As consoantes palatais não fazem parte do inventário fonológico das línguas de origem austronésicas. Nas línguas de Timor Leste, elas são de origem lusófona e entraram somente através dos empréstimos lexicais para o Tetun Prasa, e, por sua vez, do Tetun Prasa para as demais línguas.
Em uma análise fonológica recente que fiz do Tetun, seguindo uma abordagem ecolinguística (Albuquerque, em preparação), verifiquei que essas consoantes palatais, a saber: ʃ, ʒ, nh e lh (não consegui formatar as duas últimas fontes do IPA para o blog, por isto represento pela grafia), não são produtivas na língua, não aparecendo em nenhuma palavra nativa, assim como não são realizadas pelo falante leste-timorense.
Os fones palatais, como classifico-os, ʃ, ʒ, nh e lh são realizados /s/, /z/, /n/ e /l/ respectivamente. Dessa forma, limitam-se ao léxico lusófono emprestado e relativo a conceitos culturais e modernos exteriores à cultura tetumófona, como em vocábulos:
xá, xapeu, xave;
janela, justisa, jornál;
bañu, señór, viziñu;
evanjellu, jullu, relijiaun.
Logo, não há evidências linguísticas suficientes para classificá-los como fonemas que fazem parte do inventário fonológico da língua Tetun, em sua variedade Tetun Prasa, ou Tetun Dili, como vem sendo feito na recente tradição gramatical do Tetun Prasa: Hull (2002), Hull e Eccles (2001) e Williams-van Klinken, Hajek e Nordlinger (2002).
Referências:
ALBUQUERQUE, D. B. (em preparação). Ecofonologia da língua Tetun: um caso de contato e adaptação.
HULL, G. 2002. Dili Tetum. Sydney/Dili: Sebastião Aparício da Silva Project/Instituto Nacional de Linguística/Universidade Nacional de Timor Lorosa’e.
HULL, G.; ECCLES, L. 2001. Tetum Reference Grammar. Sydney/Dili: Sebastião Aparício da Silva Project/Instituto Nacional de Linguística/Universidade Nacional de Timor Lorosa’e, 2001. (Tradução para o português: Gramática da Língua Tétum. Lisboa: LIDEL, 2004).
WILLIAMS-VAN KLINKEN, C., HAJEK, J. e NORDLINGER, R. Tetun Dili: A grammar of an East Timorese language. Canberra: Pacific Linguistics, 2002.