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Tuesday, April 23, 2024

A língua Portuguesa falada em Timor-Leste: Um estudo ecolinguístico (Graz, PCL Press, 2024)

Acabou de ser lançado pela PCL Press o livro: A língua Portuguesa falada em Timor-Leste: Um estudo ecolinguístico, que foi baseado em minha tese de doutorado na Universidade de Brasília (UnB).

O livro pode ser acessado, baixado e lido em:  https://pcl-press.org/publications/a-lingua-portuguesa-falada-em-timor-leste-um-estudo-ecolinguistico/

Segue o abstract:

*  *  *

Based on my doctoral thesis at the University of Brasília (UnB), the book A língua Portuguesa falada em Timor-Leste: Um estudo ecolinguístico was recently issued by PCL Press.

Visit this link to access, download, and read the book: https://pcl-press.org/publications/a-lingua-portuguesa-falada-em-timor-leste-um-estudo-ecolinguistico/

Here is the abstract:

Portuguese is the official language of the Democratic Republic of East Timor, alongside Tetun Prasa (an Austronesian language and local lingua franca). In this work, I carry out a study of the Portuguese spoken in East Timor in order to verify whether it is possible to recognize a variety of Portuguese in formation. Other objectives include its documentation and description of its most notable linguistic aspects, as well as to develop actions to value it inside and outside East Timorese society in latter moments of the investigation. In order to achieve the objectives, I use Ecolinguistic theory and its different methods of analysis, which cover linguistic and extralinguistic topics, so that it is possible to describe accurately the Portuguese language in Timor, approaching several aspects of the researched object. It is emphasized here that a position of preserving the (possible) variety of the Portuguese language spoken in East Timor is also an ecological stance since it is aiming to maintain the linguistic diversity of the Portuguese language in the world.



Saturday, March 29, 2014

Alguns comentários ao Léxico Fataluco-Português de Alfonso Nácher


Pe. Alfonso Nácher com alunos de Fatumaca, Baucau, Timor-Leste.
Foto do Arquivo Salesiano de Comoro (Nácher 2012, p. 74)

De acordo com o que foi exposto na postagem anterior, dou continuidade agora, realizando alguns comentários ao Léxico Fataluco-Português (Para ler a postagem anterior sobre a obra clique aqui). Primeiramente, falarei dos artigos que estão na nova edição de 2012 e que antecedem o manuscrito de Nácher. Posteriormente, escreverei sobre a biografia do padre e as referências para maiores informações. Finalmente, farei alguns comentários sobre a temática linguística e lexicográfica.

Esta edição do Léxico Fataluco-Português dos Salesianos de Dom Bosco Timor-Leste, de 2012, apresenta três artigos importantes que valem os comentários, são eles: Uruvatju e Tjiapu: Genealogias Invisíveis da Etnografia Missionária em Timor-Leste, de autoria de Frederico Delgado Rosa; Oleu Pitine de Efrén Legaspi Bouza; e A Religião em Timor-Leste a partir de uma Perspectiva Histórico-Antropológica, de Alberto Fidalgo Castro.

O artigo de Delgado Rosa, Uruvatju e Tjiapu: Genealogias Invisíveis da Etnografia Missionária em Timor-Leste, analisa principalmente a produção bibliográfica e científica da atividade missionária em Timor-Leste. Basicamente, os missionários no país produziram muito material em duas áreas do saber, são elas: antropologia e linguística. Na parte inicial do artigo, o autor enfatiza a existência de muitos manuscritos perdidos e não publicados que possuíam estudos das línguas nativas leste-timorenses (p. 14). Na outra parte de seu artigo, Rosa chama atenção para a questão da cristianização/catequização em Timor-Leste que às vezes era feita por imposição à força na população nativa, ocorrendo um choque cultural em que prevalecia a cultura ocidental e a cultura local era estigmatizada ou até destruída. O mesmo ocorre na questão linguística em que eram impostos empréstimos de itens culturais da religião cristã, com lexemas como Diabo, Deus, igreja, catecismo etc. que não existiam nas línguas nativas (p. 18). O autor discute isso no caso dos dicionários da língua Tetun: Dicionário Portuguez-Tétum de Sebastião Aparício da Silva, de 1889, e Dicionário Teto-Português de Rafael da Dores, de 1907, em que a tradução de certos conceitos era usada como ferramenta para destruição da cultural local ou para instaurar o temor aos nativos (p. 22). Para saber um pouco mais desses dicionários, acesse aqui.
    
O artigo Oleu Pitine de Efrén Legaspi Bouza é uma biografia detalhada do padre Alfonso Nácher, que é um resultado de extensa pesquisa biográfica com base em documentos consultados e analisados, assim como entrevistas realizadas pelo autor (p. 42). Ainda, o autor se baseou em sua pesquisa inicial na pequena biografia escrita por Geoffrey Hull como introdução à publicação do manuscrito (p. 41), em 2003 (maiores informações são encontradas na postagem anterior já citada). Não falarei mais da biografia, pois a seguir apontarei as principais informações sobre a vida do padre Nácher.

O terceiro artigo, de autoria de  Alberto Fidalgo Castro, intitulado A Religião em Timor-Leste a partir de uma Perspectiva Histórico-Antropológica, trata-se de uma extensa análise antropológica da religião em Timor-Leste. O autor divide seu escrito em três partes (p. 82), oferecendo primeiramente um panorama dos estudos antropológicos em Timor-Leste, para depois analisar a presença da religião católica no país e, na terceira parte, contrastar o choque entre a religião católica e as práticas animistas dos diferentes povos leste-timorenses, principalmente por meio do estudo dos mitos e outros gêneros da literatura oral leste-timorense (p. 99). O que é muito válido aqui para os estudos linguísticos é o fato de que não é possível desassociar o estudo da língua dos aspectos culturais do povo falante da língua (p. 95). Isto fica bem explícito nesses artigos introdutórios comentados nesta postagem. Nos estudos antropológicos sobre aspectos da cultura do povo Fataluku, assim como no próprio manuscrito elaborado pelo Pe. Nácher, quando se estuda a cultura dos Fataluku se aborda certas questões linguísticas, e quando se estuda a língua Fataluku, um conhecimento da cultura deste povo é importante para elucidar certas questões que possam surgir durante a investigação.

Sobre a biografia de Alfonso Nácher, o artigo Oleu Pitine, de Efrén Legaspi Bouza, fornece informações detalhadas aos interessados nos estudos biográficos, ou em saber aspectos específicos da vida do padre. Na introdução de Hull feita ao Léxico Fataluco-Português é possível encontrar uma nota biográfica a respeito de Nácher (p. 123). Ainda, há um artigo interessante de Susana de Matos Viegas, intitulado Três etnografias dos anos 1970: Os Fataluku, em que a autora analisa três importantes estudos sobre os Fataluku, sendo o de Nácher um deles (o texto pode ser acessado aqui). Para não repetir a biografia presente no livro, citarei aqui as informações biográficas oferecidas pela autora, apenas complementada pela nota de Hull:      

[...] o Padre Alfonso Maria Nacher y Lluesa [...] nasceu em Valência (Espanha), tendo recebido em 1932 a ordenação sacerdotal. Em 1941-1942 fez o curso de ciências naturais e em 1952 foi director do colégio de Santo António no Estoril (cf. Hull, 2003: 135). Em 1955, o Padre Alfonso Nacher foi para Timor-Leste como voluntário da Missão Salesiana de Fuiloro onde permaneceu até 1968. 

(Viegas 2011, p. 2)

O afamado colégio salesiano e escola de ofícios de Fatumaca, uma aldeia situada nas montanhas a sul de Baucau, esteve sob a direcção do Padre Alfonso Nácher desde 1973 até 1979, o período traumatizante em que se assistiu ao fracasso do processo de descolonização no Timor Português, à violenta guerra civil e à sangrenta invasão indonésia. Entre os anos 1979 e 1982, quando as autoridades indonésias obrigaram a população animista da ‘província vigésima-sétima’ a adoptar uma religião oficialmente reconhecida pelo Estado, o Padre Alfonso e os seus confrades da missão de Lospalos tiveram que preparar para o baptismo cristão milhares de Fatalucos que tinham escolhido o catolicismo (naquela época os gentios constituiam 64% de uma população regional de 32.021). 
Em 1983, ainda vivaz e activo apesar dos seus 78 anos, o Padre Alfonso voltou a Fatumaca como mestre de noviços, sucedendo ao Pe. Carlos Filipe Ximenes Belo, que o Papa João Paulo II acabara de nomear administrador apostólico da diocese de Díli. Terminada essa função dois anos depois, pôde então dedicar-se ao ensino, sobretudo da matemática e do inglês. 
Aos 87 anos de idade, no dia 24 de Maio de 1992, o Padre Nácher festejou o jubileu de diamante da sua ordenação. Nos sete anos que se seguiram e até falecer, o idoso missionário, embora afectado por senilidade progressiva, nada perdeu da sua vivacidade e bondade. Onde quer que fosse era imediatamente reconhecido pelo seu físico ainda atlético, paradoxalmente combinado com uma longa e branca barba.

(Hull, p. 124. In: Nácher 2012)

Durante o período de treze anos em que foi director da missão (1955-1968), o Padre Alfonso Nacher construiu um dicionário da língua Fataluku. O contributo do texto para o conhecimento dos Fataluku é hoje reconhecido por Geoffrey Hull, nomeadamente pela sua contextualização etnográfica, resultante do facto do padre dar grande importância “aos aspectos antropológicos da pesquisa linguística” (Hull, 2003: 138). A relação e o compromisso do Padre Alfonso Nacher para com os Fataluku teve ainda outras componentes. Uma das que importa ressaltar é o seu envolvimento na oficialização da religião católica dos habitantes da região do leste de Timor, durante a sua permanência na missão de Lospalos entre 1979 e 1982. Um outro contributo mais indirecto de Alfonso Nacher para a vida timorense foi o facto, sublinhado por José Mattoso (2005), de ele ter influenciado a formação intelectual de Konis Santana (o importante líder da resistência timorense) que “lia livros e revistas emprestados pelo padre Alfonso Nacher” (Mattoso, 2005: 41).
A qualidade etnográfica deste dicionário pode ser exemplificada pela maneira como os significados de cada palavra se referem a práticas socioculturais. Assim, por exemplo, o dicionário indica que a palavra ira-foole significa: “bruxedo que faz um homem todo mascarado de negro, deitando sal numa nascente e empurrando o sal com uma vassoura para dentro. Depois disto foge por caminhos tortos para não ser apanhado pelo Diabo” (Nacher cit. in Hull, 2003: 162). O dicionário vai ainda oferecendo ricas informações sobre diferentes significados de uma mesma palavra, consoante não apenas contextos semânticos diversificados, mas também contextos de acção de significação diversa. Assim acontece na descrição do significado de ha’ulu, indicando que num primeiro sentido pode significar “terramoto”, como na frase ha’ulu mu’a hoke: “no terramoto a terra treme” ou ha'ulu mu’a hoke akam: “o terramoto não durou”; enquanto que, num segundo sentido, a mesma palavra Ha’ ulu (aqui grafada pelo autor com letra maiúscula) significa “O espírito que guarda as quatro colunas da terra, sustentando-as. Consideram-no [a Ha’ulu] o pai primeiro de todos os homens” (Nacher cit. in Hull, 2003: 165).
O legado deste dicionário de Alfredo Nacher está, em suma, no desenvolvimento de um estudo da língua Fataluku entendido na sua contextualização etnográfica. Para que significados como o de Ha’ulu remetessem para um entendimento antropológico mais vasto sobre a origem do mundo, da natureza e de vivências históricas dos Fataluku, teriam sido necessárias descrições etnográficas mais densas. Tal não foi e nem podia ter sido feito pelo padre Alfonso Nacher, pois implicaria uma contextualização do conhecimento que estaria longe dos seus interesses e motivações primordialmente religiosos e missionários.

(Viegas 2011, p. 3)

Indiscutivelmente, o linguista Geoffrey Hull deu um tratamento exemplar ao manuscrito original de Nácher, organizando-o para edição e publicação, oferecendo as notas introdutórias, corrigindo os erros tipográficos do original e adaptando as entradas do léxico à ortografia padronizada do INL (Instituto Nacional de Linguística) para maiores informações, acesse aqui. Porém, como trabalho científico, apresenta também certos pontos que necessitam de reparos para a pesquisa. Chamo atenção nesta postagem para dois principais: as omissões feitas por Hull do manuscritos original e maiores informações sobre a língua Fataluku.

Em relação às omissões, o autor afirma que "Infelizmente, limitações de espaço obrigaram-nos a omitir a maior parte das traduções tétum dos verbetes e expressões em fataluco." (p. 125). Atualmente, considero isso uma falha, já que, de certa forma, o manuscrito original é inacessível ao público e sua publicação está bem adaptado em relação ao conteúdo que Nácher escreveu, assim como os verbetes em Tetun e as expressões em Fataluku são dados linguísticos importantíssimos que deveriam ser publicados, principalmete por causa da escassez de material para pesquisa e para o ensino. Ainda, o autor justifica que tais omissões foram feitas, mas que "estes elementos da obra não serão desperdiçados, pois vão ajudar o Instituto Nacional de Linguística na elaboração de um vocabulário de tétum e fataluco." (p .125). Porém, não foi isso que aconteceu, pois há anos o INL está parado com entraves burocráticos, ausência de pessoal, falta de verba etc. Mesmo que alguns interessados argumentem que não, o fato é que desde aproximadamente 2005 o INL não produz/publica material ou pesquisa de impacto algum.  

Finalmente, as breves características da língua Fataluku oferecidas por Hull ao leitor são inexatas, já que, além de extremamente superficiais, deixam a desejar na área de fonologia e morfologia da língua. Para não me alongar mais do que já fiz nesta postagem, para maiores informações sobre a língua Fataluku, publicações e estudos linguísticos. peço ao leitor que consulte o seguinte link:
http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2009/11/on-fataluku-language.html e para um estudo linguísticos valioso sobre a morfossintaxe do Fataluku, e com informações introdutórias atuais sobre a língua, consultar o artigo do linguista Aone van Engelenhoven, intitulado On derivational processes in Fataluku, a non- Austronesian language in East Timor:
http://www.academia.edu/3711452/On_derivational_processes_in_Fataluku_a_non-Austronesian_language_in_East_Timor.



Referências:

Nácher, Alfonso. Léxico Fataluco-Português. Dili: Salesianos de Dom Bosco Timor-Leste, 2012.

Viegas, S M. Três etnografias nos anos 1970: os Fataluku. In: Actas do Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial. AHU, 24-25 de Maio de 2011. 

Friday, March 28, 2014

Léxico Fataluco-Português de Alfonso Nácher


Lançada em 2012, a obra Léxico Fataluco-Português é um verdadeiro avanço nos estudos linguísticos de Timor-Leste, tanto pela acessibilidade da publicação, quanto pela qualidade do material.Eu já estava com planos de escrever algo a respeito há algum tempo, desde o lançamento da obra em 2012, porém por possuir outros afazeres acabei deixando para depois. Mas agora escreverei uma postagem digna de tal publicação. 

Léxico Fataluco-Português é um manuscrito, datado de 1984, de autoria do padre salesiano Alfonso María Nácher Lluesa, foi digitado primeiramente por Justino Valentim, em 1992, e editado, recebendo todo um tratamento linguístico e filológico, por Geoffrey S. Hull, em 2003 e 2004, no periódico Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste, em seus volumes 5 e 6, datados de 2002/2003 e 2004, respectivamente. Ver as referências abaixo (Nacher 2002/2003, 2004). 

A edição de 2012 do Léxico Fataluco-Português foi coordenada por Alberto Fidalgo Castro e Efrén Legaspi Bouza e trata-se da publicação completa do mesmo manuscrito na versão que o linguista australiano, Geoffrey Hull, preparou para ser publicado em duas partes em Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste, conforme foi citado anteriormente. 

O resumo da obra pode ser lido abaixo e também pode ser encontrado na postagem do blogue Professores de português em Timor-Leste (http://profesdeptemtl.blogspot.com.br/2012/12/lexico-fataluco-portugues.html), assim como o link para download, que também pode ser acessado aqui, diretamente do repositório da Universidade Da Coruña.

Segue o resumo: 

Apresentamos nas páginas seguintes uma edição crítica do Léxico Fataluku-Português do padre salesiano Alfonso María Nácher Lluesa, a partir de uma perspectiva antropológica, histórica e linguística. Esta edição é uma iniciativa pensada a partir do Projeto de Desenvolvimento Rural de Liquiçá II (RPDLII), que tem como financiador a Agência Espanhola de Cooperação para o Desenvolvimento (AECID) e como sócio local a Fundação Companhia de Jesus de Timor-Leste.
O livro coloca a reimpressão do trabalho que —sob a dactilografia do manuscrito do padre Nácher— foi efectuado pelo linguista Prof. Geoffrey Hull e que foi publicado na revista Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste, —hoje desaparecida e de difícil aceso— dividido em duas partes, nos anos de 2003 e 2004. Nesse sentido, o objectivo principal da obra é colocar à disposição dum público amplo e dum público académico a obra do padre Nácher, para que sirva de referência para futuras investigações. Assim, o presente livro também é uma homenagem à pessoa do padre Nácher e aos frutos do seu trabalho como missionário em Timor-Leste. 
O manuscrito original do padre Nácher recolhe definições em português de léxico e expressões em língua Fataluku, assim como a tradução correspondente nas línguas Tétum e Makasae. O léxico recolhido contém uma quantidade significativa de conceitos e expressões referentes ao património cultural, tanto tangível como intangível (rituais, gastronomia, tarefas agrícolas, tradição oral) dos falantes da língua Fataluku. 
A presente edição do livro está dividida em duas partes, constituindo a segunda parte a reimpressão do trabalho que o Prof. Hull efectuou sobre o texto do padre Nácher. Além disto, o dicionário é precedido duma primeira parte composta por três artigos inéditos que, a partir da Antropologia Social e Cultural, proporcionam um conhecimento académico que permite a contextualização e a valorização do trabalho realizado na devida altura pelo padre Nácher. Esta primeira parte é composta por um artigo de Frederico Delgado Rosa em que analisa a génese das etnografias feitas por missionários e religiosos em Timor-Leste, em que se inclui a do léxico do padre Nácher. Em segundo lugar, apresenta-se uma história de vida do padre Nácher realizada pelo antropólogo e jornalista Efrén Legaspi Bouza e, finalmente, um texto sobre as relações entre o catolicismo e a religião tradicional a partir de uma perspectiva histórico-antropológica, escrito por Alberto Fidalgo Castro. 

Para não tornar esta postagem demasiada longa encerro aqui, porém, logo a seguir, continuo na próxima postagem, intitulada Alguns comentários ao Léxico Fataluco-Português de Alfonso Nácher (acesso aqui), com maiores informações. Na próxima postagem, apresentarei uma breve biografia do Pe. Alfonso Nácher, informações a respeito da língua Fataluku e seus estudos linguísticos e também comentarei o tratamento dado ao manuscrito original, por Geoffrey Hull, assim como o conteúdo da obra. 

Até lá... 


Referências:

Nacher, Alfonso Maria, (2002/2003). Léxico Fataluco-Português (primeira parte). Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste 5: 135-196.

Nacher, Alfonso Maria, (2004). Léxico Fataluco-Português (segunda parte). Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste 6: 119-177.


Sunday, February 23, 2014

Publicação de Ecologia da mudança lexical no português de Timor-Leste

Em postagens anteriores, que podem ser lidas aqui e aqui, divulguei o simpósio que coordenei e apresentei comunicações, durante o IV SIMELP. Agora venho divulgar que a comunicação A ecologia da mudança lexical no português falado em Timor-Leste foi publicada nos anais do evento, e pode ser lida no link abaixo, onde também se encontram as demais comunicações do simpósio 10, intitulado Variedades estigmatizadas de português: uma visão Ecolinguística e sociolinguística (o link para leitura e acesso para todos os trabalhos do simpósio 10 é: http://www.simelp.letras.ufg.br/anais/simposio_10.pdf).

Segue o resumo:

Resumo: O presente trabalho analisará o processo de mudança lexical ocorrido na variedade da língua portuguesa falada em Timor-Leste. A análise seguirá a teoria ecolinguística da endoecologia, que estuda aspectos estruturais da língua, relacionando-os com o ecossistema, e da crítica ao sistema linguístico, que analisa a estrutura da língua como um objeto construído e/ou influenciado pelo meio ambiente e os diversos processos ecológicos. As metodologias utilizadas foram: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com os falantes. O objetivo principal deste trabalho é argumentar que as mudanças linguísticas ocorridas são marcas específicas da variedade do português estudada, o Português de Timor-Leste (PTL). 

Palavras-chave: Língua portuguesa; Timor-Leste; ecolinguística; léxico.


Saturday, May 11, 2013

A ecologia da mudança lexical no português falado em Timor-Leste

Resumo da comunicação homônima a ser apresentada no simpósio 10 do IV SIMELP:

RESUMO: A ilha de Timor está situada no sudeste asiático, perto da Austrália e das ilhas do Pacífico, possuindo fronteira física com a Indonésia. Apesar de a colonização portuguesa da ilha ter iniciado no século XVI, a presença efetiva do colonizador europeu ocorreu somente por volta do século XVIII, findando por volta do ano de 1975, quando a Indonésia invadiu e dominou a parte leste da ilha. No ano de 1999, o país reconquistou sua independência e, em 2002, a constituição da República Democrática de Timor-Leste elegeu como línguas oficiais o português e o Tétum-Praça (Tetun Prasa), ao lado do inglês e indonésio como línguas de trabalho. O presente trabalho analisará o processo de mudança lexical ocorrido na variedade da língua portuguesa falada na ilha de Timor-Leste. Serão descritos especificamente o desenvolvimento e a reestruturação lexicais, juntamente com a interface morfológica desses processos. A análise seguirá a teoria ecolinguística da endoecologia, que estuda aspectos estruturais da língua, relacionando-os com o ecossistema, e da crítica ao sistema linguístico, que analisa a estrutura da língua como um objeto construído e/ou influenciado pelo meio ambiente e os diversos processos ecológicos. As metodologias utilizadas foram: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo com os falantes em Timor-Leste, onde foram coletados os diversos dados linguísticos. Ainda, fez-se uso da bibliografia ecolinguística como base teórica para as análises efetuadas. O objetivo principal deste trabalho é argumentar que as mudanças linguísticas ocorridas que ão marcas específicas da variedade do português estudada, enfatizando o léxico da língua e sua interface com a morfologia, foram processos ecológicos de adaptação do português e dos falantes a modificações no ecossistema linguístico. Para tanto, esta comunicação se encontra dividida da seguinte forma: após a introdução, será feito um breve histórico da língua portuguesa em Timor-Leste, apontando as mudanças que ocorreram no ecossistema da língua; posteriormente, será realizada a análise do léxico, observando certos campos semânticos, principalmente os que fazem referências a significados mais abstratos ou mais específicos, que sofreram maior modificação; finalmente, algumas considerações finais serão feitas, principalmente em relação aos processos de mudança linguística como adaptação ecológica que podem ser estendidos para o estudo da mudança linguística em demais contextos além do analisado, em Timor-Leste. 

PALAVRAS-CHAVE: Língua portuguesa; Timor-Leste; ecolinguística; léxico.

Friday, August 17, 2012

Especificidades do léxico do português de Timor-Leste

Já esta disponível no site da ABECS (Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares) o novo número da revista Papia (http://www.revistas.fflch.usp.br/papia/issue/view/134). O novo número corresponde ao número 22, lançado em 2 volumes.

Neste número 22 da Papia, no volume 01, páginas 201-223, foi lançado meu artigo que continua a investigação sobre o léxico da variedade do português falado em Timor-Leste. O artigo Especificidades do léxico do português de Timor-Leste pode ser baixado no seguinte link: https://www.academia.edu/2087708/Especificidades_do_lexico_do_portugues_de_Timor-Leste.

Seguem o abstract e o resumo: 


Abstract: "The aim of this article is to analyze characteristic features of the lexicon of the Portuguese spoken in East Timor. The article begins with a socio-historic outline of the Portuguese language on the island of Timor (2). This is followed by an analysis of the lexicon, defending, based on Thomaz (1995), the existence of Luso-Timorese elements, consisting of Portuguese lexical items that have undergone semantic change or archaic retentions on the island of Timor (3). The next section (4), highlights lexical items from native languages that have been incorporated into Portuguese, specifically from the Tetun language. The final section also discusses other foreign origin words common in the Portuguese of East Timor, principally words of Malay, Chinese, and Japanese origin. The linguistic data analyzed, together with the conclusions presented, show that East Timorese Portuguese (TP) can be denominated a variety of Portuguese in the same way as European Portuguese (EP), and Brazilian Portuguese (BP)"

Resumo: "Este artigo pretende analisar traços específicos do léxico do português falado em Timor-Leste. Primeiramente, será apresentado um esboço sócio-histórico da língua Portuguesa em Timor (2). Em seguida, será analisado o léxico, argumentando-se, baseado em Thomaz (1995), a favor da existência de elementos luso-timorenses, que consistem em itens lexicais portugueses que sofreram mudanças semânticas ou retenções quinhentistas na ilha de Timor (3). Na seção seguinte (4), serão apontados itens lexicais das línguas nativas que foram incorporados ao português, especificamente da língua Tetun. Finalmente, outros vocábulos de origem estrangeira comuns no Português de Timor-Leste também serão discutidos, principalmente de origem malaia, chinesa e japonesa. Os dados linguísticos analisados, juntamente com as conclusões expostas, evidenciam que o Português de Timor-Leste (PTL) é uma variedade da língua portuguesa, assim como: o Português Europeu (PE), o Português Brasileiro (PB)". 


Wednesday, August 10, 2011

O elemento luso-timorense no português de Timor Leste


Acabou de sair na ReVEL (Revista Virtual de Estudos da Linguagem) um artigo meu sobre o léxico do Português de Timor Leste (PTL). A edição da ReVEL v. 9, n. 17 de 2011 é um número temático sobre 'lexicologia e terminologia'.  

O artigo intitulado O elemento luso-timorense no português de Timor Leste analisa elementos comuns à língua portuguesa que, porém, sofreram algum tipo de mudança linguística específica ao contexto leste-timorense. O artigo, apesar de ser apenas um resultado preliminar de uma pesquisa que ainda está em desenvolvimento, apresenta várias evidências notáveis de especificidades lexicais e semânticas existentes no PTL, e que um estudo exaustivo sobre o tema pode revelar ainda mais coisas a respeito desta variedade lusófona.

Segue o link para download do artigo,
juntamente com o resumo:  


Resumo:

O termo ‘luso-timorense’, usado para se referir a elementos lusófonos específicos a Timor Leste, foi empregado inicialmente por Thomaz (1995) ao analisar o léxico do português falado na ilha. O presente artigo é resultado de uma investigação em andamento, que pretende analisar a variedade do português falada pelo povo leste-timorense, com objetivos de documentar e valorizar essa variedade da língua portuguesa como uma variedade nacional, chamada de Português de Timor Leste (PTL). Assim, na seção 1 será apresentada brevemente uma sociohistória da língua portuguesa na ilha de Timor; em 2, será traçado um histórico dos estudos linguísticos a respeito do PTL e da variedade crioula outrora falada na ilha; na seção 3, será analisada a presença do elemento luso-timorense no léxico do PTL; e, finalmente, em 4, com objetivo de contribuir para um melhor conhecimento do léxico PTL, serão apontados alguns lexemas de origem estrangeira específicos a essa 
variedade. 

Wednesday, August 03, 2011

Sobre o lexema 'malae' - 2

Conforme comentei no post anterior, Sobre o lexema 'malae' - 1
(http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2011/08/sobre-o-lexema-malae-1.html),
reproduzo aqui o texto intitulado Malai! Malai! do blog Direto de Timor-Leste de autoria do Prof. Cesar Cavalcante. O post desse blog faz referências a diversas fontes bibliográficas a respeito da origem da palavra malae, principalmente em relação ao significado principal 'estrangeiro'.  

Malai! Malai!
Por Cesar Cavalcante

Uma das primeiras palavras que aprendi na língua tétum foi "Malae" ou  "Malai",  no português falado em Timor Leste. Sempre foi-me dito que "malai" significava estrangeiro, um parente próximo da expressão "Gringo" que utilizamos com frequência  no Brasil, quando nos referimos a um estrangeiro.

Fiquei muito curioso com a origem dessa palavra, já que segundo percebi, é uma das primeiras expressões que as crianças aprendem falar. Nós brincamos e dizemos que as crianças aprendem falar Malai antes de mamãe!

É muito comum um estrangeiro passar na rua e ouvir Malai bom dia, Malai para onde vai, Malai me dar um rebuçado (a nossa bala). Quando se trata de crianças, que sempre estão em grandes grupos, eu  sempre escuto, Malai, Malai, Malai... e elas só param de gritar quando eu olho e as cumprimento com um oi!!

Alguns colegas s acham que Malai é uma palavra pejorativa, que é uma forma dos timorenses dizerem que nós somos os estrangeiros. Eu sempre rebato e digo, como pode ser pejorativa uma palavra dita por uma criança, que às vezes nem sabe andar direito. Aí sempre escuto, ah foi o pai dela que ensinou.

Então resolvi "acabar" de vez com a discussão e procurei a origem dessa palavra.

Alguns timorenses me afirmaram que a palavra "Malai" tem origem na palavra  Malay, que pode designar a língua austranésia falada na Malaysia, Indonesia, Singapore, Brunei e Tailândia o Bahasa Melayu e suas variações, ou então os habitantes da Malaysia. A explicação para isso é que um dos primeiros estrangeiros a chegar na ilha de Timor Leste, foram os malasianos e por isso o uso do termo.

Já ouvi outra explicação para a palavra. Os primeiros estrangeiros que chegaram aqui em Timor Leste, traziam malas e os nativos nunca haviam visto malas e quando aprenderam o nome Mala, associaram Mala a Malai, ou seja aquele que carrega malas (estrangeiro).

Essas duas origens diferentes para a mesma palavra carecem de uma boa referência histórica, que eu não consegui encontrar.

Buscando em artigos científicos e em textos na internet encontrei as seguintes citações no site East Timor Studies de João Paulo Esperança:

 "A. Mendes Corrêa no seu "Timor Português" (1944) diz que "por malai entendem os indígenas de Timor os estranhos, os Malaios de outras ilhas, os Chinas, os negros de África, os Árabes, os Portugueses metropolitanos, os Holandeses, os Europeus em geral.  Os timorenses não se consideram Malaios, muito pelo contrário."

"Luís Thomaz num artigo de 1974, "Timor – Notas histórico-linguísticas", pág. 231, defende que: "Por sua vez o nome que os malaios dão a si mesmos – melayu – tornou-se em Timor, sob a forma malae sinónimo de "estrangeiro, pessoa de fora de Timor" - recordação do tempo em que os malaios eram os únicos estrangeiros que apareciam nas costas da ilha. Osório de Castro nota que em Maluco o termo melayu é usado com o mesmo sentido." Essa citação justifica a primeira origem da palavra que eu expus. 

Mas mesmo com essas duas citações, algumas pessoas acreditam que Malai e Melayu, tem significados e origens diferentes. 
Crianças timorenses
Foto do Blog da Missão Científica Botânica em Timor-Leste

Ainda com referência a pesquisa feita por João Paulo Esperança,   Aone van Engelenhoven e John Hajek dizem-nos No seu artigo "East Timor and the Southwest Moluccas: Language, Time and Connections" (2000), (pág. 121):

«A importante distinção entre os chamados `donos da terra' e `donos dos barcos' nas ilhas do Sudoeste das Molucas é não apenas crítica para as estruturas sociais na região, mas também um importante indicador histórico das relações com Timor no passado. Os ornusa ou clãs `donos da terra' eram os verdadeiros senhores da terra, que já viviam nas ilhas antes da chegada dos `donos dos barcos'. Há textos históricos que revelam que a chegada dos donos dos barcos foi despoletada pela destruição da sua `Ilha Mãe'. Esta destruição é tradicionalmente explicada como o castigo supremo por uma luta fratricida que era proibida. Os nomes usados nestas histórias fornecem pistas importantes sobre ligações com Timor. Qualquer coisa que inclua malai como elemento reverte para Timor – o que se vê por exemplo em Sairmalai, o nome timorense do herói letinense Slerleti. ((32 A palavra malai, apesar das aparências, não tem nada a ver com Malay (ing.) [ou malaio (port.)], uma malformação europeia de melayu.)) O resultado é que todos os heróis, e consequentemente também os clãs que deles descendem, são considerados como sendo de origem timorense. O segmento Malai (lit. `Timor') em muitos apelidos de família é altamente reverenciado devido à sua referência óbvia. Os exemplos incluem os apelidos Pelmalai `aliado timorense' na ilha de Nila, e Maranmalai na ilha de Léti.

Reuniões recentes entre famílias keienses e do Sudoeste das Molucas na Holanda revelaram como ambos os lados tinham em comum narrativas semelhantes sobre a destruição de uma terra ou continente no ocidente (centrado na área de Timor-Luang). As histórias dos clãs falam sobre barcos que navegavam para o oriente a partir de Lun-Let, o nome keiense para o continente que era Luang. Os mitos letinenses contam-nos sobre pessoas que navegavam para e de Timor, e sobre o estabelecimento de povoações de `donos de barcos' na costa de Malakitna-Malaliawna, o irmão mais novo (com malai `Timor' bastante evidente).
Ancião timorense
Foto de Celina Silva

As ligações entre comunidades em Timor-Leste e no Sudoeste das Molucas mantiveram-se mais directamente até tempos relativamente recentes. Alianças formais tradicionais, por exemplo, foram mantidas entre os governantes tradicionais de Kísar e Baucau até perto de meados deste século, mas acabaram por ser quebradas pelos portugueses. Também é verdade que laços de comércio tradicional foram mantidos até mais recentemente ainda, particularmente com comerciantes que falavam tétum de Leti e de Luang que se sabia visitarem Timor-Leste.» (A tradução do inglês é minha.)

Lendas na língua de Léti que mencionam esta ligação a Timor (Malai), e a sua análise antropológica e linguística, podem ser consultadas no livro de Aone van Engelenhoven "Leti, a language of Southwest Maluku" (2004), por exemplo nas págs 328, 329, 398.

Os dados destes autores relativos à antroponímia parecem ocorrer também entre os fatalucos da Ponta Leste de Timor, conheço uma moça de lá, de uma família "ratu" (da nobreza), cujo nome tradicional (o do knua, não o dos documentos nem o "nome de estima" de casa) é Jar Malai. Na segunda parte do "Léxico Fataluco-Português" do Padre Alfonso Nacher, publicado na revista do Instituto Nacional de Linguística (2004), na pág. 122 pode ver-se que nesta língua a palavra "malai" pode significar "estrangeiro" mas também "liurai" (rei).

Referências: http://groups.yahoo.com/group/east-timor-studies/message/3724


(Texto extraído do blog Direto de Timor-Leste e pode ser acessado e lido no original no seguinte link:
http://timorlorosaeceara.blogspot.com/2010/07/malai-malai.html)

Sobre o lexema 'malae' - 1

A palavra malae, variando com malai, amplamente usada Timor (na área linguística leste-timorense), possui como significado principal 'estrangeiro', ou de maneira pejorativa 'gringo', já que em situações formais caso o falante tetumófono deseja se referir a tal conceito se utiliza do composto rai liur. Atualmente, o lexema malae está limitado a grupos sociolinguísticos específicos, possuindo frequência maior entre a faixa etária mais nova (- 20 anos) e nos adultos a frequência alta está limitada a indivíduos com baixa escolaridade, já que usar malae para chamar alguma pessoa pode parecer uma atitude grosseira ou desrespeitosa.

Já a origem do lexema  malae é um tanto controverso, há duas teorias principais: uma que se baseia no relativo isolamento de Timor e seu contato predominante com indivíduos malaios, daí a referência a 'malaio' como estrangeiros em geral; outra argumenta a favor de que o lexema vem de malai nome dado a 'Timor' pelos nativos vizinhos e não possui ligação com malaio.

Assim, no próximo post, Sobre o lexema 'malae' - 2 (este post já está disponível para leitura no link
http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2011/08/conforme-comentei-no-post-anterior.html),
eu reproduzirei o texto do prof. Cesar Cavalcante do blog Direto de Timor-Leste (Timor Lorosae Ceará), que se baseou na pesquisa feita por João Paulo Esperança. Até lá!