Como afirmei no post anterior http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/06/hau-koalia-tetun-eu-falo-portugues.html, discorrerei brevemente sobre alguma terminologia linguística a respeito de nomenclaturas como: dialeto, variedade, "língua primitiva", entre outras que são importantes para o estudo ou para o simples conhecimento das questões relativas à língua em Timor Leste.
A definição de língua na linguística é um tanto controversa, já que depende muito da abordagem, metodologia e corrente teórica que o linguista segue, assim como que aspectos das línguas ele pretende investigar. Daí surgem diferentes conceitos de língua, dependendo de quais perguntas (qual investigação) são feitas! Mas, posso afirmar, grosso modo, que a língua é um sistema convencional de certos símbolos portadores de significados com o objetivo de proporcionar a comunicação entre indivíduos inseridos dentro de um espaço geográfico específico e que compartilhem certos aspectos culturais.
Dialeto e variedade são conceitos muito próximos, muitas vezes intercambiáveis. Dialeto trata-se simplesmente de uma variedade regional de uma língua específica, que acaba por se diferenciar ligeiramente na fonologia e no léxico principalmente, como exemplo há a própria língua portuguesa que pode ser considerada a existência de um dialeto brasileiro, um dialeto ibérico etc., o inglês com o dialeto britânico, o dialeto norte-americano, o dialeto australiano, e assim sucessivamente. Ainda, o termo dialeto pode ser aplicado também para um tipo de falar específico a alguma classe social, ou comunidade.
Dessa forma, não existe nenhuma relação da palavra dialeto como ela é empregada no senso comum com o sentido de "língua primitiva", "língua menor", "forma de falar diferente" etc. Estes na realidade são pré-conceitos de pessoas desinformadas que não conhecem a ciência das línguas, tão pouco se informam antes de falar ou emitir opiniões errôneas, que muitos acabam por seguir e repetir. A linguística ao investigar as línguas indígenas pelo mundo - línguas nativas da América, África, Ásia e Oceania - comprovou que essas supostas "línguas primitivas", "dialetos", entre outros, como costumam a ser chamados, são muito mais complexas que as línguas indo-européias da atualidade, como o português, inglês, alemão, francês e várias outras. Thurston (1979) forjou os termos línguas esotéricas e línguas exotéricas que esclarece essa questão de maneria exemplar. As línguas esotéricas são línguas de alta complexidade estrutura, pois são usadas somente pelos indivíduos da mesma comunidade para se comunicarem entre si, como é o caso das línguas indígenas pelo mundo, já as línguas exotéricas são línguas menos complexas utilizadas para comunicação entre povos de mesma cultura e de diferentes culturas também, como é o caso de nossa língua e outras similares indo-européias.
Vale lembrar, ainda, que língua franca é uma língua utilizada para comunicação entre diversos povos em siutação estável (sem nenhum com status superior a outro) que possuem línguas diferentes que impossibilitam o processo de comunicação, o caso de Timor Leste esta língua é a variedade Tétum-Praça.
Finalmente, o termo língua oficial consiste em língua, ou línguas, reconhecida(s) pelo Estado a ser utilizada pela comunidade para desempenhar todas as funções jurídico-administrativas e exercer a cidadania em geral, como ter acesso a educação, saúde, emprego, segurança etc. Em Timor Leste há duas línguas oficias: a língua portuguesa e o Tétum (a variedade Tétum-Praça). Língua de trabalho são línguas, ou língua, também reconhecida(s) pelo estado a ser utilizada somente em tarefas burocráticas principais (por isso chamada de "trabalho") como uma opção em comunidades multilíngues onde o falante pode não ter acesso, ou não conhecer, a(s) língua(s) oficial(is) do Estado. Em Timor Leste as línguas de trabalho são inglês e o bahasa indonesia.
Fica aqui registrado minha indignação em relação a qualquer estudioso que por desconhecimento, falta de informação ou preconceito empregue os termos aqui citados de forma imprópria, pois isto somente tem o objetivo de prejudicar tanto a linguística per se, quanto denegrir os povos autóctones espalhados pelo mundo. Ainda, aqueles que não conheceme desejam ficar sem conhecer e ficam falando "coisas impróprias" por aí (ou seja, falando besteiras!) procurem evitar tantas gafes também, pois isso ficará feio (para não falar, ou escrever, outras palavras!) para quem as fala! Disso pode ter certeza!!! Já para aqueles que desejam se informar, recomendo a leitura de obras introdutórias à linguística e a consulta a dicionários como Crystal (1980) e Dubois (1995).
Referências:
Crystal, D. 1980. Dicionário de lingüística e fonética. Rio deJaneiro: Zahar.
Dubois, J. et al. 1995. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix.
Thurston, W. 1979. Processes of change in North-Western New Britain. Canberra: Australia National University.
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