Há alguns dias atrás, no dia 29 de agosto, saiu outra notícia interessante da Agência Lusa e publicada no Página Global, no link:
sobre o status da língua portuguesa em Timor-Leste.
Desta vez, a notícia fala de uma resolução aprovada pelo parlamento leste-timorense que recomenda ao governo investir e realçar o ensino de Português e Tetun. Mas, o leitor pode perguntar, isso é bastante diferente do que vem sido dito nas notícias anteriores, não é? (sobre a abolição da língua portuguesa no ensino básico, que partiu do executivo, e é um primeiro passo de um plano com lobbie australiano para erradicar o português de Timor-Leste). Posso afirmar com certeza que não, já que são duas esferas governamentais diferentes, uma o parlamento e a outra o executivo.
Essa notícia serve apenas para ser apresentada como mais um argumento de algo está errado dentro do governo leste-timorense. Basicamente, é o executivo aprovando uma coisa e o parlamento aprovando outra exatamente oposta. O que será que está acontecendo?
Será que este é outro plano da suposta "ajuda internacional"? Criar a fragmentação político-ideológico no governo leste-timorense e deste para o resto da população? Pergunto-me: mas será que os auxílios internacionais não deveriam fazer o contrário? Ajudar o país a se reconstruir? E não dividi-lo?
Bem... deixo aqui essas várias dúvidas minhas, e se algum leitor souber responde-las ficarei muito grato!
Em breve, continuarei postando mais sobre o assunto, continuando a análise da proposta Educação multilíngue baseada em língua materna, conforme iniciei em O futuro do português em Timor-Leste - 3 O que é essa tal de 'educação multilíngue em língua materna'?, disponível no link:
5 comments:
Bom Com base nestas informações, vejo que há um certo "golpe", não só na língua, mas na cultura dos timorenses. Há um descaso por parte, ou de uma parte, do governo para com seu povo. Uma nação pobre e "castigada" pelos seus governantes, poderá sofrer mais ainda essa "atrocidade" linguistica.
Pois, como um grupo de engravatados podem obrigar (mesmo que através da lei), sem mesmo comunicar, a deixar a um de seus idiomas. Ao menos deixasse o povo a escolher, por meio de um plebicito, a abandonar ou não aquela que talvez seja unica lingua de alguns cidadãos. Porque podem haver timorenses que só falem portugues. Será que eles já pararam para pensar nisso?
Na minha opinião, deveria ter uma intervensão internacional, comissão da ONU para avaliar essa situação, pois, é uma questão dos direitos humanos envolvidos nesta causa.
Caro Jadson, agradeço os comentários pertinentes.
Bem, em relação às decisões dos 'engravatados', considero isso bem complicado, pois em todo lugar no mundo há governantes corruptos que prejudicam a população de seus países.
Assim como, a ONU e outras ajudas internacionais são as grandes culpadas desses e vários outros problemas.
Não podemos esquecer que há intensa ajuda internacional e atividades da ONU desde 1999, ou seja, antes da independência.
E o que todo este auxílio internacional gerou? Somente mais corrupção, exploração da miséria e da pobreza (por parte de funcionários estrangeiros com salários multimilionários) e a presença de lobbies visando inserir seus interesses econômicos e ideológicos em Timor-Leste.
Caro Davi: o Governo ainda não aprovou nada pelo que se poderá inferir que a resolução do parlamento será uma resposta "preventiva" a qualquer iniciativa do Executivo no sentido de introduzir as línguas locais como línguas de instrução. É um sinal de que a democracia timorense está a ser construída e não é à custa de estudos soturnos de anglo-saxónicos encafuados em gabinetes que fazem projectos sem prestar contas às instituições soberanas do Estado timorense.
Discordo profundamente com quem acha que a questão da língua é "referendável": será abrir um precedente pois, de repente, as pessoas poderão achar que tudo no Estado timorense, incluindo a constituição, é objecto de um escrutíneo popular desta natureza. Não é achar que os eleitores timorenses estão "democraticamente imaturos" - afinal, viu-se o referendo de 1999 - , é apenas constar o facto de que, mesmo sem referendo, já há muitas criaturas, profundamente instigadas por certos estrangeiros, que acham que tudo está mal no Estado timorense (porque não é parecido com as Salomão ou a Papua Nova-Guiné, uma neo-colónia). No caso da língua, essas criaturas ficariam gratas por um referendo. Certos actores teriam dinheiro suficiente para fazer uma campanha gigantesca, bem sucedida, contra o português em Timor...tudo a bem da "democracia" e da defesa das línguas locais e da alfabetização bem sucedida... Há certas coisas que é melhor ficarem entre engravatados, por muito corruptos que pareçam... O Dr. Davi é linguista, percebe de linguística. Eu sou politólogo de formação...
Há uma coisa que se tem de perceber: o português foi escolhido como língua co-oficial de Timor não apenas por questões históricas e identitárias nem tão-pouco por questões linguístcas (Geoffrey Hull explicará melhor), mas por questões GEOPOLÍTICAS. Como manter a soberania de um povo de um país tão exíguo mas simultaneamente tão importante geopoliticamente (petróleo e controlo militar em caso de invasão do continente australiano), se está enfaixado entre dois gigantes (a Indonésia e a Austrália, o deputy-sheriff dos EUA na região)? As políticas línguísticas nunca se podem dissociar destas questões geopolíticas. Para além de que instituir o projecto da alfabetização das línguas-mãe pode bem resultar em países como a Bolívia ou a Nova Zelândia mas que, quase certamente, seria um fracasso em Timor-Leste. Firaku/Kaladi, loromono/lorosa'e são apenas alguns dos exemplos de como o país "ferve" em pouca água. Além de que os reinos que falam tétum terik se encontram numa "hierarquia superior" do sistema monárquico subterrâneo que, REALMENTE, detém o poder em Timor. Um falante de baiqueno não tem o mesmo estatuto que um falante de tétum tétik ou tétum-belum em Timor. Este programa das línguas-mãe só iria acirrar as velhas rivalidades inter-reinos. Dividir para reinar. Por isso, por ora, o projecto das língua-mãe, não se adequam à realidade sócio-política em Timor-Leste.
Sou da opinião que o que tem faltado nisto tudo é a falta de planeamento linguístico. Os lideres da nação timorense não souberam levar a água ao seu moinho e agora julgam que num abrir e fechar de olhos a nossa juventude ficará poliglota.Penso também que esta mudança é extremamente inglória e penosa para os jovens estudantes e professores que durante estes últimos anos fizeram grande sacrifícios para melhorarem as suas competências e capacidades numa língua que sempre ouviram falar mas não sabiam.
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