No post anterior, A Língua Portuguesa na Indonésia
prometi reproduzir o texto de autoria dos padres Gregorius Olapito Wuwur e Paulus Tolang sobre a situação da língua portuguesa na ilha de Flores. Este texto, publicado em Boletim de Estudos Crioulos. Suplemento de Papia, n°1, 1994, Brasilia, está disponível no endereço eletrônico:
Ainda, o site nos oferece a informação:
"O padre Gregorius Olapito Wuwur SVD (Góris), natural dos arredores de Larantuka, deu algumas informações sobre os resquícios de português ainda encontráveis na ilha de Flores, sobretudo em Larantuka e Maumere (Sikka). Trata-se basicamente de reminiscências lexicais, muitas delas relacionadas com o catolicismo. A língua de Gregorius é o lamahólot, e é nela que são usados esses itens lexicais. O padre Paulus Tolang também ajudou com seu depoimento. Ele é da ilha de Alor onde, segundo seu depoimento, se falam 54 línguas. A sua língua materna é o snáing".
Segue o texto integral Resquicios de Portugues na ilha de Flores (Indonesia) de Pe. Gregorius Olapito Wuwur e Pe. Paulus Tolang:
1. Introdução
No ano de 1512 os portugueses chegaram à Indonésia e começaram a colonização. Mas a colonização dos portugueses na Indonésia durou pouco tempo porque os holandeses os expulsaram. Os portugueses chegaram na Indonésia por Jakarta - Makasar - Ternate e Tidore (nas Molucas). Depois disso, eles foram para a região de Flores (Solor, Larantuka e Maumere) e Timor. Eles ficaram nesta região muito tempo, mas depois o rei Hassan Hudin com os muçulmanos, de Makasar, os expulsaram, e eles foram para Oecusse (Timor). De Oecusse eles foram para Dili (Timor Leste). Por isso, até hoje existem algumas palavras portuguesas ainda em uso na região.
2. Palavras portuguesas na língua indonésia
Só umas poucas palavras entraram na língua indonésia. Por exemplo:
bangku 'banco'
bibliotek 'biblioteca'
gereja 'igreja'
jendela 'janela'
kapela 'capela'
katedral 'catedral'
meja 'mesa'
minggu 'domingo'
paroki 'paróquia'
pasear 'passear'
3. Expressões portuguesas usadas na região de Larantuka e Maumere (em lamahólot e snáing):
a. Dias da semana (usados até hoje):
Segunda-fera, tersa-fera, kwarta-fera, kinta-fera, sesta-fera, sábadu, domingo.
b. Nomes próprios:
Da Silfa, Da Gomes, Joanes Ribéra, Pârera, Da Cuña, Da Lopez, Carvalo, De Rosari, De Ornai, Rita.
c. Relação familiar:
Tio/tia, cuñadu/cuñada, pa (pai), ma (mãe), nina (menina), siñu Da Gomes (senhorzinho Gomes, no sentido de pequeno ou de carinho), nina Da Gomes (senhorita Gomes, no mesmo sentido).
d. Catolicismo:
Prosesi (procissão), Reña Rosari (santa padroeira de Larantuka), Tuang Mâ (Nossa Senhora), Tuang Deo (Deus), San Domingu, San Juan, konféria (confraria), gereja (igreja), katedral, kapela, paroki, cruz, promesa, kristang (cristão), missa, paji (padre), tuang paji (teu padre, senhor padre).
e. Termos do dia-a-dia:
pasear, jandela, meja, bangku, kadéra, garfu, sâpátu, almari (armário), sem (sem), nyora (senhora), statua (estátua), berok (barco), minyoka (minhoca), redaku, sândál (sandália), ose (você), senyor (senhor: para pessoas que têm autoridade ou para os mais velhos), espada, kamija (camisa), mamonti (prato cheio, como um "monte"), tésta.
Em Timor Leste, muitas pessoas usam a língua portuguesa na conversação do dia-a-dia. Aproximadamente 50% das palavras são portuguesas, mas misturadas com palavras do tetum (língua da região). Mas, na ilha de Flores, só na região de Larantuka e Maumere ainda se usam palavras portuguesas. Especificamente em Larantuka, o grupo da Konféria sempre usa a língua portuguesa nas orações e no seu boletim.
N. da R:
Para mais informações sobre a região, ver:
a) GUISAN, Pierre (1992). Línguas em contato no sudeste asiático: o caso do kristang. Diss. mestrado, UFRJ, p. 23-28.
b) BAXTER, Alan (1990). Notes on the creole Portuguese of Bidau, East Timor. Journal of Pidgin and Creole Languages 5,1.1-38.
P.S.
Recomendo também a leitura de uma postagem mais recente sobre os crioulos portugueses de Batávia e Tugu, Indonésia, que pode ser acessada no link: http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2013/04/os-crioulos-portugueses-de-batavia-e.html.
P.S.
Recomendo também a leitura de uma postagem mais recente sobre os crioulos portugueses de Batávia e Tugu, Indonésia, que pode ser acessada no link: http://easttimorlinguistics.blogspot.com.br/2013/04/os-crioulos-portugueses-de-batavia-e.html.
2 comments:
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Cabe a todos nós que falamos português incentivar o ensino e estudo do português na Ilha de Flores e demais comunidades que tenham ainda resquícios da cultura portuguêsa. Claor que cabe aos governos de cada país, mas isto não exclui a nossa colaboração individual. Lembre-se: Pela lingua se criam laços comerciais importantes, além dos culturais.
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