As publicações de natureza lingüística sobre Timor Leste como um todo, ou sobre alguma língua específica, ou estudos comparativos etc. são poucos, ou quase nulos, em língua portuguesa. Podemos dividir em duas grandes partes: uma primeira que é uma basicamente estudos de origem lexicográfica da tradição portuguesa - que data da segunda metade do século XIX e início do XX - e a segunda que consiste em alguns estudos lingüísticos mais recentes realizados por lingüistas portugueses e brasileiros.
O pioneiro foi Sebastião da Silva, que era um padre português, que publicou um dicionário Português-Tétum (Silva, 1889). Outro padre português, o padre Manuel da Silva, publicou uma gramática do Galolen (Silva, 1900) e um dicionário Português-Galolen (Silva, 1905). Ainda, Raphael das Dores continuou o trabalho do padre Sebastião da Silva e publicou um dicionário Tétum-Português no ano de 1907.
Já o início do século XX foi marcado pelo forte presença portuguesa nos estudos sobre a língua Tétum. O padre Manuel Mendes Laranjeira publicou sua Cartilha Tétum, em 1916 (Lranjeira, 1916); Júlio Garcêz de Lencastre publicou um trabalho intitulado Algumas regras gramaticais da língua tétum e vocabulário, em 1929 (Lencastre, 1929); e outro padre, chamado Abílio Fernandes, publicou outra obra didática sobre o tétum o Método prático para aprender o tétum, em 1937 (Fernandes, 1964).
Atualmente, destaca-se os trabalhos do lingüista português João Paulo Esperança e da lingüista brasileira Regina H. P. Brito. Esperança em sua obra Estudos de Lingüística Timosense (Esperança, 2001) possui uma coletânea de artigos sobre análise da língua Tétum, sobre o Português Crioulo de Bidau, sobre questões de política lingüistica em Timor Leste e sobre a língua portuguesa em Timor Leste. Outro destaque que esse trabalho merece é por ter sido disponibilizado pelo autor no seguinte endereço http://www.freewebs.com/jpesperanca/.
Brito possui diversos artigos espalhados em periódicos, mas que vários são de acesso aberto e podem ser encontrados na internet. Entre eles merecem destaque os seguintes artigos: Brito (2002, 2004) analisa algumas questões sobre o português em Timor Leste; Brito e Bastos (2007) avaliam algumas questões de política lingüística em Timor Leste, disponível em
http://www.acoalfaplp.net/0003acoalfaplp/0003acoalfaplp_textos/5cultgepalops/18he_m_o_b_b_tar_des_ex_ling_timor_leste.pdf ; Brito e Corte-Real (2002) realizam uma análise fonológica da variedade do Português de Timor Leste.
Eu, o autor deste blog sobre lingüística de Timor Leste, venho recentemente me interessando por questões de lingüística timorense após passar os anos de 2008-2009 como professor de Língua Portuguesa na UNTL (Universidade Nacional Timor Lorosa'e) em Díli, capital de Timor Leste. Estou realizando as seguintes pesquisas: lingüística histórica e classificação interna das línguas timorenses de origem austronésica, descrição de algumas das línguas austronésicas, e o contato de línguas na ilha de Timor.
Em breve disponibilizarei meus artigos que já estão publicados em alguns periódicos de acesso aberto, colocarei seus respectivos links e farei também um breve resumo deles.
Referências:
BRITO, R. H. P. “Reflexões sobre o português em Timor-Leste”. Revista Mackenzie Educação, Arte e História da Cultura, São Paulo, v. 2, p. 87-95, 2002.
________. “A língua adormecida: o caso Timor-Leste”. In: BASTOS, N. M. (Org.) Língua Portuguesa em calidoscópio. São Paulo: Educ/Fapesp. p. 319-329. 2004.
BRITO, R. H. P. & BASTOS, N. M. B. “"Hello, mister", "Obrigadu barak" e "boa tarde": desafios da expressão lingüística em Timor-Leste”. Revista ACOALFAplp: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua portuguesa, São Paulo, ano 2, n. 3, 2007.
BRITO, R. H. P. & CORTE-REAL, B. Algumas especificidades fonético-fonológicas da variante do português timorense. VIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COMUNICACIÓN SOCIAL, 2002. Santiago de Cuba. Actas, v. 1. p. 147-151.
DORES, R. Diccionario teto-português. Lisboa: Imprensa Nacional, 1907.
FERNANDES, A. Método prático para aprender o tétum. Macau/Díli: Comando Territorial Independente de Timor, 1964.
LARANJEIRA, M. M. Cartilha Tétum. Díli: Imprensa Nacional, 1916.
LENCASTRE, J. G. “Algumas regras gramaticais da língua tétum e vocabulário”. In: Boletim da Agência Geral das Colônias 5.54:82-92, 1929.
SÁ, A. B. “Notas sobre linguistica timorense: Sistema de representação fonética”. In: Estudos Coloniais 3:39-60, 1952.
SILVA, M. M. A. Noções da grammatica galoli, dialecto de Timor. Macau: Typographia do Seminário de São José, 1900.
________. Diccionario portuguez-galoli. Macau: Typographia Mercantil, 1905.
SILVA, S. M. A. Diccionario Portuguêz-Tétum. Macau: Typographia do Seminario, 1889.
1 comment:
Professor e amigo David Albuquerque, parabéns pelo Blog, perfeito, até o momento o melhor de todos os que eu já vi sobre Timor-Leste. É realmente muito interessante como um país tão pequeno possui tantas línguas, havendo diferenças entre linguagens em lugares cuja distância é de poucos quilômetros, ou até mesmo na mesma localidade.
Onde trabalhei em ainaro, apesar de hoje o tétun ser a principal língua veicular, encontra-se forte o uso do: Bunac, mambai e outras.
Murilo
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