A proposta da Educação multilíngue baseada na língua materna foi supostamente elaborada por um grupo de trabalho intitulado Língua na educação. Este grupo se reuniu em 2008 e formulou as diretrizes da proposta somente em 2010. Curiosamente, o grupo é formado por 18 membros, nenhum com formação em linguística, destes a maioria, cerca de 12 pessoas, possuem ligação direta com o governo leste-timorense, enquanto os demais possuem alguma ligação indireta ou são de entidades internacionais em atuação em Timor-Leste (em breve colocarei também os documentos para download).
Ainda, alega-se na introdução do documento, editado pela Komisaun Nasional Edukasaun, Ministério da Educação da República Democrática de Timor-Leste e UNICEF, que teve consultoria de apenas dois profissionais doutores da área. Além da escolha aparentemente aleatória de consultores, pois deveriam ser consultados linguistas de renome internacional, com pesquisas e experiência nas línguas leste-timorenses, mas não é o caso dos consultores escolhidos, o número de consultores também é inadmissível, já que uma proposta como a Educação multilíngue baseada na língua materna que se pretende implantar a curto, médio e longo prazos deveria ser elaborada por um grande números de profissionais de renome e experientes das áreas de educação e linguística, assim como deveria passar pela consultoria de outra equipe independente também formada por um time de excelência em linguística e educação. Conforme li e analisei ambos os documentos, posso assegurar ao leitor e a qualquer um dos profissionais envolvidos que isto não aconteceu!
Minha análise envolveu duas publicações do Educação multilíngue baseada na língua materna, uma com o subtítulo Política Nacional e outra com o subtítulo Plano de Implementação. Foram tantos erros encontrados (de natureza formal, estrutural, linguística, científica e ideológica) que não sei nem ao menos por onde começar!
Na dúvida resolvi começar pelo óbvio, o início!
Dividi minha análise em duas grandes partes apenas: uma apontando erros gramaticais, outra realizando uma série de comentários ao texto, praticamente linha por linha.
Um documento que pretende implantar um novo sistema educacional em um país inteiro não deve ser elaborado da maneira que o foi, como disse acima. Além disso, não deve conter tantos erros gramaticais na língua oficial do país, no caso o português. A quantidade gigantesca de erros de língua portuguesa já serve como evidência e argumento ao verdadeiro descaso que tais profissionais que o escreveram possuem em relação à língua portuguesa.
Por questões de espaço, não colocarei neste blog minha análise completa dos dois documentos, pois foram cerca de 29 páginas (no processador de textos Microsoft Word) de erros apontados e comentários de minha autoria (14 páginas para Política Nacional e 15 páginas para o Plano de Implementação).
Desta maneira, faço um recorte do objeto a ser analisado somente para o leitor honesto formar seu próprio pensamento e opinião a respeito. Limitar-me-ei aqui a apontar erros gramaticais somente no corpo do texto do Política Nacional, que são apenas 6 páginas (o total de páginas da publicação é 20, se incluirmos capa, índice e apêndices, o que geralmente não se faz).
Nas 6 páginas de texto sobre a Educação multilíngue baseada na língua materna encontrei erros ortográficos como: urgente mente, e conómicos, hão-de (palavras separadas sem motivo); lingua, bilingue, multilingue, concluido, constroe (todos sem acentos e-ou com erros ortográficos); trasnferência, constitruição, sisteme (letras trocadas ou inseridas). Isto apenas para mencionar alguns dos vários existentes. O mesmo é válido para erros de construção sintática, já que o texto inteiro está cheio de períodos como: uma educação eficiente e eficaz e também sobre a os direitos culturais e é considerado como a “terceira língua” ou L3 de dos Timorenses dentre tantos outros.
Para finalizar, peço aos meus leitores para fazerem um exercício de pensamento comigo. Imaginem por um momento que vocês elaboraram um projeto da mesma maneira (cheio de erros gramaticais, sem nenhum um estudo prévio e nenhum embasamento científico) e pretendem implantar este projeto para modificar uma esfera social específica de um país inteiro (neste caso a educação). Depois dessa tarefa de pensamento, deem um passo a frente. Agora imaginem quem, ou qual instituição, seria (in)capaz de aceitar publicar e, posteriormente, implantar este suposto projeto...
Vocês imaginaram tudo isso?
Então, acho que somente há duas respostas lógicas! A primeira, no mundo real, ninguém jamais aceitaria semelhante proposta indecorosa de baixa qualidade. Porém foi aceita, e nós estamos no mundo real! Então, resta-nos somente a segunda resposta; tal projeto foi aceito não por seus méritos, mas por interesses subjacentes a ele. Interesses de pessoas e instituições que sempre mascaram seus verdadeiros objetivos, ou seja, o lobo em pele de cordeiro...
No próximo post colocarei meus comentários ao texto Educação multilíngue baseada na língua materna – Política Nacional.
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