Thursday, April 29, 2010

Reestruturação gramatical e as línguas de Timor Leste


As línguas de Timor Leste, além de mal descritas, também apresentam problemas em relação a suas origens e os processos de mudança linguística que sofreram. Muitas vezes são referidas como crioulos (Ethnologue 2009) e até pidgins (Hagège 2002 apud Hajek 2007), e os processos de mudança linguística como 'processo de crioulização' (Hull 2001). Em um trabalho recente, que apresenta um resultado preliminar de minhas pesquisas sobre o contato de línguas em território leste-timorense (Albuquerque 2010), há evidências suficientes para não usar tais termos citados acima, assim como se argumentar a favor da reestruturação parcial de algumas línguas de Timor Leste.

Dois modelos teóricos que são aplicáveis, em um primeiro momento, às línguas de Timor Leste são o de 'aquisição não-nativa' de McWhorter (2007) e o já mencionado 'reestruturação parcial' de Holm (2004). Mas, no entanto, exsitem poucos dados sobre a sócio-história dessas línguas, assim como poucas são as descrições linguísticas disponíveis.

Atualmente, debruço-me sobre este problema, procurando informações sobre a sócio-história das línguas de Timor Leste e também dados linguísticos para verificar nos contatos possíveis adstratos, superestratos e substratos e suas respectivas influências uns nos outros.  

Referências:

Albuquerque, D. B. Contatos lingüísticos em Timor Leste: mudanças e reestruturação gramatical. Comunicação apresentada ao VI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares, Salvador, 2010.

Hagège, C. 2002. Morte E Rinascita Delle Lingue. Milão: Feltrinelli.

Hajek, J. 2007. Language Contact and Convergence in East Timor: The Case of Tetun Dili”. In A. Aikhenvald & R. Dixon (eds.). Grammars in Contact: A Cross-Linguistic Typology, p. 163-178. Nova York: Oxford University Press.

Holm, J. 2004. Languages in Contact. The Partial Restructuring of Vernaculars. Cambridge: CUP.

Hull, G. 2001. A Morphological Overview of the Timoric Sprachbund. Studies in Language and Culture of East Timor 4: 98-205, 2001.

Lewis, P. (ed.). Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas: SIL International, 2009. Versão online: http://www.ethnologue.com/

Mcwhorter, J. 2007. Language Interrupted: Signs of Non-Native Acquisition in Standard Language Grammars. Nova York: Oxford University Press.

Tuesday, April 20, 2010

Um blog de Linguística Cognitiva


Neste post, tenho objetivo de divulgar um novo blog de interesse da comunidade acadêmica, especialmente aos linguistas que acompanham este nosso blog de Linguística de Timor Leste.

O blog chama-se Cognitiva na Veia e é gerenciado pelo linguista Paulo Jefferson Pilar, doutorando da Universidade de São Paulo - USP, e o link é o que segue:
http://www.cognitivanaveia.blogspot.com/.

Fico muito feliz por essa iniciativa que, em minha opinião, deveria ser mais comum em nosso país, assim como nas diferentes sub-áreas da pesquisa em linguística. A minha postura em relação ao conhecimento é que este deveria ser divulgado e de fácil acesso para um grande número de pessoas. Isto, porém, não vem acontecendo, já que é cada vez mais comum a prática de concentração de conhecimento nas mãos de poucos e também outra prática nociva é a retenção de material e informação.

Então, ficam aqui meus agradecimentos ao linguista Paulo, juntamente com minhas congratulações e disponibilidade a esta bela iniciativa!
  

Monday, April 19, 2010

Equívocos e hipocrisias em abordagens de outras culturas!!!


Em um post recente sobre o programa Globo Ecologia ter Timor Leste como seu tema mencionei uma entrevista do repórter e comentei também sobre o despreparo e o desconhecimento que ronda a televisão e outros meios midiáticos.
(http://easttimorlinguistics.blogspot.com/2010/04/programa-globo-ecologia-em-timor-leste.html)   

Em um comentário a esse post, uma visitante de nosso blog tocou em uma questão interessante: como se aborda uma outra cultura. Ela fez o seguinte comentário (que reproduzo com sua autorização, caso não seja possível e queira retirar tal comentário, por favor, me avise):
   
São cada vez mais comuns, expressões como: “É uma história muito bonita, uma lenda, muito interessante, que revela uma cultura muito forte. ” ou “É um país pequeno, mas muito rico culturalmente”. Questiona-se, em princípio, se um território que se autoidentifica como Nação, seja ela qual for, tem culturas mais fortes e mais ricas. Se há intenção de elevar a Nação em paridade com outras, isto não ocorre, visto que dá margem à interpretação que possam existir culturas fracas e pobres.  

Além de ter sido mencionado o problema de se elevar uma cultura a um status superior, o que leva ao equívoco de se pensar que há culturas que sejam inferiores,  há outros problemas que considero sérios em relação a tal tipo de comentário e-ou abordagem de uma outra cultura. Entre eles menciono a hipocrisia que procura mascarar as misérias do mundo, no caso de Timor Leste a "cultura rica" está definhando por causa de disputas internas e pela desastrosa atuação internacional que é considerada como a salvadora de Timor Leste. É claro que a ajuda internacional de algumas entidades propiciou o desenvolvimento do país, mas atualmente ocorre o que eu chamo de elogio à pobreza: diversos estrangeiros que ganham salários milionários são elevados à imagem de verdadeiros heróis de Timor Leste simplesmente pelo fato de sua posição privilegiada social e financeiramente. Sem mencionar que muitos funcionários estrangeiros com esses salários milionários estimulam a economia do país (eu mesmo no período de 2008 e 2009 que morei em Timor Leste vi muito!!!) investindo nas pricinpais áreas do desenvolvimento econômico: boates, bebidas e prostituição!!!! Então, se a população leste-timorense é educada com o estrangeiro simplesmente o faz pelo fato de querer sair da pobreza que o país se encontra, mas isto é mascarado através de discursos hipócritas.

Ainda, tenho algumas palavras sobre a "cultura rica" de Timor Leste, que nada mais é do que um conjunto de traços da cultura material e imaterial de origem Austronésia que se encontra presente nas ilhas vizinhas, principalmente às pertencentes a Indonésia, como Larantuka, Molucas etc., e que possui ligeiras modificações devido ao fato de algumas ilhas terem sido povoados em períodos distintos, assim como umas apresentam ainda uma presença de origem papuásica e outras não. Como mencionei acima, tal cultura vem se perdendo por um conjunto de fatores (não culpo apenas a política internacional, já que a própria população nativa também é culpado). Termino este post citando o livro da antropóloga E. Traube (1986) que viveu entre os Mambae e analisou os rituais desse povo leste-timorense no início da década de 80 do século XX; naquela época ela chamou atenção, no prefácio de seu livro, para o fato de alguns povos já terem perdido seus traços culturais, pois queriam se tornar "civilizados" ou "urbanizados", como é o caso de Manatuto.

Para todo este problema não tenho uma solução, pois acho que não há e não depende somente de mim. O que venho deixar aqui registrado são alguns equívocos e a hipocrisia mencionados e me posicionar contra eles, fornecendo como uma solução parcial para isso que as pessoas sigam somente o bom senso! O que já é pedir demais...

Referência:

Traube, E. 1986. Cosmology and Social Life. Ritual Exchange among the Mambai of East Timor. Chicago: University of Chicago Press.  


Sunday, April 18, 2010

Palavras iniciais sobre o status do Galolen no século XIX


A língua Tétum sempre teve destaque na historiografia portuguesa a respeito de Timor Leste, tanto através de referências diretas, quanto de referências indiretas. Muitas dessas referências à língua, aos reis tetumófonos - como o rei de WeHali e o rei de Luca - , e aos reinos de Servião e Belos podem ser achados na coletânea de Artur Basílio de Sá, chamada Documetação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente (1991-1996), em 12 volumes.  

Quando os portugueses foram expulsos de Lifau estabeleceram-se em Dili, mas também houve o estabelecimento de colégios católicos no atual distrito de Manatuto cuja língua Galolen é a língua materna predominate. Sá (1961) lista uma série de publicações do Pe. Manuel Maria Alves da Silva, datadas entre os anos de 1888 e 1905, que visavam ensinar a língua Galolen para os falantes de outras línguas, assim como ensinar a língua portuguesa para os falantes de Galolen.

Esse fato histórico é fundamental para se compreender melhor a natureza dos contatos linguísticos em Timor Leste, já que um dos argumentos sócio-históricos utilizados para uma suposta crioulização, ou pidgnização, da língua Tétum foi sua eleição pela administração portuguesa e pela igreja católica como língua franca. Esse argumento, então, prova-se falho, já que tal processo ocorreu também com a língua Galolen e não gerou nenhuma variedade de lingua franca, nem variedade crioula. Deve-se, desta maneira, recorrer a outros fatores sócio-históricos e anteriores ao comentado, como já fez Thomaz (2002), que em minha opinião até a atualidade apresentou os argumentos mais sólidos para a ascensão da língua Tétum como língua franca, entre eles a documentação historiográfica portuguesa, algumas evidências linguísticas e estudos toponímicos.

Ainda, recentemente apresentei argumentos de natureza linguística, em Albuquerque (2010), sobre a natureza das mudanças linguísticas em Timor Leste. Devido ao contato intenso entre algumas línguas leste-timorense, há entre estas um grupo que sofreu uma reestruturação gramatical, como o Mambae, Tokodede e o Tétum-Praça.

Com o que comentei brevemente, podemos chegar a uma conclusão: há muito a ser estudado sobre as questões a respeito do contato de línguas em Timor Leste.

Referências:

Albuquerque, D. B. Contatos lingüísticos em Timor Leste: mudanças e reestruturação gramatical. Comunicação apresentada ao VI Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares, Salvador, 2010.

Sa, A. B. 1961. Textos em teto da literatura oral timorense. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar.
_____. 1991-1996. Documentação para a História das Missões do Padroado Português do Oriente. Fundação Oriente/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, vol. 1-12.

Thomaz, L. F. 2002. Babel Loro Sa’e: O Problema Lingüístico de Timor Leste. Lisboa: Instituto Camões.

Saturday, April 17, 2010

Programa Globo Ecologia em Timor Leste

O programa da rede globo, chamado Globo Ecologia, que vai ao ar todo sábado às 06:50h teve neste sábado, 17 de Abril, o tema Timor Leste. 

O repórter do programa, Pablo de Moura, foi entrevistado pelo sítio Zine Cultural e o link da entrevista é o seguinte: http://www.zinecultural.com/zine/noticias/noticias.php?noticia=7696. Na entrevista, o repórter falou informações básicas sobre a cultura leste-timorense, como o mito de origem da ilha, que tem como base o crocodilo, chamado às vezes de lafaek ai-knanoik 'lenda do crocodilo'. Ainda, o repórter falou sobre a biodiversidade, a importância da igreja católica e mantém a 'crença popular' de achar que Timor Leste é repleto de diferentes dialetos, cerca de 30 deles, quando na realidade o número encontra-se entre 16 e 18 línguas, como já foi comentado em um dos posts iniciais deste blog:

A iniciativa do programa e do repórter são louváveis, pois ajuda a divulgar Timor Leste para o mundo, tanto de forma acadêmica - já que o repórter chama atenção para questões relativas à biodiversidade, à história, à cultura e religião leste-timorense - como de forma popular, pelo fato das belezas do país e da recepção dos timorenses aos estrangeiros serem amigáveis e convidativas ao turismo (na minha opinião uma área que deveria ter mais investimento do governo, pois é a que promete arrecadar mais receita para os cofres públicos e também gerar empregos e maior renda para a população local).

Lamentável, porém, é este tipo de iniciativa ser única e pouco produtiva. O repórter que passou aproximadamente 30 dias em Timor Leste não possui um conhecimento acadêmico exaustivo a respeito de Timor Leste, conforme foi comentado acima, além do que uma série de pesquisadores que necessitam de auxílios para pesquisa em Timor Leste não o recebem dos órgãos federais, nem da iniciativa privada, e quando recebem, mal conseguem cobrir os gastos da pesquisa com a verba recebida. 

Fica aqui registrado, então, meu elogio e, ao mesmo tempo, minha crítica em relação à postura de certas empresas, que se realmente desejassem ajudar algum país o faria de forma diferente, auxiliando pesquisadores que pudessem contribuir de forma efetiva aos diversos setores interessados: o mundo acadêmico, seus investidores, seu objeto de estudo e o conhecimento em si (que nenhum dinheiro pode comprar).  

Friday, April 09, 2010

We have achieved more than 1000 visits!!!

I thank you all visitors that colaborate reading the posts writen in this blog!

We had more than 1000 visits from 47 different countries. I hope that I can count on you all to continue your constant visits!!! And remember that this is your space too, due to the fact that I accept suggestions, all of you can find me on my e-mail: albuquerque00@hotmail.com and you can post your commets as well.

If you have any problem with Portuguese language you can check ConveyThis Translator at the middle left of this blog.

Thank you all again and stay put for my future posts!!!
      

Mais de 1000 visitas!!!

Este post é para agradecer a todos aqueles que já visitaram o blog e especialmente para os professores e pesquisadores que o acessam constantemente.

Nosso blog alcançou o número de mais de 1000 visitas de 47 países diferentes e eu somente tenho a agradecer a todos vocês!!!

Espero que possa contar com a visita de todos vocês, assim como na divulgação deste blog, que é um espaço para discussão e divulgação dos estudos leste-timorenses.

Continuem visitando que futuramente escreverei mais posts interessantes e com mais informações sobre as línguas de Timor Leste!