Em um post recente sobre o programa Globo Ecologia ter Timor Leste como seu tema mencionei uma entrevista do repórter e comentei também sobre o despreparo e o desconhecimento que ronda a televisão e outros meios midiáticos.
(http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/04/programa-globo-ecologia-em-timor-leste.html)
(http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/04/programa-globo-ecologia-em-timor-leste.html)
Em um comentário a esse post, uma visitante de nosso blog tocou em uma questão interessante: como se aborda uma outra cultura. Ela fez o seguinte comentário (que reproduzo com sua autorização, caso não seja possível e queira retirar tal comentário, por favor, me avise):
São cada vez mais comuns, expressões como: “É uma história muito bonita, uma lenda, muito interessante, que revela uma cultura muito forte. ” ou “É um país pequeno, mas muito rico culturalmente”. Questiona-se, em princípio, se um território que se autoidentifica como Nação, seja ela qual for, tem culturas mais fortes e mais ricas. Se há intenção de elevar a Nação em paridade com outras, isto não ocorre, visto que dá margem à interpretação que possam existir culturas fracas e pobres.
Além de ter sido mencionado o problema de se elevar uma cultura a um status superior, o que leva ao equívoco de se pensar que há culturas que sejam inferiores, há outros problemas que considero sérios em relação a tal tipo de comentário e-ou abordagem de uma outra cultura. Entre eles menciono a hipocrisia que procura mascarar as misérias do mundo, no caso de Timor Leste a "cultura rica" está definhando por causa de disputas internas e pela desastrosa atuação internacional que é considerada como a salvadora de Timor Leste. É claro que a ajuda internacional de algumas entidades propiciou o desenvolvimento do país, mas atualmente ocorre o que eu chamo de elogio à pobreza: diversos estrangeiros que ganham salários milionários são elevados à imagem de verdadeiros heróis de Timor Leste simplesmente pelo fato de sua posição privilegiada social e financeiramente. Sem mencionar que muitos funcionários estrangeiros com esses salários milionários estimulam a economia do país (eu mesmo no período de 2008 e 2009 que morei em Timor Leste vi muito!!!) investindo nas pricinpais áreas do desenvolvimento econômico: boates, bebidas e prostituição!!!! Então, se a população leste-timorense é educada com o estrangeiro simplesmente o faz pelo fato de querer sair da pobreza que o país se encontra, mas isto é mascarado através de discursos hipócritas.
Ainda, tenho algumas palavras sobre a "cultura rica" de Timor Leste, que nada mais é do que um conjunto de traços da cultura material e imaterial de origem Austronésia que se encontra presente nas ilhas vizinhas, principalmente às pertencentes a Indonésia, como Larantuka, Molucas etc., e que possui ligeiras modificações devido ao fato de algumas ilhas terem sido povoados em períodos distintos, assim como umas apresentam ainda uma presença de origem papuásica e outras não. Como mencionei acima, tal cultura vem se perdendo por um conjunto de fatores (não culpo apenas a política internacional, já que a própria população nativa também é culpado). Termino este post citando o livro da antropóloga E. Traube (1986) que viveu entre os Mambae e analisou os rituais desse povo leste-timorense no início da década de 80 do século XX; naquela época ela chamou atenção, no prefácio de seu livro, para o fato de alguns povos já terem perdido seus traços culturais, pois queriam se tornar "civilizados" ou "urbanizados", como é o caso de Manatuto.
Para todo este problema não tenho uma solução, pois acho que não há e não depende somente de mim. O que venho deixar aqui registrado são alguns equívocos e a hipocrisia mencionados e me posicionar contra eles, fornecendo como uma solução parcial para isso que as pessoas sigam somente o bom senso! O que já é pedir demais...
Referência:
Traube, E. 1986. Cosmology and Social Life. Ritual Exchange among the Mambai of East Timor. Chicago: University of Chicago Press.
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