No VII Encontro da ABECS em conjunto com o XIII Encontro da ACBLPE, que ocorreu de 30 de Julho a 03 de agosto deste ano, em 2012, na USP, em São Paulo, apresentei a comunicação intitulada Alguns
traços de crioulos portugueses asiáticos no Português de Timor-Leste que consta no caderno de resumos do evento, podendo ser baixado no link: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/site/abecs/caderno_abecs_acblpe.pdf.
Para os interessados na leitura segue o resumo, que em breve será publicado em formato de artigo:
"A variedade da língua portuguesa falada em
Timor-Leste até tempos recentes não havia despertado interesse dos
pesquisadores. A primeira referência ao português falado em Timor-Leste data
somente do início do século XX, com a publicação da obra clássica do filólogo
português José Leite de Vasconcelos: Esquisse
d’une dialectologie portugaise (1901). No decorrer deste mesmo século,
poucos foram os trabalhos que procuraram analisar essa variedade do português
e, ainda, no escasso número de publicações existentes é possível verificar uma
clara confusão entre a variedade do português falada em Timor, chamada aqui
somente de Português de Timor-Leste (PTL), e o crioulo de base lexical portuguesa
formado neste mesmo país, especificamente em um bairro da capital, chamado de
Bidau, daí o nome de Crioulo Português de Bidau (CPB), conforme analisado por
Baxter (1990). A distinção entre a variedade da língua portuguesa e a variedade
crioula veio somente a ser apontada em Thomaz (1974, 1985). Nos últimos anos,
alguns linguistas vêm se dedicando ao estudo do PTL, apresentando trabalhos
significativos como: Carvalho (2001), que pesquisou a antroponímica leste-timorense
(2001) e elaborou um corpus para o
estudo do léxico do PTL (Carvalho, 2002/2003);
Brito (2002, 2004) elaborou uma série de artigos sobre o PTL, abordando de
maneira introdutória questões de sociolinguística e política linguística; em Brito
e Corte-Real (2002) há uma análise das peculiaridades do PTL no nível
fonético-fonológico; Albuquerque (2010) realizou um estudo introdutório sobre a
prosódia do PTL, seguido por um panorama linguístico do PTL (Albuquerque, 2011a)
e uma análise léxico-semântica desta variedade (Albuquerque, 2011b).
A presente comunicação identificará traços de crioulos
portugueses asiáticos, entre eles: Crioulo Português de Malaca (CPMal) (Baxter,
1988), Crioulo Português de Macau (CPMac) (Batalha, 1958; Baxter, 2009), o Indo-português
de Korlai (Clements, 1996) e o Indo-português de Diu (Cardoso, 2009),
existentes no PTL. Entre esses traços, destacam-se: na fonologia, as consoantes
palatais realizadas como seus correlatos alveolares; na morfossintaxe, o verbo ‘poder’
em sua forma pode, funcionando como
modal e sua negação como mpode, nupode; os verbos ‘ir’ e ‘vir’, nas
formas vai e vem, com funções de modo/aspecto e marcador de direção; a variação
de forma do pronome de 3ª pessoa do singular e ~ el ~ ele; o verbo ter, na forma tem, como
verbo existencial; o lexema ‘gente’ empregado com função de pronome indefinido
‘alguém’ e pronome pessoal ‘eu’; ‘já’ como marcador de aspecto perfectivo. O
objetivo da identificação de características em comum entre crioulos
portugueses asiáticos e o PTL é utilizá-las como evidências que corroborem para
uma hipótese sobre origem do PTL ter se dado a partir do CPB que ao conviver em
situações multilíngues com o português europeu assimilou diversos de seus
elementos, juntamente com outras variedades crioulas que tiveram influência em
Timor, principalmente o CPMal e CPMac."
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