto os comerciantes praticavam a exploração daquela madeira exótica, missionários católicos se estabeleciam na ilha, difundindo o cristianismo e ensinando a língua portuguesa. Ao longo dos séculos, a exploração sem critérios resultou na quase extinção das árvores de sândalo. Porém, a língua portuguesa e a religião católica permaneceram. Por outro lado, os timorenses possuem formas de expressão próprias muito antigas, transmitidas oralmente nas 16 línguas faladas no território. O tétum, considerado há muito tempo a língua franca do Timor, é também, a que possui mais textos escritos, muitas vezes em formato bilíngue, em parceria como português ou inglês. Hoje, Timor-Leste, oficialmente denominado República Democrática de Timor-Leste é um dos países mais jovens do mundo, completando 10 anos em 2012. A nação timorense resultou de um doloroso processo de independência iniciado em 1974, tendo o português como uma de suas duas línguas oficiais, garantidas pela Constituição de Timor-Leste. A literatura e a política convergem em muitos momentos da história de Timor-Leste; o ex-primeiro ministro Ramos-Horta começou sua carreira como jornalista, enquanto o grande líder revolucionário Xanana Gusmão pode ser considerado como o poeta número um de Timor-Leste. No entanto, esse país, membro mais jovem da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ainda não possui uma historiografia literária sistematizada. Pretende-se nesta apresentação destacar algumas obras de autores timorenses que escreveram em português, assim como portugueses e brasileiros que publicaram textos sobre o Timor durante a estada naquela ilha, ou após retornarem a seus países de origem. Também há os timorenses da diáspora, residentes seja em Portugal, seja na Austrália que recordam sua terra natal no idioma português.

Como o trabalho não foi publicado nos anais do IV SIMELP em sua versão estendida, deixo aqui para o leitor, que tiver vontade de conhecer mais a respeito do trabalho deste autor, os slides da bela apresentação feita, é só clicar na imagem para fazer a leitura e o download:

 


A literatura popular de tradição oral em Timor-Leste

A dissertação de mestrado intitulada A literatura popular de tradição oral, em Timor-Leste: caracterização, recolha e modos de escolarização foi defendida em 2007 por Nuno da Silva Gomes no Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho, em Braga, Portugal. 

Conforme mencionei rapidamente na postagem anterior (http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2014/03/roteiro-da-literatura-em-timor-leste-em.html), esta dissertação apresenta uma contribuição importantíssima ao estudo da literatura leste-timorense ao fazer um trabalho triplo, que foram os seguintes: um estudo dos gêneros literários orais da literatura leste-timorense; uma ampla coleta de dados com a reprodução/transcrição e tradução de vários textos; a análise tanto estrutural como dos ensinamentos existentes em cada um dos textos coletados. Chego até a consultá-la e citá-la, em algumas de minhas publicações, devido ao belo trabalho feito pelo autor.

Seguem o resumo e o abstract

ResumoA presente dissertação pretende ser uma análise crítica da literatura de tradição oral, focando especialmente os aspectos da tradição da comunidade em Timor-Leste, sobretudo na comunidade étnica Tétum Terik em Fohoren. Aí, existem três formas de literatura popular de tradição oral, com características próprias: a poesia narrativa, “hamulak”; o verso, “aiknananuk”; e o conto popular, “aiknanoik”. Nessa comunidade, como na comunidade timorense em geral, não é conhecida a tradição escrita. Por isso, a tradição oral foi e é considerada como um veículo importante na transmissão dos saberes do povo. Pela sua função de “arquivo” de saberes ancestrais do povo, contendo tradições, sistemas de valores e outras normas convencionais da comunidade, este estudo vai analisar as estruturas narrativas de textos recolhidos e seleccionados, e tentar descobrir os signos convencionais da comunidade, intimamente ligados à sua tradição. Para atingir este objectivo, o presente trabalho estabelece dois modelos de aproximação complementares: o de critica textual literária e o didáctico-formativo. O primeiro tem como objectivo a explicação dos aspectos textuais no contexto daquela comunidade, relacionando-os com os aspectos de sistema convencionais da comunidade. O segundo é uma aproximação metodológica, isto é, o aproveitamento dos textos literários recolhidos para o ensino aprendizagem na aula de Língua Portuguesa em Timor-Leste. Por meio da análise estrutural das narrativas de tradição oral, encontramos muitos códigos culturais da comunidade, que fornece informações e possibilita a interpretação e a compreensão dos textos literários. Na parte da análise de textos, a propósito do hamulak, encontramos, pelo menos, quatro visões da comunidade do étnico Tétum Terik em Fohoren: 1) A visão sobre o seu ente supremo (Maromak), que significa o iluminador; 2) A visão sobre a amizade e a harmonia da comunidade; 3) a visão sobre a reincarnação depois da morte; 4) a visão sobre o bem e o mal. No texto aiknananuk, estão subjacentes os ensinamentos morais da comunidade. Nos textos de contos e lendas populares, encontram-se a sabedoria e os aspectos importantes da cultura e das normas sociais do povo. Na parte final, apresentamos sugestões metodológicas para a aplicação do trabalho ao ensino da Língua Portuguesa, em Timor, nos aspectos culturais e ensino da literatura, sobretudo a alunos de nível pré secundário, em todo o território de Timor-Leste. 

Abstract: The main goal of this dissertation is to make a critical analysis of oral tradition of literature, focusing especially on the aspects of tradition of East Timor community, specifically about the Tétum Terik ethnic community in Fohoren. There are at least three types of popular literary of oral tradition with its proper characteristics such as narrative poetry “hamulak”, verse “ainananuk” and folktale “ainanoik”. In this community as in East Timor community in general, does not know any script tradition, so that, the oral tradition was and is considered as a very important instrument for the transmission of this oral tradition to the people. Because of its function as an archive of the ancestral knowledge of the people which contains its traditions, its values systems, and other conventional norms of the community, this study is going to analyze the narrative structure of the text and try to discover the conventional signs of the community which is intimately related to its traditions. To obtain this objective, this study is using two types of approach; the literary textual critics and the didactic formative. The objective of the first approach method is to explain about the textual aspects in the context of that community, relating to the aspects of the conventional systems of the community that facilitate the understanding and interpretation of the literary work. The second approach is a methodological approach. It is about the use of the literal texts that are gathered for the teaching training in Portuguese classes in East Timor. Through the mean of narrative structural analysis of oral tradition, we find a lot of cultural signs of the community that provide the information and facilitate an interpretation and understanding of literary texts. In side of the text analysis, in respect of Hamulak, we find at least four point of view of Tétum Terik ethnic community in Fohoren. 1) A point of view of the Supreme Entity (Maromak) that means the Illuminator. 2) A point of view of the amity or friendship and harmony in community. 3) A vision of reincarnation after death. 4) A vision about the good and bad. In the text 2 (ainananuk) is the subjacent of the moral teachings of the community. In the texts of folktales and legends there would be found all of the wisdoms of the community, the important aspects of the culture and social norms of the people. At the last part of the study, we present a methodological recommendation for the teaching of the Portuguese, the cultural aspects of the community, and the teaching of the literary, especially in the junior high school in all part of East Timor.

Abaixo é só clicar nas imagens para fazer o download da capa e da dissertação: